Inteligência artificial revoluciona criação e produção na moda brasileira

Ferramentas de IA criativa começam a transformar a rotina dos ateliês de moda, contribuindo para diferentes etapas do desenvolvimento têxtil

Iniciativas mostram como a inovação tecnológica está transformando toda a cadeia têxtil, desde a criação até a entrega final ao consumidor
Iniciativas mostram como a inovação tecnológica está transformando toda a cadeia têxtil, desde a criação até a entrega final ao consumidor Foto : Freepik / Reprodução / CP

Nos últimos anos, a digitalização da moda deixou de se limitar às vendas online. Cada etapa do processo criativo — da pesquisa de referências ao desenho técnico — vem sendo impactada por soluções tecnológicas que buscam otimizar tempo e reduzir o retrabalho. Se antes a criação de uma coleção envolvia uma longa sequência de etapas manuais, hoje começa a ganhar ritmo com o apoio de ferramentas que integram pesquisa, design e desenvolvimento dentro de um mesmo fluxo.

Nesse movimento, o uso da inteligência artificial tem se mostrado mais estratégico do que substitutivo. Em vez de criar no lugar do designer, ela atua como um suporte técnico, capaz de automatizar tarefas operacionais e dar mais precisão às decisões de estilo e de produto. É nesse contexto que surgem plataformas que conectam o olhar criativo à execução prática, diminuindo a distância entre o que se imagina e o que chega à fábrica.

Entre as grandes novidades nesse campo está a SY.A, lançada pela plataforma de pesquisa e tendências New&Now. A ferramenta, desenvolvida pela especialista em negócios de moda Symone Rech, parte de um princípio simples: aproximar o olhar da pesquisa da execução técnica de produtos.

Em vez de apenas indicar tendências, ela permite testar aplicações de referências de mercado diretamente na criação de novas modelagens, combinações de cor e texturas, além de gerar visualizações de produtos e desenhos técnicos.

Segundo Rech, o impacto mais relevante não está apenas na velocidade, mas na precisão que a tecnologia pode oferecer. “Pela primeira vez, uma plataforma de pesquisa incorpora uma inteligência artificial verdadeiramente criativa, não é apenas mais uma IA genérica aplicada à moda. Criamos uma ferramenta voltada especificamente para entender o olhar da indústria, traduzir referências visuais reais e gerar resultados práticos para equipes de criação e desenvolvimento”, afirma.

A inovação está em eliminar as etapas intermediárias que costumam alongar o processo criativo. Tradicionalmente, profissionais de criação precisam coletar referências, editar manualmente em softwares diversos, criar briefings e, finalmente, produzir desenhos técnicos, processos que podem levar dias ou semanas.

“Reduzimos drasticamente o tempo entre a inspiração e a execução, mais do que velocidade, entregamos precisão. A SY.A trabalha com base em pesquisa real de mercado, não em tendências genéricas ou abstratas. Isso significa que as equipes tomam decisões mais assertivas e comercialmente viáveis”, explica Rech.

Ela também ressalta que a inteligência artificial, quando pensada dentro do fluxo criativo, atua como parceira e não substituta.

“Chamamos de Inteligência Criativa justamente porque ela foi desenhada para dialogar com o processo humano de criação. Ela elimina tarefas operacionais e libera os profissionais para o que realmente importa: a decisão criativa e estratégica”, pontua.

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Além das soluções digitais voltadas à criação, a indústria têxtil brasileira vem incorporando avanços tecnológicos também na produção física das peças. Na Maquintex 2025, realizada em Fortaleza, foi apresentada a primeira máquina de costura industrial equipada com inteligência artificial, capaz de ajustar automaticamente torque e transporte do tecido, eliminando falhas comuns em costuras sobrepostas.

A inovação garante produtividade e qualidade, permitindo que áreas mais espessas sejam costuradas sem perda de ritmo, reduzindo retrabalho e aumentando a eficiência das confecções.

Outro destaque do evento foi a tecnologia cearense da VOTU RFID Solutions, que apresentou um sistema de inventário automatizado capaz de identificar até 15 mil peças em apenas uma hora, com participação mínima de operadores. Essa solução de leitura por radiofrequência, combinada à inteligência artificial, permite não apenas mapear grandes volumes de produtos de forma rápida, mas também gerar dados estratégicos para previsão de demandas, otimização logística e tomada de decisões mais assertivas.

Iniciativas como essas mostram como a inovação tecnológica está transformando toda a cadeia têxtil, desde a criação até a entrega final ao consumidor.

*Sob supervisão de Mauren Xavier