O Relatório Lilás 2025 chega à sua terceira edição consolidado como uma das principais ferramentas de enfrentamento à violência de gênero no Rio Grande do Sul. Produzido pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e pela Frente Parlamentar dos Homens pelo Fim da Violência contra a Mulher, o material reúne 17 artigos em mais de 200 páginas, com análises, dados e relatos que expõem a persistência da desigualdade e da violência contra as mulheres. A publicação será distribuída em escolas e instituições públicas que promovem o debate sobre igualdade e direitos humanos.
O lançamento ocorreu na noite desta sexta-feira, 10, no Memorial do Legislativo, em Porto Alegre, e contou com apresentação da cantora Adriana Defentti. Criado em 2014 e com a segunda edição publicada em 2015, o relatório se consolidou ao longo dos anos como um instrumento de denúncia, reflexão e formulação de políticas públicas voltadas à defesa da vida das mulheres.
Os números mais recentes reforçam a gravidade do cenário. Segundo levantamento da Lupa Feminista, mais de 40 mil denúncias de violência contra mulheres foram registradas neste ano no Estado, incluindo agressões físicas, psicológicas e patrimoniais. O dado evidencia a dimensão do problema e a necessidade de ações estruturadas e contínuas de prevenção e acolhimento.
O deputado Adão Pretto Filho, presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, destacou que o Estado enfrenta um salto alarmante nos casos de feminicídio.
“Tivemos um aumento de mais de 1,5 mil por cento dos casos de feminicídio em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse dado reforça a urgência de políticas públicas permanentes, campanhas educativas e ações interinstitucionais para garantir a vida e a segurança das mulheres.”
O parlamentar também recordou o episódio ocorrido em abril deste ano, quando 12 mulheres foram assassinadas em um único fim de semana.
“A partir dessa brutalidade, conseguimos mobilizar a sociedade e aprovar na Assembleia a recriação da Secretaria da Mulher. Foi uma resposta institucional, mas sabemos que é apenas um passo em uma caminhada longa e necessária.”
Representando a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (CEVID) do Tribunal de Justiça do RS, Carla Hass reforçou o papel do relatório como instrumento de enfrentamento.
“A pauta da violência de gênero é sempre urgente. O relatório, portanto, faz o enfrentamento dessa temática e dá visibilidade às situações que muitas vezes permanecem invisíveis.”
Reflexões e vozes de quem atua na linha de frente
A dirigente do Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública do Estado, Paula Britto Granetto, destacou que combater a violência é lutar pela liberdade.
“Quando falamos em combater a violência contra a mulher, falamos, sobretudo, sobre liberdade. A cultura machista está enraizada, e precisamos conscientizar tanto homens quanto mulheres disso. É uma tarefa coletiva e contínua.”
O Núcleo é responsável por desenvolver e coordenar ações voltadas a acolhimento, orientação e assistência jurídica a mulheres vítimas de violência, discriminação ou violação de direitos humanos. Uma delas é o projeto permanente “Defensoria Pública para Elas”, desenvolvido desde julho deste ano como resposta ao aumento dos casos de feminicídio. A iniciativa promove ações de acolhimento jurídico e psicossocial, mutirões com atendimento especializado, incentivo à denúncia, além da criação de uma rede interinstitucional de proteção e reinserção social.
A escrivã de Polícia Civil Bianca Benemann de Almeida, criadora do programa Libertar RS, chamou atenção para a distância entre as vítimas e os serviços de proteção.
“Noventa e três por cento das vítimas de violência sequer chegaram a acionar a rede de proteção. Devemos manter essa rede firme e estruturada, mas precisamos ampliar o acesso das mulheres a ela.”
Ao reunir dados, reflexões e vozes de quem atua na linha de frente, o Relatório Lilás 2025 reafirma que o combate à violência de gênero não pode ser episódico nem simbólico. Em um Estado onde milhares de mulheres seguem vivendo sob ameaça, a publicação lança um apelo claro: sem políticas públicas fortes, educação igualitária e compromisso social, a violência continuará se repetindo — e custando vidas.