Preços do boi caem e desincentivam produtores

Preços do boi caem e desincentivam produtores

Preço por quilo vivo do macho é de R$ 9,39

Camila Pessôa

Menor poder aquisitivo da população causa quedas no preço do boi

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Os preços do quilo vivo do boi no Rio Grande do Sul vêm caindo desde 21 de setembro. Entre esta data e a última quarta-feira, a queda foi de 6,1%, de R$ 10,00 para R$ 9,39, de acordo com dados do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro). Isso ocorre principalmente por conta da diminuição das importações da China e dificuldades no mercado interno, como diz o diretor do Instituto Desenvolve Pecuária, Ivan Faria.  “A China está comprando mais durante o ano e não mais num pico de final de ano, então agora o país já tem estoques”, explica o diretor. 

Outra questão mencionada por ele é a depressão na economia mundial, o que resulta num salário mais achatado inclusive no Brasil e diminui o poder de compra da população. Assim, houve migração do consumo para as carnes suína e de frango, com menor custo de produção e, portanto, mais baratas. De acordo com o assistente técnico regional em sistemas de produção animal da Emater-RS/Ascar Ricardo Oliveira, outro fator que influencia na queda nos preços é a diminuição da exportação de terneiros em especial para a Turquia, país que passa por uma crise econômica. Mais uma razão para a queda de preços no Estado, de acordo com o coordenador do NESPro, Júlio Barcellos, foi uma menor oferta no Rio Grande do Sul por conta de um prolongamento do tempo de pastagens, uma vez que o plantio de soja ocorreu mais tarde este ano, o que elevou os preços no Estado e motivou os frigoríficos a trazerem carcaças de outros lugares. “O varejo está conseguindo trazer carne por mais barato ainda”, ressalta. 

A queda nos preços pesa para os produtores mesmo com a redução de custos de produção observada nos últimos meses porque, segundo Faria, os preços ao produtor reduziram duas vezes mais que a queda no preço dos insumos, o que gera prejuízos. “Com muita dificuldade, alguns produtores estão conseguindo empatar seus ganhos com seus investimentos”, relata o diretor. Segundo ele, isso pode resultar numa fuga de produtores, uma vez que investimentos na agricultura, em especial no plantio de soja, se mostram mais rentáveis e atrativos. 

Por isso, o setor está preocupado. De acordo com Barcellos, normalmente, após 15 de outubro é observada uma ascensão dos preços, diferente do que está sendo visto agora. Assim, para Faria, a questão do preço é muito grave. “No curto prazo só o aumento da demanda pode nos dar um alento”, diz, ao lembrar que a diminuição da oferta não é uma possibilidade, porque, com aumento de preços nos últimos 3 anos, houve investimentos na pecuária de corte o que resulta, agora, em uma oferta maior que a demanda. Nesse cenário, o diretor relata que não há perspectivas a curto prazo. “Depende do mercado externo e de uma economia em crise no mundo inteiro, e para reverter isso leva tempo”, lamenta. 

Ainda, Barcellos relata que o produtor perdeu entre 15% e 20% de seu poder aquisitivo nos últimos 10 meses e a carne no varejo não acompanhou a queda nos preços ao produtor na mesma medida, o que está limitando o consumo. Nesse cenário, a grande preocupação, diz o coordenador, é de que os produtores invistam menos em aumentar a produção na atual temporada, que é de monta ou inseminação das vacas, o que deve causar uma queda na oferta a aumentar os preços ao consumidor no ano que vem. “Estamos tendo menos reprodução que nos anos anteriores e estão indo mais fêmeas para o abate”, já observa o técnico da Emater-RS/Ascar Ricardo Oliveira. A temporada de monta vai de outubro a janeiro.

Ao mesmo tempo, o coordenador do NESPro projeta uma melhora preços ao produtor a partir de meados de novembro, mas ainda modesta. “Em primeiro lugar eu acredito que vai ter um estancamento nessa queda dos preços com uma pequena majoração ali na primeira quinzena de dezembro, mas tudo isto muito associado às sinalizações do mercado, a uma nova onda otimista da sociedade brasileira para comer um pouco mais de carne e a m aumento da arroba do boi no Brasil central puxado pelas exportações”, avalia. 

Nas projeções com relação ao clima, Oliveira explica que mesmo com previsão de níveis de chuva menores que a média e expectativa de frio para a próxima semana, o clima não está impactando diretamente o rebanho ou tomada de decisões do produtor. A época é de crescimento de campo nativo, com transição entre pastagens de inverno e verão. Além disso, há perda de áreas de rebanho para o plantio de soja e não há crise hídrica. Agora também começa o período sensível aos carrapatos, então os produtores estão intensificando o controle dos parasitas, de acordo com o técnico.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895