Débitos acumulados do agro são examinados em debate na Expodireto 2025
No segundo encontro promovido pelo Correio do Povo, participantes propuseram esforços comuns em prol de irrigação e securitização da dívida do agro gaúcho

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A exemplo do que ocorreu no primeiro encontro do ciclo Correio Rural Debates, na 25ª Expodireto Cotrijal, os participantes do segundo evento defenderam a união dos gaúchos em torno de pautas consideradas fundamentais para a agropecuária do Rio Grande do Sul.
A iniciativa do Correio do Povo reuniu, na feira realizada em Não-Me-Toque, no Noroeste do Estado, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), Carlos Joel da Silva, o presidente da Central Sicredi Sul Sudeste, Márcio Port, o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, e o CEO da Jacto, Carlos Daniel Haushahn, com mediação do jornalista e editor-assistente de Rural do Correio do Povo, Poti Silveira Campos. O tema proposto foi “Mercado, tecnologia e crédito agrícola no ano de 2025”.
Irrigação, ampliação do volume de recursos controlados previstos no Plano Safra, securitização da dívida acumulada por produtores rurais do Estado e adoção de políticas públicas para a agropecuária com maior período de validade estiveram entre as propostas consensuais entre os debatedores.
“O orçamento do governo federal para agricultura é pequeno, assim como é o do governo do Estado, assim como é o dos municípios”, disse Carlos Joel, iniciando a abordagem sobre o crédito rural.
O presidente da Fetag/RS lembrou que a busca dos produtores gaúchos por recursos para custeio e investimento ocorre, atualmente, depois de cinco anos de lavouras prejudicadas por problemas climáticos.
“Nenhum produtor do mundo se prepara para perder cinco safras em seis. Nenhum”, comentou Antônio Da Luz.
Carlos Joel afirmou que o governo federal poderia resolvido o endividamento dos produtores gaúchos, agravado com a estiagem que atinge o RS desde meados de dezembro, “se tivesse atendido a pauta da Fetag, da Farsul, das entidades, no ano passado, que era de 15 anos de prorrogação. Não estaríamos agora pedindo prorrogação novamente”. Para o dirigente da Fetag, o agropecuarista chegou “no fim do poço”.
“Não tem mais como a gente esticar a corda”, garantiu Carlos Joel.
Da Luz apontou que a redução dos recursos com juro subsidiado no Plano Safra ocorre desde 2010, tendo se intensificado a partir de 2012, até chegar ao patamar atual. Hoje, 75% dos valores previstos no projeto são livres, ou seja, tem juro definido de acordo com o critério de cada instituição financeira.
“O Plano Safra deveria ser anunciado pela Febraban”, ironizou Da Luz, referindo-se à Federação Brasileira de Bancos.
Por outro lado, o economista salientou que, diante da falta de alternativa, “se não fosse o recurso livre, não teríamos a agricultura que temos hoje”.
“É desafiador, num Estado no qual 40% do PIB é oriundo do agronegócio, enquanto que a média nacional é algo em torno de 25%, não termos recursos suficiente para financiar o produtor”, ponderou o presidente da Central Sicredi Sul Sudeste, Márcio Port.
O presidente ressaltou que a cooperativa é um dos maiores financiadores do agronegócio do país. “Os recursos acabam ficando escassos antes do final do Plano Safra”, complementou.
De acordo com Port, a falta de recursos controlados se torna ainda mais grave no Estado, cuja atividade do agro é caracterizada por forte presença da agricultura familiar. “É justamente o público que mais busca a taxa de juros com taxas menores”, afirmou.
“Não temos plano B do Rio Grande do Sul. Nossos planos A e B são o agronegócio”, disse Port.
Representando o setor industrial, o CEO da Jacto, Carlos Daniel Haushahn, considera que a rentabilidade do produtor rural é um “elemento-chave dentro de uma cadeia de produção como o agronegócio”. Haushahn explicou que o setor de máquinas e implementos agrícolas depende do sucesso do agricultor.
“Em ambientes mais tensos, como a gente tem vivido hoje, taxa de juro muito alta e capacidade reduzida de pagar as contas, a indústria é muito atingida”, disse Haushahn.
A afirmação do CEO motivou os outros debatedores a examinar a extensão dos prejuízos provocados à sociedade gaúcho diante de um baixo desempenho do agronegócio.
“Muitos empregos, que estão no centro da cidade, se não tiver o agricultor, não tem aquele emprego”, disse Carlos Joel, por exemplo.
“O clima não é um problema do produtor. Já deixou de ser. Era problema do produtor por volta de 2020. Agora, virou problema do Estado”, afirmou Da Luz, conclamando a união em torno de temas de relevância.
“Precisamos ter irrigação, precisamos trabalhar reservação de água e o manejo do solo. Então talvez essa seja a nossa pauta para garantir que, daqui a um ano, chegaremos na Expodireto com outros indicadores”, disse o economista-chefe da Farsul, com a concordância dos demais.