Saúde

Demência por Corpos de Lewy: entenda a doença de Milton Nascimento

Doença neurodegenerativa progressiva é marcada por alucinações, lapsos de memória e sintomas motores semelhantes ao Parkinson

Condição que afeta Milton Nascimento é a segunda forma mais comum de demência degenerativa no mundo
Condição que afeta Milton Nascimento é a segunda forma mais comum de demência degenerativa no mundo Foto : GUILHERME ALMEIDA / CP MEMÓRIA

A confirmação de que Milton Nascimento, 82 anos, foi diagnosticado com Demência por Corpos de Lewy (DCL) trouxe atenção para uma condição ainda pouco conhecida do público, mas que acomete milhões de pessoas no mundo. Segundo a Lewy Body Dementia Association, essa é a segunda forma mais comum de demência degenerativa, atrás apenas da Doença de Alzheimer, e representa cerca de 10% dos casos.

O diagnóstico foi revelado pelo filho do cantor, Augusto Nascimento, e se soma ao quadro de Parkinson já existente. Conforme pesquisa publicada na SciELO, a DCL e a Demência associada à Doença de Parkinson (DDP) respondem juntas por até 31% dos casos de demência neurodegenerativa entre pessoas com mais de 65 anos.

De acordo com o neurologista Philipe Marques da Cunha, da Afya Educação Médica, a DCL é causada pelo acúmulo da proteína alfa-sinucleína (corpos de Lewy) no córtex cerebral, o que a diferencia de outras doenças neurodegenerativas. “Essa é a principal diferença em relação à Doença de Alzheimer, caracterizada pelo acúmulo de placas beta-amiloides, e à Doença de Parkinson, que também apresenta corpos de Lewy, mas em outra região do cérebro”, explica.

Entre os sintomas mais comuns estão flutuações cognitivas, alucinações visuais precoces e detalhadas, lapsos de memória, alterações de atenção e distúrbios do sono. Também podem ocorrer rigidez muscular, lentidão de movimentos (bradicinesia) e instabilidade postural, sintomas semelhantes ao parkinsonismo. O médico alerta ainda para a sensibilidade a medicamentos neurolépticos, usados para controlar sintomas comportamentais, o que exige cuidado extra no tratamento.

Atualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Alzheimer, a DCL e outras formas de demência afetam 55 milhões de pessoas no mundo, número que pode ultrapassar 150 milhões até 2050. No Brasil, cerca de 1,2 milhão de pessoas convivem com algum tipo de demência, o que representa 8,5% da população idosa, com projeção de crescimento para 5,7 milhões de casos nas próximas décadas.

O diagnóstico da DCL é clínico, baseado na observação de sintomas, mas pode ser desafiador nas fases iniciais. “Para maior precisão, utilizamos exames como ressonância magnética, cintilografia cerebral (DaTscan), tomografia por emissão de pósitrons (PET) e polissonografia, que ajuda a identificar distúrbios do sono”, destaca o Dr. Philipe.

O prognóstico da doença varia entre 5 e 12 anos após o diagnóstico, com progressão mais rápida que o Alzheimer, levando à perda gradual de autonomia e funções cognitivas e motoras.

Sinais de alerta

A Demência por Corpos de Lewy (DCL) pode começar de forma sutil, com sintomas confundidos com Alzheimer, depressão ou Parkinson. Estar atento às manifestações precoces é essencial para buscar avaliação médica e garantir o manejo adequado.

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Principais sintomas que merecem atenção

  • Alterações cognitivas flutuantes: períodos de lucidez alternados com confusão mental ou desorientação.
  • Alucinações visuais vívidas: ver pessoas, animais ou objetos que não existem, geralmente de forma detalhada.
  • Lapsos de memória: esquecimentos frequentes que interferem nas tarefas diárias.
  • Distúrbios do sono: falar, gritar ou se mover durante o sono, comportamento típico do distúrbio REM.
  • Rigidez e lentidão motora: movimentos mais lentos, dificuldade para andar ou levantar-se, e tremores semelhantes aos do Parkinson.
  • Alterações de humor e comportamento: irritabilidade, depressão, ansiedade e episódios de apatia.
  • Sensibilidade a medicamentos: reações adversas a remédios antipsicóticos ou neurolépticos, que podem agravar sintomas motores.

Quando e como buscar atendimento

  • Procure um neurologista ou geriatra se houver mais de um dos sintomas acima, especialmente se surgirem em conjunto com alterações visuais e cognitivas.
  • Agende consulta em serviços especializados de neurologia ou neuropsicologia, que realizam testes cognitivos, exames de imagem e avaliação motora.
  • Leve histórico detalhado das mudanças observadas — datas, frequência e tipo de sintomas — para ajudar no diagnóstico clínico.
  • Evite a automedicação. O uso inadequado de calmantes, antidepressivos ou antipsicóticos pode piorar o quadro.
  • Busque suporte familiar e psicológico. Cuidadores e familiares também devem ser orientados sobre a evolução da doença e os cuidados no dia a dia.

Encaminhamentos recomendados

  • SUS: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e ambulatórios de neurologia nos hospitais universitários.
  • Rede privada: Clínicas de neurologia, geriatria e centros de memória.
  • Apoio e informação: Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) e grupos de apoio a familiares de pessoas com demência.

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