Imigração alemã: a contribuição dos imigrantes para a economia do Rio Grande do Sul

Imigração alemã: a contribuição dos imigrantes para a economia do Rio Grande do Sul

Há 200 anos chegaram os primeiros alemães ao Estado. De lá para cá, muitos negócios e indústrias nasceram

Por
Felipe Faleiro

A pujança da economia do Rio Grande do Sul ao longo dos séculos deve-se, em grande parte, às contribuições dos imigrantes. Revoluções e disputas territoriais à parte, muitos negócios nasceram aqui pelas mãos dos pioneiros e seus descendentes. Mais recentemente, dentro de um processo de mundo sem fronteiras, companhias alemãs com atuação global passaram a fixar-se no Estado, ajudando a impulsionar o desenvolvimento desta região até os dias atuais.

No contexto da chegada dos primeiros colonos de origem germânica, há 200 anos a serem completados no próximo dia 25 de julho, é preciso reconhecer que tal chegada foi um dos fatores que consolidou o território gaúcho como referência econômica, desde os primeiros caixeiros-viajantes, ou Musterreiters, profissionais que, no início da imigração, percorriam longas distâncias nas colônias e em Porto Alegre. “Vejo a contribuição desta cultura como algo extremamente relevante para o desenvolvimento do Estado e do país”, afirma o empresário Agnelo Seger, representante da Federação das Indústrias do Estado do RS (Fiergs) na Comissão Estadual do Bicentenário da Imigração Alemã e cujos próprios antepassados chegaram ao território gaúcho em 1854.

Mas o Rio Grande do Sul era diferente no momento em que os primeiros 39 germânicos aportaram em São Leopoldo, no Vale do Rio dos Sinos, em 1824, a começar por ser a Província de São Pedro do Rio Grande. Após o desembarque, os viajantes recebiam do governo imperial lotes de terras de 48 a 77 hectares. Na visão da pesquisadora Tatiane Bartmann, então mestranda pela PUCRS, em artigo apresentado no 11º Encontro Estadual de História, em 2015, o imigrante alemão “destaca-se como importante elemento motivador da industrialização no Rio Grande do Sul”.

O conceito é seguido por outros, como Heloísa Reichel, das universidades Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), na obra "A industrialização no Rio Grande do Sul na República Velha". Já os pesquisadores Lucildo Ahlert e Sirlei Gedoz, da Universidade do Vale do Taquari (Univates), disseram que “provavelmente, o imigrante possuía um poder de compra maior do que aqueles que, radicados em outras regiões do país, se integraram à massa assalariada do campo e da cidade”.

Há, conforme Tatiane, três visões no ambiente acadêmico sobre como o imigrante alemão transformou uma indústria até então baseada em meios e produtos artesanais em grandes negócios. Em uma delas, o industrial germânico seria o antigo artesão que desenvolveu seus empreendimentos. Uma segunda diz que houve uma ruptura, pois, quando os proprietários de terra reuniam rendas suficientes para importar itens do exterior, os estabelecimentos artesanais eram extintos. Já a terceira afirma haver coexistência entre ambos.

Na realidade, não há um consenso de como a indústria “virou a chave”, mas há certas características que poderiam explicar este processo. Imigrantes estabelecidos em diferentes colônias fabricavam produtos distintos, de forma geral utilizando o conhecimento aprendido previamente. Para o professor Martin Dreher, doutor em Teologia pela Universidade Ludwig Maximilian, de Munique, na Alemanha, criador do Núcleo de Estudos Teuto-Brasileiros na Unisinos e autor de mais de 50 livros, os imigrantes passaram a se capitalizar e a exportar primeiramente produtos coureiros, depois os excedentes de alimentos.

“A partir de 1824, o Brasil passa a receber gente que tem métodos mais avançados de agricultura do que os existentes até então por aqui. Havia uma infinidade de profissionais desembarcando”, afirma Dreher. Conforme ele, o Império, no século XVIII, havia proibido atividades como as de tecelão, confiscando e incendiando, por exemplo, rocas e teares dos açorianos em Santa Catarina. “Eles (Império) queriam que os produtos viessem de Portugal”, conta o professor.

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