Brasil deve aumentar embarques de carne bovina à China

Brasil deve aumentar embarques de carne bovina à China

Embargo temporário afetou desempenho das exportações brasileiras em março, mas projeção para o ano é de crescimento

Patrícia Feiten

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Motivada pela ocorrência de um caso do mal da vaca louca no Pará, a suspensão dos embarques de carne bovina para a China de 23 de fevereiro a 23 de março impactou o desempenho das exportações totais do produto feitas pelo Brasil no período. Com o fim do embargo, porém, fontes do setor agropecuário preveem uma aceleração nos negócios com o país asiático nos próximos meses. A expectativa é que o setor encerre o ano com crescimento das vendas externas da proteína animal em relação ao desempenho de 2022.

Em março, as exportações de carne bovina brasileira (considerando o produto in natura e processado) caíram 20% em volume na comparação com o mesmo mês do ano passado, com um total de 162.814 toneladas. Em termos financeiros, o resultado foi ainda mais negativo: a receita despencou 37%, para 709,4 milhões de dólares, de acordo com dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Nos próximos meses, os dados da balança comercial deverão refletir a retomada dos embarques para a China, segundo o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). “Acho que a exportação vai ultrapassar o patamar anterior (ao embargo), porque nós vínhamos crescendo. O que tivemos foi um contratempo que atrapalhou um processo natural”, afirma.

Na mesma linha, o coordenador de Inteligência Comercial da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Felipe Spaniol, lembra que, paralelamente à retomada das compras, a China habilitou quatro novas plantas frigoríficas brasileiras. Com isso, já são 41 unidades aptas a exportar àquele mercado. O aumento da renda per capita da população chinesa, afirma Spaniol, vem impulsionando o consumo da proteína animal no país asiático. “Temos outros fatores que jogam a nosso favor, como a diminuição do rebanho dos Estados Unidos e da Argentina, concorrentes diretos do Brasil na exportação para a China”, destaca.

No ano passado, a China absorveu 8 milhões de toneladas de carne bovina do Brasil, 60% de toda o volume da proteína embarcado pelo país. No primeiro trimestre deste ano, apesar da interrupção temporária de suas importações, o mercado chinês se manteve como o principal destino do produto brasileira, tendo adquirido 245.632 toneladas e gerado receitas de 1,557 bilhão de dólares no período (os números são, respectivamente, 7,1% e 28,2% inferiores aos do mesmo período de 2022).

Segundo Spaniol, o ágio (sobrepreço) pago pelo animal padrão enviado à China – bovinos abatidos com até 30 meses – vem caindo, o que reforça as expectativas de aumento dos volumes exportados. Por outro lado, há uma pressão maior para redução do preço da arroba do boi. “(No acumulado do ano), isso pode nos trazer um resultado de aumento em volume exportado, mas não necessariamente um aumento na receita. Essa é uma preocupação que temos e estamos monitorando”, pondera Spaniol.

USDA projeta crescimento

A importância cada vez maior do mercado global para o setor de carnes brasileiro é destacada em relatórios divulgados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) no início de março e na terça-feira (11). Com base na reabertura chinesa e na conquista de novos mercados nos últimos meses, como México, Turquia e Indonésia, o órgão estima que os embarques da proteína brasileira avancem 4% neste ano, atingindo 3,012 milhões de toneladas equivalentes de carcaça. Para a produção, o USDA prevê um volume 10,57 milhões de toneladas equivalentes de carcaça em 2023, uma expansão de 2,1% frente ao ano passado.

O pecuarista Nivaldo Dzyekanski, presidente do comitê gestor do Programa Carne Angus, da Associação Brasileira de Angus, afirma que a cadeia produtiva está preparada para esse cenário de suprimento. Com base em levantamentos do setor, ele destaca que a produção brasileira terá de aumentar 30% até 2030 para atender à demanda prevista em ambos os mercados doméstico e internacional. “Como vamos fazer isso? Trabalhando em genética, em evolução de conversão alimentar. Nós temos de sustentar esse aumento”, destaca Dzyekanski.

Segundo o pecuarista, o mercado já percebe uma recuperação após a reabertura das exportações para a China. “Os animais ficaram aguardando nos confinamentos ou a pasto. Eles não foram abatidos para consumo (dentro do Brasil), até porque o volume do mercado interno vem sendo atendido normalmente”, explica.

Os negócios no trimestre

De janeiro a março de 2022, o Brasil exportou 498.888 toneladas de carne bovina, 8% a menos que no primeiro trimestre de 2022. As vendas geraram uma receita de 2,255 bilhões de dólares, com queda de 22% na mesma base de comparação


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