Estado pode levar anos para recuperar fertilidade de solo
Processos erosivos ocorreram em diferentes níveis em praticamente todo o território gaúcho
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Enquanto o Rio Grande do Sul tenta contabilizar os prejuízos às colheitas de grãos que estavam em andamento no início das chuvas e enchentes que atingiram o Estado, um grave problema já é possível identificar: a perda de muitos anos de trabalho agronômico do solo gaúcho, com destruição total de camadas cultiváveis em muitas áreas, além da perda de fertilidade em regiões menos impactadas pela erosão. Para os próximos anos, o bom rendimento das safras de grãos dependerá, em boa parte do território, de consideráveis esforços para a recuperação da terra.
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“Em todo o Estado, em grande parte dos municípios, ocorreram processos erosivos, desde os mais aprofundados, com o total carregamento das camadas aráveis até os processos erosivos que carregam a fertilidade, que carregam os fertilizantes. Os solos foram severamente afetados. Isto requer uma atenção muito grande, um trabalho muito grande para recomposição”, diz o diretor técnico da Emater/RS-Ascar, Claudinei Baldissera. Para o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Clima Temperado Giovani Theisen, a cor da enchente do Guaíba, em Porto Alegre, é um indicativo do quanto de terras férteis as águas dos rios do interior do Estado carregaram consigo.
“Pode-se ter uma ideia das perdas pela própria coloração da água da enchente no Guaíba. É laranja, quase que vermelha”, afirma Giovani Theisen.
Em relação ao futuro plantio de grãos, Theisen explica que, nas áreas em que a camada de cultivo, de 30 centímetros a 50 centímetros de profundidade, foi levada pelos rios, o trabalho de recuperação precisará incluir o “plantio de árvores e espécies de cobertura mais rústicas ou pastagens de baixa exigência nutricional, para gradativamente introduzir a pecuária e então recuperar um pouco da capacidade produtiva original”. De acordo com Theisen, “levará anos para recuperar a fertilidade natural. Não é de uma hora para outra”.
A situação da colheita
Baldissera afirma que a Emater ainda precisará de algumas semanas para avaliar o prejuízo do que ainda falta a ser colhido da safra de verão de grãos. “É certo que haverá variação na qualidade do grão e que muitas áreas, certamente, não serão colhidas”. Em levantamento publicado pela instituição no dia 9 de maio, o Estado havia colhido 78% da área plantada com soja, 86% da área do milho, 30% do feijão e pouco mais de 84% do arroz.