Custo de produção da pecuária de corte deve seguir em alta

Custo de produção da pecuária de corte deve seguir em alta

Preço do boi no mercado gaúcho tende a se estabilizar até o final do primeiro semestre, prevê coordenador do NESPro

Patrícia Feiten

publicidade

Dólar alto e a guerra entre Rússia e Ucrânia devem continuar impactando o valor dos insumos agropecuários neste ano, pressionando os custos de produção da pecuária de corte no Brasil, avalia o coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NESPro), Julio Barcellos. Para o especialista, 2023 significará um período de ajuste nas contas dos produtores, que tenderão a focar os esforços em gestão e recuperação de prejuízos causados pelas últimas estiagens.

Em termos nacionais, de acordo com dados do Cepea/Esalq, os custos de produção da pecuária subiram 10,15% em 2022 nas propriedades focadas no sistema de cria – na atividade de recria e engorda, em um movimento inverso, a desvalorização do terneiro acabou resultando em queda de 12,56% nos valores apurados. Nas fazendas de cria gaúchas, a escalada de custos foi mais acelerada que no Brasil Central, afirma Barcellos. “A cria no sul do Brasil teve um aumento maior, em torno de 17%, em função de ter investido muito em tecnologia, programas de inseminação, suplementação mineral, investimentos em touros e medidas corretivas para a estiagem”, explica.

Segundo o professor, a mudança de patamar tecnológico levou os custos da pecuária de corte a superar o avanço da inflação nos últimos anos. “Até 2019-2020, a pecuária era uma atividade que se fundamentava muito em processos. Com a valorização do boi gordo, houve uma migração muito forte para o que chamamos de tecnologias de insumos. Aumentou a demanda global por todos os insumos, principalmente os usados na alimentação animal”, explica Barcellos. “Isso pesou muito no bolso do produtor e continuará pesando em 2023.”

No caso dos preços do boi gordo, o coordenador do NESPro explica que o cenário no Rio Grande do Sul descolou do verificado no restante do país. A seca prolongada no Brasil Central, que dificultou a manutenção dos confinamentos, e a estiagem no Rio Grande do Sul contribuíram para o represamento do gado para abate neste primeiro semestre de 2023, explica Barcellos. Embora o levantamento semanal do NESPro venha indicando queda nas cotações, a tendência é de estabilização até o final do primeiro semestre, com perspectivas de ganhos modestos para os pecuaristas na segunda metade do ano. “Então, o preço do boi para 2023 é conservador, os próprios valores projetados na B3 ao longo do ano não passam de R$ 270, R$ 280 reais a arroba, (o equivalente a) R$ 10 o quilo vivo no Rio Grande do Sul”, diz o professor.

Barcellos observa que esse panorama, porém, poderá mudar com uma eventual retomada da economia brasileira – o que estimularia a demanda pela carne bovina – e o aumento dos embarques para países asiáticos. Na semana passada, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, confirmou que 11 plantas brasileiras frigoríficas brasileiras de carne bovina foram habilitadas pela Indonésia para exportação. Além dessas, três unidades foram autorizadas a exportar proteína animal ao mercado chinês.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895