Importações de lácteos chegam a quase 600 milhões de dólares e aprofundam crise para produtores

Importações de lácteos chegam a quase 600 milhões de dólares e aprofundam crise para produtores

Compras brasileiras de janeiro a agosto crescem 155,1% em valor e 154,5% em volume

Itamar Pelizzaro

Série histórica tem dados desde 2012

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Agosto foi mais um mês para aprofundamento da crise que aflige os produtores de leite no país. Naquele mês, o Brasil importou 76,2 milhões de dólares em lácteos (leite, creme de leite e laticínios, exceto manteiga ou queijo), a maior parte do Mercosul. No acumulado de janeiro a agosto, houve elevação do valor para 596,06 milhões de dólares, alta de 155,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em volume, o Brasil acumula 155,6 mil toneladas importadas este ano, crescimento de 154,5%. Os dados atualizados foram disponibilizados nesta quarta-feira na plataforma Comex Stat, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. 

Se convertidos para reais, o valor das importações em agosto (cerca de R$ 380 milhões) corresponde a quase quatro vezes os recursos já garantidos pelo governo federal para minimizar a crise que sufoca os produtores de leite nacionais. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) está aplicando R$ 100 milhões para compras públicas, e o ministro da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Fávaro, prometeu outros R$ 100 milhões, durante visita à Expointer. “Se o governo chegar a esses R$ 200 milhões, dá para comparar de 9 a 9,5 mil toneladas de leite em pó, mas só no mês de julho entraram 20 mil toneladas. É muito pouco perante a dificuldade”, disse o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Eugênio Zanetti. “Ainda não chegamos ao fundo do poço. A previsão daqui até o fim do ano é catastrófica.”

O Uruguai lidera as vendas, com participação de 44,8% nos envios ao Brasil e tendo arrecadado 267 milhões de dólares de janeiro a agosto, variação de 282,8% em relação a igual período de 2022. O valor total já é superior a todas as vendas feitas no ano passado, quando os uruguaios embarcaram o equivalente a 189 milhões de dólares. Na sequência, aparece a Argentina, com 42,6% de participação nas importações brasileiras e embarques da ordem de 254 milhões de dólares. Entre os estados importadores, São Paulo fica com 25,1% dos lácteos importados, com gastos de 150 milhões de dólares. O Rio Grande do Sul é o segundo maior importador, com 20,5% do mercado, acumulando 122 milhões de dólares nas compras feitas de janeiro a agosto.

A perda de competitividade tem levado milhares de produtores de leite a abandonarem a atividade. Conforme dados divulgados pela Emater/RS-Ascar na Expointer, o Estado tinha 84,2 mil produtores em 2105 e chegou a 2023 com cerca de 33 mil, redução de 60,78%.


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