Quebra no trigo turbina importação, e Argentina deve retomar hegemonia
Com safra nacional menor, moinhos do Rio Grande do Sul já recebem cargas do cereal
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A Argentina deverá retomar a hegemonia como maior fornecedor de trigo ao Brasil, por conta da queda na produção nacional na última safra. O Rio Grande do Sul embarcou excedentes superiores a 3 milhões de toneladas de trigo nos dois últimos dois anos e este ano precisará importar até 700 mil toneladas. “Em dezembro já houve a chegada de três navios da Argentina com destino a moinhos gaúchos”, afirmou o analista Elcio Bento, da consultoria Safras & Mercado. “Essa será uma realidade da nossa situação de abastecimento, tendo maior necessidade de importação por conta de uma safra que era para ser de 11,5 milhões de toneladas e está vindo para 8,6 milhões, sendo ao menos 3 milhões de toneladas de trigo de baixa qualidade”, disse.
No Rio Grande do Sul, a estimativa inicial era de colher 5,4 milhões de toneladas, pouco abaixo das mais de 6 milhões de toneladas produzidas na safra anterior. As previsões foram frustradas pelos efeitos do El Niño, com chuvas e umidade excessiva, reduzindo a colheita a 3,2 milhões de toneladas, com 70% do volume considerado de baixa qualidade e não utilizável para moagem. “Isso dá bem menos do que é o consumo dos moinhos gaúchos, que é próximo a 1,9 milhão de toneladas”, explica Bento.
Rússia perde espaço
No Brasil, a área plantada na safra passada foi 0,6% superior à do ano anterior. Houve queda de cerca de 10% no RS, sendo compensada por elevação de área no Paraná e em Estados da região do Cerrado. A consultoria ainda está consolidando os números, mas a produção deve ficar em torno dos 8,6 milhões de toneladas no país, já computando a perda severa no território gaúcho e redução no Paraná, onde a estimativa de 4,3 milhões de toneladas foi reduzida à colheita de cerca de 3,7 milhões de toneladas.
No primeiro quadrimestre da atual temporada - agosto a dezembro de 2023 -, a Rússia vendeu mais trigo ao Brasil do que a Argentina. “Isso é raro, dificilmente acontece. A última vez foi em 2009 e 2010, quando a Argentina perdeu o posto de maior vendedor do Brasil para os Estados Unidos”, lembra Bento. De dezembro de 2022 a novembro de 2023, os argentinos exportaram menos de 4 milhões de toneladas. “Para a temporada atual, a estimativa é de que exportem cerca de 8,5 milhões de toneladas”, calcula Bento.
Retenciones
A Argentina aumenta sua presença aproveitando a vantagem logística e a isenção do pagamento da tarifa externa comum, em detrimento da Rússia, que foi o maior fornecedor nacional no primeiro quadrimestre e agora perde espaço. Conforme Bento, a tendência de maior participação da Argentina no mercado internacional chega depois que o país vizinho resolver suas questões políticas internas, com a eleição de Javier Milei. “No ano passado, a Argentina poderia ter exportado mais, mas como o então presidente e candidato (Milei) falava em redução das retenciones (impostos de exportação), eles deixaram de vender no ano passado para vender este ano. E o Brasil é o principal destino das vendas”, estimou o consultor.
Bento estimou que, depois de comprar 4,5 milhões de toneladas no mercado internacional no ano passado, o menor volume importado desde a década de 80, para essa temporada o Brasil deve importar 6,2 milhões de toneladas de trigo, que será o maior volume desde a temporada 2019/2020.