Ritmo gaúcho no cooperativismo nacional

Ritmo gaúcho no cooperativismo nacional

Presidente do Sistema Ocergs-Sescoop, Darci Hartmann representará a Região Sul na diretoria da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)

Itamar Pelizzaro

Darci Hartmann: visão para fortalecer gestão e profissionalização de cooperativas

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O presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Darci Pedro Hartmann, vai iniciar, em 26 de março, sua participação como representante da Região Sul na diretoria da Organização das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB). Eleito em fevereiro para o cargo, o gaúcho de Selbach, precocemente lançado ao comando da propriedade familiar e a funções de responsabilidade política, sindical e empresarial, Hartmann amplia sua influência no cooperativismo brasileiro com o norte de ampliar o escopo de atuação para além da representação política. Assim como faz na Ocergs, Hartmann quer ajustar o foco federal para a gestão e a profissionalização das organizações estaduais, o que deve gerar repercussões nos resultados das cooperativas e nas sobras aos associados. Seu mantra é simples e claro:

“Temos que fazer o trabalho andar, dar ritmo e velocidade. O cooperativismo tem pressa, e nós já perdemos muito tempo.”

A cadência pretendida tem lastro em sua biografia. Seu avô imigrou da Alemanha e se instalou em Roca Sales, no Vale do Taquari. De lá, seu pai cavalgou 170 quilômetros para assumir uma área de 25 hectares em Selbach, onde abriu uma clareira para semear meio hectare de milho. Em uma família de 10 irmãos, os Hartmann foram educados para o trabalho. “Com de oito para nove anos, eu já ia junto para a lavoura. Aos 14 anos, meu pai disse: estou velho (ele tinha 48 anos), agora a lavoura é tua”, lembra.

Na adolescência, o trabalho era penoso. Plantava-se para comer. “Meu pai me chamava às cinco e meia da manhã, o boi estava cangado na frente de casa, para ir lavrar. Aprendi a fazer chimia, melado, tirar leite, fazer queijo. Hoje ainda faço torresmo em casa”, narra. Não havia energia elétrica, o milho era semeado com saraquá, quebrado e debulhado a mão, a mandioca levava dois anos para ser colhida. As roupas eram feitas pela mãe. “Quando carneava um porco distribuía para os vizinhos, fritava e botava no porão, para durar até um mês”, conta.

Agricultura no sangue: Hartmann trabalhou na lavoura desde a infância | Foto: Arquivo Pessoal / CP

Em paralelo, ia à escola e concluiu o ginásio aos 16 anos. Ficou cinco anos sem estudar porque não existia colégio perto. Quando pode, completou os estudos, ciente de que não queria ser carregador de sacos ou operador de máquinas da prefeitura. Logo assumiu a secretaria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e viu o destino lhe provocar. “O presidente do sindicato foi morar em Goiás e, com 17 anos e 10 meses, assumi a presidência”, lembra.

A posição lhe deu visibilidade para depois se eleger prefeito de Selbach de 1982 a 1988. Viu que, na política, o compasso de mudanças era lento. Na sequência, presidiu a Cotrisoja por três mandatos (1991- 2000), seguiu para a Cooperjacuí e cumpriu mais um mandato na prefeitura municipal (2000-2003). Voltou às fileiras do cooperativismo na vice-presidência da CCGL, organização com mais de 171 mil associados e unidades especializadas em tecnologias para agropecuária, logística e laticínios. Mantém a posição e acumula o mesmo posto na Terminais Marítimos em Rio Grande (Termasa - Tergrasa). Em janeiro, recebeu a Medalha da 56ª Legislatura da Assembleia Legislativa.

Planejamento e alinhamento

Seu cartão de visitas estampa resultados, inovação, transparência, austeridade, valorização das pessoas, simplicidade e alegria. Esse espírito que será levado à OCB. “Não estou indo lá para ficar fazendo as mesmas coisas. Entendo que a OCB, além da representação, precisa buscar melhorar a gestão e a profissionalização. Temos muitas organizações estaduais com deficiência, duas delas com intervenção”, diz Hartmann.

“Temos que ser indutores do desenvolvimento e da gestão das organizações estaduais, para que elas possam também trabalhar com suas cooperativas. Não saí de Cruz Alta para receber salário, mas para fazer a diferença.”

Um dos desafios é criar uma casa em Brasília que abrigue as organizações estaduais e opere como espaço de reivindicação de pautas. Também quer influir no planejamento e no alinhamento estratégico da OCB. “Para onde queremos ir, o que queremos das organizações estaduais e qual o tempo para trabalhar. Como vamos alinhar a estratégia, quanto tempo vamos precisar, e definir requisitos de formação para dirigentes e superintendentes estaduais. Se entendemos que o cooperativismo tem vasos comunicantes, quando uma cooperativa está mal, todas sentem. Se tivermos organizações estaduais frágeis, como elas vão ajudar, acompanhar, desenvolver as cooperativas?”

Presidente do Sistema Ocergs: "Temos de acompanhar, provocar, fazer todo um trabalho de convencimento para que as cooperativas se consolidem". | Foto: Divulgação CCGL / CP

Hartmann é entusiasta do modelo cooperativista como uma sociedade de pessoas com visão econômica e forte pilar de gestão. “Temos que acompanhar, provocar, fazer todo um trabalho de convencimento para que as cooperativas sejam, do escritório para o mercado, as melhores empresas e, do escritório para o associado, as melhores cooperativas, distribuindo as melhores sobras. Se fizerem isso, elas se consolidam e se perenizam”, argumenta. No Rio Grande do Sul, o setor se perpetua com crescimentos robustos: 14,9% em 2022 e 7% em 2023, perseguindo o alvo do plano RSCOOP R$ 150 Bi de Prosperidade, de faturar R$ 150 bilhões e engajar 4 milhões de associados.

Exemplo em casa

O mandato na OCB será de quatro anos. Aos 72 anos, é casado com Maria Lourdes e pai de Alberto e Sara, que vivem na Alemanha, e de Shana, que toca a propriedade da família em Cruz Alta. A fazenda espelha o espírito do dono para as melhores práticas e resultados: tem 87% da área de grãos irrigada, com objetivo de chegar a 94%. “Difícil alguém colher o que colhemos. Foram 85 sacas de soja, em média, no ano passado, e a meta é de 95 para este ano. Sempre digo à minha filha: a meta é 100 e, se chegar a 100, é 110”, exemplifica.

Para manter a pulsação, Hartmann faz pilates, que o energiza para manter o ritmo e dirigir o próprio carro para vencer semanalmente os 350 quilômetros entre Cruz Alta e Porto Alegre, onde permanece de terças a quintas-feiras para cumprir os compromissos institucionais do Sistema Ocergs. E como dá conta de tudo? “Saber delegar, fazer o que gosta e não sofrer”, indica.

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