Saúde

Câncer de mama: avanços da medicina, força de vontade e a prevenção como foco de campanhas do Outubro Rosa

Com pesquisa clínica para fomentar o avanço da saúde no Brasil, Santa Casa de Porto Alegre promove ações da campanha “A Vida Pede Rosa”

Paciente da Santa Casa de Porto Alegre, Ana Paula Couto realiza mamografia como forma de acompanhamento de seu tratamento contra o câncer de mama
Paciente da Santa Casa de Porto Alegre, Ana Paula Couto realiza mamografia como forma de acompanhamento de seu tratamento contra o câncer de mama Foto : Ricardo Giusti

Era carnaval de 2023 quando a auxiliar de limpeza Ana Paula Couto, então com 50 anos, acordou e sentiu algo estranho em seu seio. Passados dois anos, ela foi diagnosticada com câncer de mama, passou por 8 sessões de quimioterapia, uma cirurgia para retirada parcial do quadrante onde estava o tumor, mais 15 sessões de radioterapia e outras 18 de imunoterapia. A jornada de quem luta pela vida é árdua. Por isso, o apelidado dado às mulheres que superam a doença resumem exatamente aquilo que elas são: vitoriosas.

“Estava me arrumando e senti que tinha alguma coisa errada. Mas coloquei na minha cabeça que precisava curar e que não podia deixar a peteca cair. Precisamos sempre dar um passo de cada vez para poder superar tudo. Agora, para mim, a vida voltou ao normal. Voltei a trabalhar e ter a minha rotina. Quando eu conheço outras mulheres que foram diagnosticadas recentemente, eu faço questão de mostrar que eu venci e que elas também podem. Mas que, para isso, é preciso lutar. Nada é impossível se a gente acredita que vai dar certo”, falou.

Passados dois anos e meio de seu tratamento, que segue sendo realizado integralmente na Santa Casa de Porto Alegre, através do hospital Santa Rita, Ana Paula, que mora em Guaíba, no bairro de mesmo do hospital que a atende, realiza exames mensais de acompanhamento posterior à doença e participa de pesquisa clínica na instituição. Além dos avanços na medicina, principalmente na oncologia, ela reforça a importância da força de vontade para superar o período de luta pela vida. Para ela, vencer o câncer a ajudou a enxergar a própria vida de outra forma, mais leve e feliz.

“Eu quis muito me curar e não deixar a peteca cair. Ainda bem que tive uma rede de apoio muito grande, com muita ajuda de amigos, família e dos profissionais de saúde. Isso é muito importante no tratamento. Cada abraço, cada conversa me ajudaram muito. Hoje, só tenho a agradecer. Mas a doença me deu uma nova vontade de viver. Acho que Deus queria me dar uma chacoalhada para viver outras coisas e não ficar parada. E isso mudou meu jeito de ser. Para mim, foi uma nova vida”, completou Ana Paula.

Para ela, a vitória ocorreu também por manter hábitos de prevenção e cuidados diários. Quando ela descobriu o tumor, durante um autoexame, a vitoriosa já costumava manter rotinas de prevenção com a mama, realizando mamografias anualmente, além do autoexame em casa. Tudo isso, segundo ela, por conta da familiaridade que tem tido nos últimos anos em função da série de informações veiculadas sobre o tema, principalmente durante os meses de outubro.

A história de Ana Paula e das milhares de mulheres que são diagnosticadas anualmente com câncer de mama tornam essenciais a realização de campanhas de prevenção, principalmente durante o Outubro Rosa. Neste mês, a Santa Casa de Porto Alegre, uma das referências em cuidado oncológico no Rio Grande do Sul, tem promovido ações da campanha “A Vida Pede Rosa”.

A campanha aborda a prevenção do câncer a partir da ótica de mulheres que entenderam a importância de colocar a saúde como prioridade, com a prevenção se tornando o primeiro passo para uma vida mais saudável. Para o oncologista Antonio Dal Pizzol Júnior, diretor adjunto do Hospital Santa Rita, medidas que aliam o bem-estar, o cuidado e a prevenção impactam positivamente a vida das mulheres, principalmente as que recebem o diagnóstico.

“Atualmente, imagens de rotina das mamas são recomendadas para mulheres a partir dos 40 anos. Existem medidas que podem ser positivas, que vão desde atividade física e hábitos alimentares, mas que precisam ser acompanhadas também de uma rotina de prevenção, com exames e consultas médicas regulares. Os avanços na medicina impactam tanto a prevenção quanto o tratamento. Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de sucesso na recuperação”, afirmou.

Entre as ações da campanha, está a iluminação em tons de rosa do pórtico do complexo hospitalar ao longo do mês, a implementação de um espaço virtual para tirar dúvidas sobre prevenção no site da Santa Casa, apresentações artísticas e bate-papos com pacientes. Além disso, para fechar a programação, ocorre no dia 28 o tradicional Desfile das Poderosas, que reúne vitoriosas curadas ou em remissão de câncer de mama para compartilhar força e resiliência.

Ana Paula Couto, de 52 anos, é mais uma vitoriosa que segue em acompanhamento na Santa Casa de Porto Alegre | Foto: Ricardo Giusti

Avanços no tratamento oncológico

Com o avanço da pesquisa e da inovação na medicina, a médica Katsuki Tiscoski, oncologista e coordenadora médica do Centro Multidisciplinar de Pesquisa Clínica da Santa Casa, aponta que o tratamento para o câncer de mama tem evoluído em diversas frentes, seja com melhores resultados como no bem-estar das pacientes. Segundo a médica, cerca de mil mulheres são diagnosticadas com a doença e passam por tratamento a cada ano na Santa Casa de Porto Alegre.

“Avançamos no controle sintomático. Atualmente, muitas pacientes tratam do câncer, fazem quimioterapia e conseguem retornar ao trabalho durante o tratamento. Mas, além disso, temos evoluído para a terapia-alvo. A partir da pesquisa, buscamos novas moléculas para trazer maiores resultados e maior expectativa de vida para as pacientes, com menos efeitos colaterais. Medicamentos que antes eram intravenosos se tornaram em via oral. A oncologia avançou neste sentido de controle dos sintomas, bem-estar e aumento da expectativa de vida”, citou Katsuki.

Por isso, a médica destacou a importância dos projetos de pesquisa clínica na área da saúde, principalmente as desenvolvidas pela Santa Casa. Ela explica que, mesmo envolvendo tratamentos ainda não aprovados, os procedimentos com participação para protocolo de pesquisa são considerados eficazes e com excelentes respostas. Muitos destes tratamentos experimentais são realizados com, no mínimo, uma década de estudo, conforme a profissional.

“Temos um centro multidisciplinar que, além da oncologia, envolve também outras áreas. Atualmente, os principais estudos que estão vindo envolvem o câncer de mama, com avanços importantes para a área. Temos estudos tanto para pacientes com câncer em estágio inicial e também para pacientes com a doença em estágio avançado também. São tratamentos que tendem a ter menos efeitos colaterais. A pesquisa traz essa vantagem de tentar usar um medicamento melhor do que se tem disponível atualmente no mercado”, completou.

Veja Também

Prevenção e diagnóstico precoce

A médica oncologista Katsuki Tiscoski reforça ainda a importância da cultura da prevenção, seja a partir da realização de exames de rotina como da aplicação de hábitos saudáveis, como a alimentação saudável e equilibrada para evitar o ganho de peso, principalmente na menopausa, e a prática de atividades físicas. Dela destaca também a criação de estruturas multidisciplinares para facilitar o atendimento, como o Centro de Prevenção do Câncer da Santa Casa.

“Contamos com mastologistas, oncologistas, ginecologistas e profissionais de diversas áreas. Então, antes da paciente chegar para a oncologia com o diagnóstico, ela já passou por diversos profissionais que já a aconselharam sobre rastreio e orientaram com outras medidas. Quando chega no oncologista, é para tratar o mais rápido possível, pois quanto mais rápido acontece o diagnóstico, a chance de cura é maior”, salientou.

Katsuki também celebrou a adoção, por parte do Ministério da Saúde, do rastreamento do câncer de mama a partir dos 40 anos para mulheres sem histórico familiar. Ela contou ainda que a medida já era aplicada na prática pela Santa Casa de Porto Alegre, por orientação da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).

“Para nós é melhor, pois cada vez mais encontramos mulheres jovens com câncer de mama. Aos 50 anos, às vezes, é um diagnóstico tardio. Com essa adoção, vamos conseguir que mais pacientes tenham acesso à mamografia de rastreio o mais precoce possível. Já com relação ao histórico familiar, temos que avaliar o grau de parentesco e outras informações se a paciente tem alteração genética, pois pode ser necessário que ela comece o rastreio mais cedo ainda”, falou.

Oncologista Katsuki Tiscoski, coordenadora médica do Centro Multidisciplinar de Pesquisa Clínica da Santa Casa de Porto Alegre | Foto: Ricardo Giusti

Cuidados com o pós-tratamento

A oncologista aponta também que a rotina de cuidados também deve ser mantida para as pacientes que concluíram o tratamento contra o câncer de mama, estando curadas ou em remissão. Para ela, é essencial que a paciente evite o excesso de peso, pois a obesidade é um dos fatores de risco para o retorno da doença. Katsuki destaca ainda o cuidado com a musculatura, tendo em vista que o tratamento também reflete em modificações no corpo da mulher, principalmente quando se faz necessário realizar uma cirurgia de remoção da mama.

“Se ela conseguir evitar o ganho de peso, manter uma rotina de atividade física e uma alimentação, é uma vitória importante. Também pedimos que a paciente evite a reposição hormonal. Orientamos que quem fez mastectomia procure realizar mais exercícios aeróbicos, não sobrecarregando tanto o peso, ou atividades como ioga e pilates. Na alimentação, pedimos que a paciente tenha um equilíbrio, evitando embutidos e ultraprocessados. Se a paciente conseguir manter hábitos saudáveis, ela ultrapassa as sequelas do tratamento, mantém a qualidade de vida e evita um novo câncer”, finalizou a oncologista.

Guia rápido de prevenção para o câncer de mama*

Fatores de risco não modificáveis:

  • Idade: quanto maior a idade, maior o risco.
  • História familiar em parentes próximos, como mãe e irmãs.
  • Primeira menstruação antes dos 12 anos.
  • Menopausa tardia (após os 55 anos).
  • Primeira gravidez após os 30 anos.
  • Nuliparidade (não ter filhos).
  • Terapia de reposição hormonal prolongada na pós-menopausa.

Fatores de risco modificáveis:

  • Consumo excessivo de bebida alcoólica.
  • Sedentarismo (não praticar atividade física).
  • Obesidade.

Sinais e sintomas:

  • Caroço na mama ou na axila.
  • Pele alaranjada, parecendo casca de laranja, alteração nos mamilos ou saída espontânea de líquidos por eles.
  • Importante: lembre-se que o autoexame não substitui a mamografia e, na presença de alterações, o seu médico deve ser consultado.

Diagnóstico:

  • A sociedade brasileira de mastologia recomenda mamografia de rastreio anual para mulheres a partir de 40 anos e, para mulheres com alto risco, a partir dos 30 anos.

Como prevenir:

  • Não há como prevenir totalmente o câncer de mama, pois alguns dos fatores que envolvem seu aparecimento não podem ser modificados. Mas é possível controlar alguns dos fatores de risco, como obesidade e alcoolismo, além de estimular fatores protetores, como uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividade física.
  • Por isso, o rastreio se torna tão importante. Com o diagnóstico precoce do câncer de mama, aumentamos as taxas de cura.

*Informações cedidas pela Santa Casa e pela Liga Feminina de Combate ao Câncer no RS