Perdas causadas por cheias e excesso de umidade preocupam citricultores gaúchos

Perdas causadas por cheias e excesso de umidade preocupam citricultores gaúchos

Dimensão das perdas deve ser conhecida na próxima semana em reuniões de câmaras setoriais

Itamar Pelizzaro

COndições climáticas causaram queda de frutas em pomares

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Com hortas e pomares impactados por enchentes, excesso de umidade e pouca insolação nas últimas semanas, a produção rural gaúcha acumila prejuízos ainda não mensurados. A citricultura e a pecanicultura estavam em plena colheita e amargam quando a catástrofe climática chegou, aniquilando milhares de árvores em ciclo produtivo e derrubando frutas. No caso dos citros, em torno de 80% das variedades estavam por ser colhidas.

O coordenador da Câmara Setorial da Citricultura, o engenheiro agrônomo e produtor Pedro Wollmann, que também preside a Associação Montenegrina de Fruticultores (AMF), informa que os pomares com variedades precoces estavam em início de colheita. “Não colhi 20% em minha propriedade, que fica em uma parte alta, e é desanimador ver o que sobrou”, diz Wollmann, que soma mais de 50 anos dedicados à produção de frutas. Na manhã de sexta-feira, associados da AMF analisaram o momento crítico do setor, que antes das cheias estava preocupados com possíveis impactos socioeconômicos do greening caso a principal doença que afeta os citros no mundo chegasse ao RS.

Pomares submersos

No Vale do Caí, estima-se que centenas de hectares de pomares submersos pelas águas tenham perda total. Em outros, o excesso de umidade no solo e no ar associado com dias de calor da semana passada causaram a queda das frutas, que apodrecem no solo. Acredita-se que as bergamotas das variedades Caí e Ponkan tenham perdas próximas a 70%. “Não vai ser possível pagar o custo de produção”, avalia Wollmann. Há relatos de propriedades que tiveram galpões, câmaras frias e máquinas arrastadas pelas águas. Os estragos comprometem a renda anual de famílias e ameaçam empregos na área rural. “Medidas de amparo precisarão ser tomadas ou o número de falências vai ser muito grande”, alerta o presidente da AMF.

O produtor Marcio Hansen relatou que seu pomar da variedade Ponkan não foi atingido pelas águas. No entanto, a lavoura acusou os efeitos do clima. “Mas caiu quase tudo já”, disse. Em situação parecida está o citricultor Igor Heinz, também de Montenegro. “Mesmo sem enchente, vamos ter nossos prejuízos”, afirmou. O presidente da AMF diz que os produtores também estão preocupados com os empregos no setor, mas que deverão enfrentar as dificuldades sem demitir, considerando que muitos funcionários as próprias casas nas cheias.

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Nos últimos dias, a AMF ajudou as comunidades flageladas com máquinas e distribuição de água. A Câmara Setorial da Citricultura deve se reunir na próxima quarta-feira, de maneira virtual, para compartilhar informações e analisar as repercussões das cheias na cultura. Também na próxima semana, devem se reunir as câmaras setoriais do milho, suínos e aves, uva e arroz.

A noz-pecan também deve sofrer grave impacto. A Abertura Oficial da Colheita da Noz-Pecã ocorreu em 25 de abril, no município de Anta Gorda. A expectativa para este ciclo era de crescimento. Nesta sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan) trabalhava para compilar dados e mensurar o tamanho dos estragos. O Rio Grande do Sul tem 1,6 mil produtores e concentra a maior área plantada da cultura da nogueira-pecã no país, com 7 mil hectares. No ano passado, foram colhidos em torno de 5 mil toneladas.

Avaliações setoriais

Um retrato da devastação em vários setores da agropecuária deve ser conhecido na próxima semana pelas câmaras setoriais agopecuárias da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). Estão previstas reuniões virtuais extraordinárias na terça-feira, com segmentos da uva e do vinho e do arroz, e na quarta-feira, com citricultura, aves, suínos e milho.


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