Do Assentamento Da Quinta para a carta de vinhos do Copacabana Palace

Do Assentamento Da Quinta para a carta de vinhos do Copacabana Palace

Bebida feita a partir uvas cultivadas em Encruzilhada do Sul ganha destaque

Itamar Pelizzaro

Olívio Maran cultiva uvas com base em conhecimentos ancestrais

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A produção de vinhos feita a partir de uvas cultivadas em um assentamento da reforma agrária em Encruzilhada do Sul ganhou o paladar do sommelier do Copacabana Palace e incluiu rótulos gaúchos na carta de vinhos do icônico hotel carioca. O feito passa pelas mãos de Olívio Maran, descendente de italianos nascido em Veranópolis que produz uvas finas no assentamento Da Quinta. Em sociedade com Diogo Durigon, mestre em direito civil-constitucional, a Vinícola Pedras da Quinta usufrui atributos de clima e solo que propiciam produtividade e qualidade para aproveitar o máximo do terroir (qualidades específicas) local.

Antes de cultivar parreirais no assentamento, Olívio trabalhava para a vinícola Casa Valduga, na Serra Gaúcha, guiando seu caminhão para feiras Brasil afora. Um dia, a empresa adquiriu terras em Encruzilhada do Sul e lhe ofereceu a oportunidade de gerenciar a produção de uva. Olívio se mudou e, tempos depois, acabou assentado em um lote de 18 hectares. “Entrei para valer”, conta, relatando que contratou máquinas para limpar o terreno e implantar um parreiral, baseado no conhecimento dos ancestrais que fizeram a cultura prosperar na Serra. Em 2015, já tendo comprado barricas de carvalho, Olívio fez as primeiras garrafas de vinho. “Vi que estava dando certo, com uva de qualidade e pensei: é aqui que vou crescer”, narra.

Olívio vendeu o caminhão e investiu todas as economias no lote. Logo veio a parceria com Diogo, a quem conheceu nos parreirais da Valduga, onde o advogado ia buscar uvas para fazer os próprios vinhos. A produção e o envazamento começaram em 2020, em uma vinícola da Serra Gaúcha. “A produção do Olívio é fantástica, uvas de extrema qualidade”, elogia Diogo. Confiante, a dupla já adquiriu uma área contígua para instalar a própria vinícola, em projeto futuro de enoturismo, estimado em R$ 4,5 milhões.

“Nosso desenho de expansão envolve construir uma cave, espaço para vinificação e armazenamento das barricas, restaurante, loja e uma pequena pousada”, detalha Diogo. Os sócios são cautelosos, investindo apenas capital próprio e planejando cada passo. Olívio aguarda a titulação da área, para dar em garantia em financiamentos bancários. O assentamento Da Quinta foi criado em 1996, com 1.018 hectares e capacidade para 45 famílias, e está na lista de prioridades Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para titulação, o que pode ocorrer ainda no primeiro semestre deste ano.

Enquanto o futuro e os recursos não chegam, o principal olhar é para garantir um produto de alta qualidade, abrir mercados – atualmente a vinícola Pedras da Quinta vende rótulos pelo Instagram e whatsapp – e conquistar melhor infraestrutura rural. O acesso ao Copacabana Palace veio da participação em uma feira de vinhos no ano passado, quando o sommelier do hotel provou e incluiu os rótulos Pedras da Quinta Rare Blend Tannat e Pedras da Quinta Collection Chardonnay na carta de vinhos. A concretização do projeto de Olívio e Diogo depende de energia elétrica trifásica, gargalo que afeta a agricultura familiar no Estado. O Incra já pediu aumento da força à concessionária.

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