"É complicado conhecer o rio Gravataí quando ele está morrendo", diz moradora da margem

"É complicado conhecer o rio Gravataí quando ele está morrendo", diz moradora da margem

Nível do curso d'água segue próximo do zero na régua da Estação de Tratamento de Água (ETA) de Gravataí

Felipe Faleiro

Barranco surgiu onde normalmente a água corre, no bairro Mato Alto, em Gravataí

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O “pulo” de alguns peixes no rio Gravataí, um dos principais mananciais da região Metropolitana, ultimamente tem sido de apreensão para alguns moradores de seu entorno. “Eles estão buscando oxigênio”, conta a aposentada Naudília Silva da Silva, que vive em uma casa à beira do curso d'água há dez anos, com seu companheiro, o pescador profissional Fernando Hoffmann. Eles moram no bairro Mato Alto, em Gravataí, a cerca de 100 metros de onde a Corsan construiu uma contenção há poucos dias, a fim de reduzir os efeitos da estiagem. 

Na manhã de hoje, Naudília estava na beira da água, com seu cão, enquanto Hoffmann circulava pelo leito com um barco a motor. “É complicado conhecer o rio assim, quando ele está morrendo”, desabafa ela.

Estiagens mais severas já foram vistas em outros anos na área, mas a de agora produz efeitos gritantes no atual curso. A área onde ela e o animal estavam assentados geralmente é coberta por água, informação atestada pelas pequenas conchas e plantas subaquáticas que agora são visíveis na terra seca. Facilmente, afirma a moradora, o rio já desceu em torno de cinco metros.

“Normalmente, o rio corre lá naquele barranco”, aponta ela para uma raiz de árvore, mais de dez metros adiante. O trajeto do Gravataí ao longo do município é um dos mais críticos, aponta o Boletim de Estiagem da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí. Nesta quarta-feira pela manhã, a régua na Estação de Tratamento de Água (ETA), mantida pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), marcava um centímetro pelo terceiro dia seguido. Nos quatro dias anteriores à última terça-feira, em nenhum a cota ultrapassou dois centímetros. 

A esperança reside na chuva. Também na manhã de hoje, a fina garoa trouxe algum alento, ainda que insuficiente. Em períodos normais, é possível pescar traíras e até dourados nas águas turvas. Mas este não é um destes momentos.

A captação de água para os produtores rurais continua suspensa desde 24 de dezembro do ano passado, mas situações em flagrante de supostos desvios, como o sistema de bombeamento descoberto na semana passada em uma fazenda arrozeira na região de Águas Claras, em Viamão, mostra que o trabalho de conscientização é longo.

De volta a Gravataí, no popular Balneário Passo das Canoas, do final da tarde de segunda-feira, até ao menos o início da tarde desta quarta, o nível do rio Gravataí caía um centímetro a cada quatro ou cinco horas, de acordo com a régua de medição da Sema.

Enquanto isto, no Mato Alto, Laudília aponta que, por enquanto, a obra emergencial da Corsan não surtiu efeito. “O rio continua baixando. Dá muita tristeza observar uma situação destas. Estamos torcendo para que as chuvas retornem”, comenta ela.


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