Imigração alemã: Conheça empresas fundadas por imigrantes no RS

Imigração alemã: Conheça empresas fundadas por imigrantes no RS

Muitos negócios começaram atuando localmente, mas depois expandiram suas ações nos demais estados do País

As primeira aeronaves da Varig vinham da Alemanha

Por
Felipe Faleiro

“Em nosso modelo de atuação, conseguimos estar mais próximos das comunidades, bem como contribuir com a preservação da identidade cultural, que para nós, é um patrimônio gigantesco das nossas regiões, gerando impactos positivos”, diz Tiago Schmidt, presidente do Conselho de Administração da Sicredi Pioneira, justamente a primeira a ter sido fundada por Amstad.“Quanto mais preservamos esta identidade, mais reforçamos, por exemplo, a matriz econômica do turismo. Por isso, cada cooperativa cuida de uma região específica, respeitando e fortalecendo estes laços”, acrescenta Schmidt.

Criada em 1927, em Porto Alegre a partir das ideias do alemão Otto Ernet Meyer Labastille, a Varig, primeira companhia aérea brasileira, foi conhecida por sua qualidade e seu marketing de encher os olhos, e não raro figurava entre as melhores aéreas privadas do planeta. Da Alemanha também vinham inicialmente as aeronaves operadas pela companhia. A partir de sua primeira rota entre a capital, Pelotas e Rio Grande, a empresa passou a dominar os céus de todo o mundo, inaugurando destinos para quase todos os continentes. A empresa ingressou em recuperação judicial em 2009 e em falência no ano seguinte. No entanto, seu legado irá persistir, por exemplo, no empreendimento Flying Park Memorial Varig, a ser implementado em Nova Petrópolis, inclusive com a exposição de uma antiga aeronave Boeing 727.

Negócios alemães chegam ao RS

Com a passagem das décadas, mais empresas alemãs aterrissaram no Rio Grande do Sul — literalmente, no caso da Fraport Brasil, empresa concessionária do Aeroporto Internacional Salgado Filho por um período de 25 anos. Em contraste a isso, ainda há muitos pequenos e médios negócios, principalmente em municípios do interior gaúcho, preservando a tradição germânica, geralmente no ramo gastronômico, e considerando as especificidades locais.

Assim, nestas cidades, há uma profusão de cafés coloniais, restaurantes, cervejarias, lojas de artigos típicos, sítios de lazer e o que mais se puder imaginar. Com efeito, caminhos turísticos e iniciativas como a Rota Romântica, entre Nova Petrópolis e São Leopoldo, o Vale Germânico, entre São Leopoldo e Santa Maria do Herval, o Rio Pardinho, em Santa Cruz do Sul, a Rota Germânica, em Teutônia e Westfália, entre outros, foram criados para atrair turistas e movimentar a economia local, além das festas típicas presentes em praticamente todos os municípios.

São Leopoldo, berço da colonização alemã, hoje conta com escritórios e fábricas de companhias nascidas naquele país, como a SAP, de tecnologia, Gedore e Stihl, de ferramentas diversas. Na cidade, a Câmara Brasil-Alemanha no Rio Grande do Sul (AHKRS) tem cinco empresas vinculadas, que geram entre sete a oito mil empregos diretos, e somente três delas já ajudam a contribuir com 30% do Produto Interno Bruto (PIB) local. O Brasil, conforme a entidade, tem o maior parque fabril de empresas alemãs fora do país europeu, com investimentos diretos de 18 bilhões de euros, por volta de R$ 100 bilhões.

De acordo com Seger, da Fiergs e da Comissão Estadual do Bicentenário, nos tempos passados era “extremamente importante” que uma pessoa também falasse o alemão para ser contratada em uma empresa de varejo de ascendência germânica. “Quando chegava algum cliente do interior, a ideia era a de que ele se sentisse em casa. Hoje, isso não é mais tão relevante”, contou o empresário, que também é CEO do Grupo Herval, com sede em Dois Irmãos, e especializada em segmentos como o moveleiro, de tecnologia e varejista.

Para ele, a inspiração germânica nas empresas brasileiras traz confiabilidade para a clientela em geral. “Vejo que em muitas coisas cultivamos mais tradições aqui do que na própria Alemanha. Os grupos de dança e sociedades geram muito entusiasmo no pessoal (do exterior) que vem aqui instalar máquinas na nossa companhia, por exemplo. Há até uma disputa dentro do fornecedor de quem virá. E temos marcas na empresa às quais fazemos questão de ressaltar esses valores germânicos”, diz ele.

Na visão do presidente da AHKRS, Cleomar Prunzel, a imigração alemã, bem como de outras etnias, foi fundamental para a formação da identidade gaúcha: “Em todas as áreas, tudo guarda traços dos que chegaram aqui, no caso dos alemães, 200 anos atrás. Sem essas heranças, seríamos outro povo, nossas cidades seriam outras, tudo seria diferente. Somos o que somos pelo que nos foi passado. As empresas alemãs, especialmente, trouxeram modos de fazer que, por se mostrarem acertados, acabaram se disseminando, ajudando a criar uma cultura empresarial e produtiva própria, que hoje nos diferencia dos demais estados do Brasil.”

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