Número de produtores de leite vinculados à indústria caiu 60% desde 2015

Número de produtores de leite vinculados à indústria caiu 60% desde 2015

Apresentado na Expointer, levantamento da Emater/RS-Ascar aponta redução do rebanho gaúcho e aumento de produtividade nas propriedades rurais

Patrícia Feiten

O zootecnista Jaime Ries (à esquerda) apresentou levantamento em evento conduzido no Parque de Exposições Assis Brasil

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O número de produtores de leite no Rio Grande do Sul despencou 60,78% em quase uma década, tendo recuado de 84.199 em 2015 – data do primeiro diagnóstico realizado pela Emater/RS-Ascar – para 40.182 em 2021 e 33.019 neste ano. Com isso, o rebanho leiteiro gaúcho encolheu 34,47% no período, de 1.174.762 de vacas em 2015 para os atuais 769.812 animais. Os indicadores são do Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite no RS – 2023, apresentado pela empresa de assistência técnica nesta quinta-feira (31), dentro da programação da 46ª Expointer, em Esteio.

Os dados para o levantamento foram coletados em julho passado. Segundo o zootecnista e assistente técnico da Emater Jaime Ries, a pesquisa, que é bianual, é focada apenas em produtores que entregam leite a laticínios ou mantêm indústrias legalmente formalizadas. Somadas, as propriedades rurais leiteiras produzem hoje 3,836 bilhões de litros de leite por ano, volume 8,91% inferior aos 4,212 bilhões registrados em 2015 e também abaixo do total verificado na pesquisa de 2021, de 4,079 bilhões de litros anuais.

O desempenho dos rebanhos, no entanto, aumentou no período analisado, como resultado da profissionalização da atividade e do uso de técnicas modernas de manejo. A produtividade média das vacas leiteiras teve um avanço de 39,01%, de 11,7 litros diários em 2015 para 16,3 neste ano. O volume médio produzido em cada estabelecimento rural reflete um salto de 132,29%, de 137 para 317 litros por dia na mesma base de comparação. “É um aumento grande: menos propriedades, mas com uma média maior de vacas e com vacas mais produtivas”, destacou Ries.

Esse resultado em 2023, porém, ainda ficou abaixo da expectativa, se considerada a tendência apontada pelos quatro levantamentos anteriores. “Se (o setor) tivesse seguido o mesmo ritmo, seriam 352 litros (diários). Então, temos boas notícias, mas elas poderiam ser melhores. (Nos últimos dois anos), tivemos estiagem, aumento de custos de produção e a questão das importações”, ponderou Ries, referindo-se à disparada das importações de leite e lácteos de países do Mercosul neste ano. A concorrência com os itens importados, que entram no Brasil com preços mais competitivos, vem causando dificuldades ao setor e motivando protestos dos pecuaristas.

Entre os dados apresentados, chama atenção também o aumento de 67,1% no número de vacas por propriedade, que era de 13,95 em 2015 e passou para 23,31 neste ano. “À medida que diminuiu o número de produtores, os que ficam (na atividade) têm mais animais”, disse Ries. Novamente, com base no ritmo de aumento dos quatro anos anteriores, observou o zootecnista, a expectativa apontaria para uma média de 25 animais por propriedade.

O levantamento também traz dados sobre o padrão genético predominante no rebanho leiteiro. Em 67% das propriedades, são criadas vacas holandesas. Outros 16% dedicam-se à raça Jersey e em cerca de 16% estabelecimentos as duas raças estão presentes – o restante dos pecuaristas mantém animais das raças Gir Leiteiro, zebuínas e outras.


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