Água do Sinos começa a ceder, mas famílias seguem afetadas pela inundação em Campo Bom

Água do Sinos começa a ceder, mas famílias seguem afetadas pela inundação em Campo Bom

Resgates de animais também continuam ocorrendo nas regiões mais baixas do município

Felipe Faleiro

Viviane Arnold, moradora do bairro Barrinha, perdeu tudo na enchente

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Gradualmente, a água do rio dos Sinos está baixando no município de Campo Bom, na região metropolitana, mas ainda há centenas de famílias alojadas nos ginásios do CEI, Municipal e no Sesi, este último acolhendo mais de cem pessoas de São Leopoldo. Conforme o coordenador da Defesa Civil Municipal, Paulo Silveira, as regiões mais afetadas foram os bairros Mônaco, 25 de Julho, Porto Blos, Vila Rica e Operário, além da Barrinha. De acordo com a Prefeitura, às 15h50min, o nível do Sinos estava em 7m58cm, um metro abaixo da máxima histórica de 8m58m registrado na sexta.

No bairro Barrinha, um dos mais atingidos, em algumas casas já é possível mensurar o estrago. Muitos perderam tudo, e outros ainda realizam resgates, principalmente de animais de rua perdidos. Nas ruas, só é possível transitar utilizando retroescavadeiras, que servem como "ônibus" aos habitantes locais. "Toda a situação foi bem trabalhosa, porque muitas famílias ficaram em casa com medo de que houvesse saques. Na sexta-feira ainda, conseguimos resgatar todos de barco. Não tivemos nenhuma vítima, graças a Deus", resumiu Silveira.

Também na tarde desta segunda, o desenvolvedor de software Victor Henrique Ghilardi ingressou na água com a missão de resgatar três cães de rua assustados que estavam no telhado de uma casa. Subiu no local e, por pouco, ele mesmo não caiu de lá. Dois foram retirados, porém o terceiro escapou. Ele disse já ter resgatado por volta de cem animais desde o começo da enchente. "Os bens materiais o pessoal retoma. Mas quanto aos bichinhos que morreram não há o que fazer. É triste ver o pessoal perdendo tudo de novo, porque isso é uma situação recorrente. Não é nenhuma surpresa para ninguém. Não é um acidente, poderia ter sido prevenido". A especialista em atendimento ao cliente Viviane Arnold foi outra moradora da Barrinha que perdeu todos os itens de casa.

Á água subiu a cerca de 1,50m de altura de sua parede. Hoje, já havia baixado até quase o portão externo. "Agora é trabalhar para limpar o que sobrou. É um cenário de guerra. Quando saímos de casa, colocamos tudo em cima de cadeiras, achando que a água não subiria. Mas nunca mais parou de subir. Quando abri a porta hoje pela manhã, o cheiro também era horrível. Parecia que estava cheirando dentro de um bueiro", relatou ela. Outra moradora, que não quis se identificar, disse que mora há 18 anos no local, contudo agora irá embora para outro município. Enquanto isso, as doações seguem chegando nos locais de coleta, que também são abrigos.

Voluntários

A Prefeitura de Campo Bom afirma que cerca de três mil pessoas ficaram desalojadas, e 300 desabrigados foram levados aos abrigos públicos. No ginásio do CEI, muitos voluntários se revezavam em diversas tarefas, como separação de roupas, alimentos, produtos de higiene e limpeza. "Estamos recebendo muitas roupas, tanto que estamos liberando à vontade para o pessoal levar. Escutávamos que viria uma enchente, mas não imaginávamos que seria nesta proporção. E a gente se coloca um pouco no lugar das famílias neste momento. Tentamos abraçá-los de tudo quando é forma, dando assistência, carinho, conforto", afirmou a secretária de Desenvolvimento Social e Habitação, Vanessa Sommer, que assumiu a função há um mês.

Abrigada no CEI com seus quatro filhos de onze, dez, seis anos, e o menor de apenas onze meses, a dona de casa Cleonice dos Santos afirmou que havia se mudado havia pouco tempo do bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, para o 25 de Julho, justamente para escapar das enchentes em sua antiga casa. "Vou me preparar agora para uma nova vida, porque aquilo ali acabou. Móveis, foto, tudo. Minha comadre me resgatou e nos trouxe para cá. Ainda não imagino o que sou fazer. Vou pensar no básico, que é cuidar deles, e dia após dia ver o que vai acontecendo com o resto. Agora estou bem acolhida", disse ela.


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