Estiagem provoca queda na produção de leite

Estiagem provoca queda na produção de leite

Quebra no milho silagem, principal alimento das vacas, leva produtores gaúchos a reduzir plantéis para equilibrar custos

Nereida Vergara

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As chuvas mal distribuídas, esparsas e muitas vezes pouco volumosas que caracterizam o verão no Rio Grande do Sul, em especial nos últimos três anos, sob os efeitos do fenômeno La Ninã, seguem massacrando a produção leiteira do Estado. Pelo quarto ano consecutivo, o produtor de leite gaúcho ingressa na entressafra - época do ano em que a atividade já registra queda na captação de leite em razão da falta de pastagens - com extrema dificuldade. Há regiões, segundo lideranças dos produtores, onde as lavouras de milho para silagem já apresentam perda irreversível entre 50% e 60%, chegando até 100% em áreas críticas. Como a silagem é a base primordial da alimentação do gado leiteiro, a falta dela é o golpe de misericórdia nos custos das propriedades.

O vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Eugênio Zanetti, que também é coordenador do Conseleite/RS, adverte que se as condições climáticas se mantiverem como estão até o momento as consequências serão piores que nos últimos anos . "Já estamos com mais de 70 municípios em situação de emergência", diz Zanetti, ao observar que os açudes prometidos com os recursos do Avançar RS no ano passado, que por entraves burocráticos não saíram do papel, estão fazendo muita falta.

De acordo com o dirigente, em regiões como as Missões, Central, Fronteira e Noroeste há relatos de queda na captação de até 60% dependendo da propriedade. "Quem consegue manter a alimentação dos animais consegue manter a produção mais ou menos inalterada, só que isso implica em ter condições de bancar os custos", comenta. O custo normal para a produção de um litro de leite, afirma Zanetti, está na ordem dos R$ 2,20, pouco abaixo daquilo que os produtores recebem da indústria. Com a necessidade de complementar a ração das vacas, esse valor cresce em pelo menos 50%.

Marcos Tang, presidente da Associação de Produtores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), concorda com Zanetti quanto à gravidade da situação e sua influência na continuidade das famílias na atividade leiteira. Tang garante que hoje só consegue manter a produção estável o produtor que tem uma estrutura bem estabelecida e condições para tomar crédito. "Aquele que vem se endividando e vendendo seus animais para pagar as dívidas, está deixando o setor. E quem larga não volta, pois precisa de dois anos de investimento para criar uma vaca até a idade de produzir", completa. 

Pelos cálculos do dirigente, hoje, cerca de 30 mil produtores vendem leite pelo Talão do Produtor, número que, segundo ele, já foi de 80 mil, e que, segundo a Emater/RS-Ascar, era de 44 mil em 2021. Tang ressalta que já enviou ao Ministério da Agricultura documento para que seja analisada com cuidado a situação do setor e revisados os patamares de importação de leite pelo Brasil.

Há cinco anos comandando a propriedade que herdou do pai em Augusto Pestana, Volnei Hasse vive no dia a dia os problemas relatados por Zanetti e Tang. No ano passado, o produtor diminuiu de 120 para 70 o número de vacas para enfrentar a dificuldade de fazer e de comprar silagem para a alimentação. Com a redução de plantel, a família tem hoje 60 vacas em lactação, o que garante 1,2 mil litros de leite por dia, 500 litros a menos do que no ano passado. "A situação se complica porque o produtor gasta, vamos dizer, R$ 5 mil por hectare de milho plantado, esperando colher entre 40 e 50 toneladas, mas nos últimos três anos não colhe mais que 15 toneladas. Não se acha silagem nem pra comprar nos vizinhos", conta.

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Augusto Pestana, Hasse estima que no último ano pelo menos 25 produtores do município deixaram a atividade leiteira. Augusto Pestana (na região de Ijuí), aponta ele, é o segundo maior produtor de leite do Estado, com uma captação de cerca de 130 mil litros dia. 


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