"É a natureza nos devolvendo o que jogamos nela", diz morador sobre lixo na orla do Guaíba

"É a natureza nos devolvendo o que jogamos nela", diz morador sobre lixo na orla do Guaíba

Sujeira acumulada às margens do curso d'água em Porto Alegre segue preocupando visitantes nesta segunda

Felipe Faleiro

Entulhos de todos os tipos estão espalhados nesta segunda pela grama da orla

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A orla do Guaíba seguia repleta de lixo nesta segunda-feira, mesmo mais de dez dias após as chuvas intensas que atingiram Porto Alegre e a região metropolitana. O temido vento no quadrante sul empurrava a água de volta às praias, trazendo consigo a sujeira e os entulhos diversos, a exemplo de materiais orgânicos, tênis e plásticos. No trecho 2 da orla, próximo à saída para a Rótula das Cuias, o lixo inclusive era trazido pela água até a ciclovia, frustrando quem passeava pela área no período da manhã.

O casal Glauciane e Mateus Röhsig, ela assistente social e ele analista de TI, ambos moradores do Centro Histórico, estavam na área do parquinho da orla em meio às rajadas de vento que agitavam as águas do Guaíba. Perto deles, montes de entulhos já se acumulavam. “Não tínhamos notado isto aqui, mas, com certeza, é algo que nos preocupa bastante, e enfeia a orla. É preciso ter mais cuidado”, comentou Mateus. Inclusive as grades das quadras do local estavam tomadas pelo lixo.

O aposentado Roberto Navarro Messias, morador do bairro Cidade Baixa, caminhava pela orla e parou por alguns momentos para observar a triste cena. “Isto aqui é a natureza nos devolvendo tudo o que jogamos nela. Uma hora ou outra, o lixo acaba sempre voltando. Ainda temos muito o que evoluir, e precisamos pensar nas gerações futuras”, comentou ele. O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) afirmou que retirou, somente no último domingo, 42 toneladas de resíduos dos locais atingidos por alagamentos no Extremo-Sul de Porto Alegre.

Os lugares onde houve recolhimento foram o Túnel Verde, no bairro Ponta Grossa, Parada 21, no Lami, Beco Chapéu do Sol, no Belém Novo e Comunidade Salso, na Restinga. Além dos entulhos, foram recolhidos materiais considerados inservíveis, como móveis e eletrodomésticos. Procurado para falar sobre a orla, o órgão afirmou que tem uma equipe fixa em cada ponto, nos trechos 2 e 3 da mesma e ainda junto à Fundação Iberê Camargo. 

“Destacamos que o nível do Guaíba está muito alto, e, portanto, o departamento só está limpando locais onde as águas estão mais baixas e o acesso é possível. Para uma limpeza mais completa, o nível do Guaíba precisará baixar mais”, destacou o DMLU. A GAM3 Parks, concessionária responsável pelo trecho 1 da orla, também foi procurada, e a reportagem aguarda retorno. Enquanto isso, o nível do Guaíba segue estável, ao redor de 2,50 metros na régua de medição do Cais Mauá, conforme análise da MetSul Meteorologia. 

Na quinta-feira da semana passada, o curso d’água atingiu o terceiro maior nível oficialmente medido desde a grande enchente de 1941, com 2,70 metros no Cais. Conforme a MetSul, mesmo com o vento norte dos últimos dias, o rio Jacuí, principal afluente do Guaíba, segue com grande vazão, com contribuições dos rios Sinos, Caí e Gravataí, e, em menor escala neste momento, do Taquari.


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