Estresse crônico pode afetar o ciclo menstrual; entenda

Estresse crônico pode afetar o ciclo menstrual; entenda

Estudo identificou que 77% das brasileiras tiveram irregularidades na menstruação durante a pandemia, devido à exposição ao estresse agudo e prolongado

Correio do Povo

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Um estudo recente feito pela American University of Beirut Medical Center (AUBMC), no Líbano, avaliou o impacto de vivenciar uma situação de guerra envolvendo mulheres com idade entre 15 e 45 anos. A pesquisa constatou que o estresse crônico, causado pelo trauma, resultou em anormalidades menstruais afetando de 10% a 35% das participantes.

Já um estudo realizado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, identificou que 77% das brasileiras tiveram irregularidades no ciclo menstrual durante a pandemia, devido à exposição ao estresse agudo e prolongado.

Segundo o ginecologista e obstetra Carlos Moraes, membro da Febrasgo, o estresse crônico tem sido associado a uma variedade de problemas de saúde, incluindo a irregularidade menstrual. “A sobrecarga de ansiedade e estresse gera mudanças no número de dias do ciclo menstrual, número de dias de menstruação, fluxo menstrual, coloração e odor da menstruação, além de alterações na libido”, afirma o médico.

Um estudo publicado na revista Fertility and Sterility identificou uma relação entre altos níveis de estresse e um risco aumentado de anovulação (falta de ovulação), o que pode levar a irregularidades menstruais. 

Como isso acontece

Segundo o ginecologista, as emoções estão ligadas à mesma região do cérebro responsável pela produção e controle de hormônios que regulam o ciclo menstrual. Quando o corpo é colocado sob pressão constante ou excessiva, ele secreta hormônios do estresse, como o cortisol, que altera os padrões de secreção de um hormônio chamado GnRH que, consequentemente, afeta a liberação de dois outros hormônios essenciais ao funcionamento ovariano e a ovulação: o luteinizante (LH) e o folículo estimulante (também conhecido como FSH).

“Quando os níveis de LH e FSH são baixos, os ovários podem não produzir estrogênio adequado para ocorrer a ovulação e, consequentemente, a menstruação, causando as alterações no ciclo menstrual. Essas alterações não resultam necessariamente na cessação total do ciclo menstrual, podendo ocasionar desde o início do sangramento antes do esperado (ciclos mais curtos) até atrasos menstruais que duram meses”, conta Carlos Moraes.

De acordo com o especialista, o atraso não acontece com quem faz uso de pílulas anticoncepcionais. “Isso porque elas fazem com que as mulheres tenham uma menstruação ‘artificial’, ou seja, a menstruação não acontece pelos hormônios naturais, mas pela ingestão de hormônios contidos na pílula (estrogênio e progesterona) e independe do funcionamento do ovário.”

Assim, o estresse repentino ou prolongado pode ter grandes efeitos nos hormônios reprodutivos, sendo uma maneira de proteção e preservação do corpo em momentos de ansiedade intensa, tornando improvável que uma mulher engravide durante estes períodos.

Exclua outras causas do atraso menstrual

Segundo o médico, qualquer mulher com atraso menstrual, que não utiliza nenhum contraceptivo, deve primeiro excluir a hipótese de uma gestação. Depois disso, é preciso considerar outros fatores que também podem atrasar ou até interromper a menstruação, como distúrbios da tireoide, síndrome dos ovários policísticos (SOP), transtornos alimentares (que podem inibir a produção de certos hormônios e interferir no ciclo menstrual), entre outras causas.

O que fazer

De acordo com Carlos Moraes, a mulher deve realizar, durante 3 meses, registros dos ciclos menstruais e dos sintomas relacionados. Se os ciclos continuarem anormais, deve ser marcada a consulta com um médico. Mas, se houver parada total da menstruação, vá ao especialista antes desse período.

Em relação às alterações causadas pelos impactos no estado emocional, segundo a psicóloga Monica Machado, fundadora da Clínica Ame.C e pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental, é crucial adotar estratégias de gerenciamento de estresse.

“O ideal é incluir atividades como exercícios físicos regulares, meditação, yoga e terapia com um profissional de saúde mental. Muitas vezes, a mulher não consegue lidar sozinha com um estresse crônico, que pode se prolongar e desencadear quadros mais graves de transtornos mentais, comprometendo não só o ciclo reprodutivo, mas diversas funções orgânicas”, diz Monica.


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