Esportes

Como está o projeto Remar para o Futuro um ano após acidente que vitimou sete atletas

Após tragédia em 2024, iniciativa em Pelotas supera dificuldades e segue investindo no esporte

Projeto sofreu um baque em 2024 com a morte de sete atletas e do seu idealizador
Projeto sofreu um baque em 2024 com a morte de sete atletas e do seu idealizador Foto : Divulgação / CP

Há um ano, o esporte brasileiro ficava mais triste. Na noite de 20 de outubro de 2024, um acidente na BR 376, em Guaratuba (PR), tirou a vida de sete jovens entre 15 e 20 anos. Todos eram atletas do Remar para o Futuro, projeto criado há uma década, em Pelotas. Entre os remadores, apenas um sobrevivente: João Pedro Milgarejo, então com 17 anos. Também faleceram na tragédia o coordenador da equipe e idealizador do projeto, Oguener Tissot, e o motorista da van, Ricardo Leal da Cunha.

O acidente aconteceu quando o motorista de uma carreta perdeu o controle do veículo e chocou-se com a van que transportava os atletas. Com o impacto, a van bateu em um terceiro carro e saiu da pista, da mesma forma que a carreta, que caiu por cima da van, causando as mortes.

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O contexto do acidente só aumenta a tristeza pelas perdas. As jovens promessas voltavam justamente do Campeonato Brasileiro, realizado em São Paulo, na qual haviam conquistado medalhas. A mesma competição aconteceu agora em 2025 e teve, novamente, a participação do Remar que, além de Milgarejo, contou com a atleta Brenda Madruga, que só não estava na van com os amigos naquela fatídica noite, porque precisou voltar a Pelotas um dia antes.

Apesar das dificuldades, projeto segue em frente

O projeto seguiu em frente, apesar das dificuldades. Atualmente, 35 jovens treinam remo no Arroio Pelotas. A sede Aníbal Vidal, do Centro Português 1º de Dezembro continua abrigando o Remar. No local, além do remo indoor, os atletas recebem orientações e praticam musculação, condicionamento aeróbico e pilates. Para o coordenador geral, Fabrício Boscolo, 2025 foi um ano de sobrevivência e manutenção do projeto, após a tragédia, que além de Tissot, idealizador do projeto, também tirou a vida dos jovens Angel Souto Vidal (16 anos), Helen Belony (20), Henry Fontoura Guimarães (17), João Pedro Kerchiner (17), Nicole da Cruz (15), Samuel Lopes Benites (15) e Vitor Fernandes Camargo (17).

“Denominei como um ano de reconstrução, pois fomos literalmente destruídos. Nesta fase, a minha maior preocupação é manter o projeto vivo, funcionando”, observa. Boscolo lembra que era necessário organizar o cotidiano para que o Remar Para o Futuro pudesse seguir oferecendo um serviço de excelência à comunidade pelotense. “Penso que o projeto está cumprindo o seu propósito”, completa.

Uma onda de comoção tomou conta do país nos dias seguintes ao acidente, mas para Boscolo, objetivamente, poucas pessoas e empresas de fato auxiliaram o projeto e aceitaram trabalhar na perspectiva de como estavam sendo pensadas as atividades e o cotidiano do Remar.

“Acredito que o importante é que seguimos forte, no sentido de se ajudar, dando suporte uns aos outros, tentando expandir as atividades e, por óbvio, contamos com alguns parceiros que acreditam no nosso propósito”, destaca.

Planejamento inicial do Remar não previa competições para 2025, mas foi alterado | Foto: Divulgação / CP

Recursos de apoiadores e institucionais

Afora cinco apoiadores, o projeto também recebe recursos oriundos de financiamento da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer (Pró Esporte), que auxiliam nas viagens, como a mais recente para o Rio de Janeiro, quando toda a delegação viajou de avião. Além disso, Milgarejo e Brenda também recebem recursos do Ministério do Esporte, via Bolsa Atleta. O remador recebe o benefício devido à vitória no Campeonato Brasileiro do ano passado. “Do ponto de vista financeiro esta é a ajuda que ele tem tido de forma regular e a Brenda também”, observa Boscolo.

O coordenador admite que, um ano após o acidente, o projeto segue com uma série de dificuldades. “Temos problemas no nosso cotidiano, com recursos materiais e estruturais, mas somos resilientes e seguimos, em conjunto com os familiares de alguns atletas que estavam no acidente e que têm outros filhos que seguem treinando forte conosco”, aponta. Além dos patrocinadores e apoiadores pessoais, o Remar realiza promoções para arrecadar recursos e manter as atividades. Em maio, o projeto realizou o primeiro Café da Tarde do Remar. “Foi um momento muito legal de compartilhar o espaço com a comunidade. Na oportunidade, vendemos cestas de café da manhã”, recorda. Em julho, o projeto promoveu a primeira Festa Julina. Já em setembro foi realizada uma feijoada na sede social do clube, com mais de 150 participantes.

Ano não teria competições para o Remar

Boscolo afirma que após o acidente, a ideia era que 2025 não fosse dedicado às competições.

“Na perspectiva competitiva, não seria um ano que vislumbrávamos qualquer competição, mas não conseguimos, pois nossos atletas são tão dedicados, pujantes e esforçados que também sentiam a necessidade de se testarem e uma perspectiva competitiva”, justifica.

Assim, em julho, o grupo participou do Campeonato Gaúcho de Remo Indoor, na Capital, onde obteve, nas palavras do coordenador, um “sucesso avassalador”. “Conseguimos as duas vagas para os Jogos da Juventude de Remo, onde atletas do Remar representaram todo o Rio Grande do Sul e ambos voltaram com medalhas de prata e bronze tanto nas provas individuais como em dupla”, destaca.

Bom desempenho no Campeonato Brasileiro

Recentemente, o projeto esteve representado com seis atletas, na terceira etapa do Campeonato Gaúcho de Remo, onde conquistou 12 medalhas. Para o Campeonato Brasileiro de Barcos Longos, no Rio de Janeiro, levou 11 atletas e, somadas todas as categorias, voltou de lá com 16 medalhas. “É importante dizer que é difícil para nós reviver a data neste contexto. Milgarejo e Brenda participaram da competição e seguem até hoje com acompanhamento psicológico e psiquiátrico para o cuidado com a saúde mental. Esperamos que este suporte possa dar elementos para que sigam fortes nos seus propósitos”, relata.

Para Boscolo, o ano foi desafiador para o Remar como um todo, envolvendo articulações com diferentes setores da sociedade civil. O resultado, contudo, compensa. “Tenho convicção que o nosso esforço foi, tem sido e continuará sendo recompensado a partir da felicidade nos olhos de cada pessoa que escolheu estar conosco vendo a materialização dos sonhos do Oguener, dos jovens que nós perdemos de forma muito triste. É uma situação bastante difícil, mas precisamos manter o nosso propósito, pois o impacto que o Remar tem na vida das pessoas é muito profundo”, opina. Boscolo tem a convicção que o projeto é um mecanismo de modificação estrutural da sociedade.

“Por este motivo seguimos remando para o futuro juntos, cada vez mais fortes, mais rápido, mais longe”, completa.