“Vai ser um ano muito desafiador”, prevê Manica

“Vai ser um ano muito desafiador”, prevê Manica

Pela primeira vez em 21 anos, a Expodireto teve de ser cancelada no ano passado em função da pandemia de Covid-19

Danton Júnior

Presidente da Cotrijal acredita que a feira pode ser um canal na busca por alternativas contra efeitos da seca

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Em 2005, quando o Rio Grande do Sul vivia uma grande estiagem, o senhor falou em fazer a “Expodireto da esperança”, para levantar a autoestima do produtor. O cenário é parecido em 2022?

Em 2005, passamos por uma terrível seca, que afetou drasticamente a produção de verão. Realizamos uma feira de autoestima, de busca de soluções e alternativas. Neste ano, após a edição do ano passado ter sido cancelada pela pandemia, estamos voltando com força total. Todos os espaços (foram) comercializados, todos os eventos programados, todas as autoridades confirmadas, mas realmente estamos vivendo novamente um grande problema climático. Talvez esse ano seja ainda pior do que 2005, porque tivemos a grande maioria das lavouras de milho perdidas. Estivemos junto com o presidente (Jair Bolsonaro) no momento do convite, colocamos a situação dramática. Estivemos com a ministra (da Agricultura) Tereza Cristina, ela esteve no Rio Grande do Sul, sabe da situação. Então precisamos tomar providências rápidas para equacionar esse momento difícil, que é o passivo do produtor, dar condições de permanência no campo, liberando parte da safra, buscando recursos com subsídio para enfrentar esse momento. E a Expodireto será um canal importantíssimo.

Como a estiagem vai estar inserida nos eventos que compõem a Expodireto?
Esse vai ser o principal tema da Expodireto. Vamos ter uma audiência pública do Senado Federal que vai discutir a questão da reforma do Código Florestal. Como podemos utilizar melhor a água do subsolo? Também vamos discutir a questão da reserva de água. No Rio Grande do Sul chove em média de 1.500 a 2.000 milímetros ao ano. Não conseguimos represar essa água e ela vai embora. No momento em que você retém a água e aquele volume enche esse local, o seu curso vai continuar normal, sem prejuízo à natureza. Essa é a solução que temos que ter. Vamos discutir com muita tranquilidade, junto com os órgãos competentes, para buscar uma solução.

Qual o impacto da estiagem na área da Cotrijal?
Se olharmos a cultura do milho, tivemos uma perda de mais de 60%. Determinadas lavouras até com 100%, não dando nem para aproveitar para silagem para o gado leiteiro. A cadeia do leite é uma das que mais estão sofrendo. Com relação à soja, podemos dizer que passa de 50% a quebra de safra. Se chover, ainda dá para pensar em manter uma produção, ainda que seja baixa. Mas se não chover, realmente essa quebra vai ser muito maior, porque tem muita soja plantada no tardio, que tem potencial, mas que poderá ficar pior do que a mais precoce.

Num cenário como esse, dá para ter um desempenho positivo na Expodireto em termos de faturamento?
O (Show Rural) Coopavel (feira que ocorre em fevereiro, em Cascavel, no Paraná) anunciou uma comercialização de mais de R$ 3,2 bilhões, que foi uma surpresa total. Temos certeza que muitos negócios vão ser realizados. Tem muitos produtores que vêm de outros estados, capitalizados. Mas o mais importante não é só aquele negócio momentâneo na Expodireto, é a marca que está se colocando. Eu acredito que poderá haver boa comercialização.

Na área de máquinas, como o senhor vê a disponibilidade de recursos e as condições de financiamento na atualidade?
Primeiro, as indústrias estavam com as suas carteiras totalmente vendidas, com produção programada até fevereiro, março deste ano. Agora na Expodireto vão ter condições de fazer a entrega dos seus equipamentos. Com relação a financiamento, as instituições estão tendo recursos, todas nos confirmaram. É lógico que neste momento já vimos que mudou o patamar de juros, a Selic subindo para 10,75%. Mas os bancos terão recursos próprios das suas carteiras, até porque o crédito rural gradativamente vai sendo excluído das metas do governo federal. Então o mercado vai ter dinheiro. Tenho certeza de que recurso não vai faltar, dependendo da necessidade do produtor.

Como está a infraestrutura do parque para este ano?
Está em condições melhores do que na última Expodireto. Permanecemos esses 24 meses fazendo a manutenção e melhorias. Na Casa do Meio Ambiente, foi feito um mirante novo. Fizemos algumas melhorias na área central também. A agricultura familiar está com todos os espaços comercializados, até faltando espaço, infelizmente. 

Quais os cuidados adotados com relação à Covid-19?
Encaminhamos um protocolo dentro das exigências da Secretaria Estadual de Saúde e do governo federal. Vamos cumprir rigorosamente as exigências que são feitas hoje, que é o acesso ao parque com o uso de máscara, álcool gel, manter espaçamento. Todas as empresas têm uma cópia do protocolo e estão preparadas para manter rigorosamente o que o protocolo determina. Em primeiro lugar, a saúde das pessoas. Em segundo lugar, os negócios.

A Expodireto Digital é uma tendência para os próximos anos. A feira presencial manterá seu vigor?
Com certeza, porque não se faz uma exposição só virtual. O público gosta de ver o equipamento, de ver o material plantado no campo, de assistir palestra. E como o público da Expodireto é 250 mil nos cinco dias, porque só vem pessoas ligadas ao business, não tem shows ou outro atrativo, então imagine quantos milhares de produtores Brasil afora poderão participar.

Temos visto uma influência grande de questões geopolíticas no fornecimento de insumos. Como o senhor vê a posição do Brasil como potência na produção de alimentos e ao mesmo tempo dependente de insumos do exterior?
Estamos numa alta de inflação crescente, dólar crescente, mas temos que lembrar que não é só o Brasil. No mundo está ocorrendo isso. Estamos na iminência de um grande conflito internacional, que seria o caos mundial, que poderá interferir em todos os mercados da economia do mundo. Temos agora esse aumento impressionante do custo dos insumos. O que estamos recomendando aos nossos produtores é que façam lavouras viáveis, mas com tecnologia, adequando dentro de uma realidade nova, porque não podemos deixar de plantar ou plantar mal. Tenho dito aos produtores: “recolham a sua produção, entreguem na sua cooperativa, vamos juntos equacionar todo o passivo, programar a próxima safra, e sairmos juntos dessa tempestade”. Realmente, vai ser um ano muito desafiador. 

 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895