Práticas sustentáveis determinam futuro da pecuária

Práticas sustentáveis determinam futuro da pecuária

Adoção crescente de tecnologias para redução de emissões de gases do efeito estufa no campo é destaque em seminário na UFRGS, que aborda impacto de tendências de consumo

Patrícia Feiten

publicidade

Uma pecuária mais eficiente, rentável e alinhada às preocupações ambientais. Essa visão sustentável da cadeia produtiva de carnes está no centro das discussões iniciadas nesta segunda-feira (29) na XVIII Jornada NESPro e no VI Simpósio Internacional sobre Sistemas de Produção de Bovinos de Corte, no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em Porto Alegre. Promovidos pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro) da universidade, os eventos apresentam até esta terça estudos científicos para auxiliar na busca de maior competitividade no setor.

Neste ano, o seminário tem como referência o tema central “Do consumo à produção de carne bovina”, que, segundo o pesquisador Guilherme Malafaia, da Embrapa Gado de Corte, resume o olhar estratégico exigido atualmente das cadeias agroindustriais. “No momento que temos essa percepção mais clara dos movimentos do mercado consumidor, conseguimos desenvolver mecanismos de coordenação e tecnologias que permitam aos sistemas de produção atender a esses anseios”, afirma Malafaia, citando práticas para redução da pegada ambiental, racionalização do consumo hídrico, bem-estar animal e as chamadas tecnologias “poupa-terra”, focadas em aumento de produtividade com economia de terras cultivadas.

Para o pesquisador da Embrapa, os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta são um aliado importante do agronegócio interessado em sustentabilidade. “Esses avanços vão demandar uma maior gestão e inteligência, tanto em nível de porteira quanto em nível de indústria. Todos os agentes vão precisar se qualificar mais para dar conta desses processos de transformação por que o setor vai passar com ainda mais força nos próximos anos”, destaca.

Também participante do seminário, o zootecnista Clandio Ruviaro, professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), de Mato Grosso do Sul, diz que a agropecuária brasileira vem aprimorando e adotando cada vez mais técnicas para controle das emissões de gases do efeito estufa atribuídas à bovinocultura – da escolha de alimentação capaz de reduzir a liberação de metano pelo gado (CH4) e do uso fertilizantes de degradação mais lenta no cultivo de pastagens até a substituição de sistemas de correção da acidez do solo baseados em calcário pelo gesso. “As entidades, os institutos de pesquisas e universidades estão levando esse conhecimento ao produtor, para que adote essas tecnologias junto com sistemas de plantio direto e nas pastagens, tudo no sentido de mexer menos no solo para que não haja impacto ambiental”, exemplifica.

Os estudos mais recentes, segundo Ruviaro, reforçam a tese de que é possível aumentar a produção de proteína animal sem desmatar áreas verdes. E com um balanço de carbono positivo. “Os pastos, quando bem usados pelo produtor, sequestram muito desses gases que estão na atmosfera. Dados de várias pesquisas (indicam) que, quando tu crias bem os animais, esse animal fica pronto (para abate) mais rápido e vai emitir menos gases na vida dele. Tu tens uma carne de produção extremamente sustentável”, observa o professor.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895