Ciclone extratropical inunda e destrói pomares, hortas e estufas

Ciclone extratropical inunda e destrói pomares, hortas e estufas

Produtores familiares do Vale do Caí, do Litoral Norte e da Região Metropolitana de Porto Alegre contabilizam perdas

Correio do Povo

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Os produtores do Litoral Norte e do Vale do Caí foram fortemente atingidos pelo ciclone extratropical que chegou ao Estado na noite da última quinta-feira. As perdas ocorreram principalmente nas pequenas e médias propriedades que vivem da fruticultura e da horticultura. 

Em Maquiné, um dos municípios que registrou o maior volume de perdas no Estado, os danos atingiram a produção de frutas, verduras e legumes. Tanto as cultivadas a céu aberto como as em estufas foram atingidas. “As lavouras foram praticamente destruídas, com perdas que dá para se estimar em 95% com relação ao que foi plantado no inverno”, relatou Volmir Rech, ex-funcionário do sindicato rural do município e voluntário no socorro à população local. A situação foi vivida de perto pelo produtor Ronaldo Boff, que viu suas plantações de couve, cebola e alface sumergirem na chuva e estragarem com o forte vento da noite. “Perdi bastante, bah, foi feia a coisa. Tive lavoura que perdi tudo”, conta.

No Vale do Caí, os estragos atingiram principalmente os pomares de citros do Rio Grande do Sul. Há casos de grandes alagamentos, alguns, inclusive, cobrindo árvores frutíferas completamente carregadas. Em função dos estragos, a prefeitura municipal de Montenegro cancelou a solenidade de abertura da safra 2023 de citros do Rio Grande do Sul, que estava programada para ocorrer justamente ontem na cidade. Conforme a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural, Montenegro concentra a maior área plantada de citros e os melhores índices de produtividade do Estado, com 3,3 mil hectares cultivados, sendo 3 mil hectares destinados a bergamotas, especialmente da variedade Montenegrina. Conforme a assessora da regional sindical da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) no Vale do Caí, Brenda Kehl, agricultores familiares também relatam grande prejuízo no cultivo de hortigranjeiros e na criação de aves. “Recemos imagens de aviário alagado em Maratá”, conta.

O técnico da Emater-RS/Ascar, Enio Todeschini, afirma que a preocupação maior está na previsão de novas precipitações para a próxima semana, após a ocorrência da geada prevista para cair domingo e segunda-feira. “Geada em cima de barro é barro em cima de geada. Com chuva após geada, começa a complicar”, assegurou. O extensionista relata que a região do Caí não teve rompimento de açudes e que os produtores da parte mais baixa do rio Caí seguem com as plantações em boas condições. “Como a chuva foi fraca, não houve amassamento ou quebra nas folhas, mas como o solo está muito molhado, pode acontecer ainda o apodrecimento das plantas”, alertou. 

O ciclone extratropical também foi fortemente sentido em produções de frutas e legumes localizadas na Região Metropolitana de Porto Alegre. Em Viamão, o temporal causou estragos na propriedade Terra Viva Orgânicos, dos produtores agroecológicos Lourenço Silva e Simone Golle, que cultivam morango e hortaliças orgânicas. No local, o casal cultiva 13 mil pés de morangos. Segundo Simone, os ventos fortes danificaram duas estufas que comportam 5 mil mudas da fruta. “Vamos ter que refazer”, disse a agricultora. 
A Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR-RS) informou que não há risco de desabastecimento e reforça que nenhuma das principais vias de escoamento do Estado foi bloqueada. No entanto, alerta para reflexos na quantidade e nos preços de alguns hortigranjeiros comercializados pela Ceasa já na próxima segunda e terça-feira.


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