Último dia do Seminário Cidade Bem Tratada debate soluções ambientais conjuntas entre poderes

Último dia do Seminário Cidade Bem Tratada debate soluções ambientais conjuntas entre poderes

Painéis em Porto Alegre trouxeram especialistas discorrendo sobre resíduos sólidos, sustentabilidade e reciclagem

Felipe Faleiro

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Encerra nesta terça-feira o 11º Seminário Cidade Bem Tratada, com painéis ressaltando a importância da sustentabilidade e do uso racional dos recursos naturais. Especialistas do Rio Grande do Sul e de fora do Estado estiveram reunidos durante dois dias no auditório do Ministério Público do RS (MPRS), em Porto Alegre, para tratar dos temas e debater possíveis soluções que possam congregar os poderes público e privado. O painel da manhã de terça-feira foi mediado pelo presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal) e prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal.
 
O idealizador do evento, o advogado da área ambiental Beto Moesch, disse que a importância do seminário se justifica por diversos aspectos, mas principalmente pelo baixo índice de coleta e reciclagem de resíduos sólidos no país. “O Brasil tem um dos piores índices do mundo nesta área. Reciclamos apenas 4%, e Porto Alegre, 6%, enquanto Chile e Argentina, 16%, Alemanha, 70%, e Portugal, 50%. A reciclagem gera empregos e renda mais do que qualquer indústria, e isto, infelizmente, não é pautado”, observou ele.
 
Conforme Moesch, mais da metade dos municípios gaúchos não têm sistemas de coleta seletiva, e há tecnologia disponível para prover melhorias naturais, tanto na preservação de espaços, aproveitamento da vegetação e pavimentação sustentável, apenas para citar alguns exemplos urbanos. “A solução para estes desastres que temos nas cidades, alagamentos, enxurradas, deslizamentos, que vemos anualmente, é proteger a natureza”, comentou o advogado.
 
João de Deus Medeiros, presidente do Conselho Regional de Biologia de Santa Catarina e coordenador-geral da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), falou a respeito sobre o agravamento da crise climática, que, na visão dele, “tem um efeito muito nefasto sobre o ambiente urbano”. “Há o grande desafio de acompanhar estas revisões de planos diretores, no sentido de fazer com que a legislação urbana crie condições necessárias para as cidades se adaptarem a esta nova realidade”, pontuou Medeiros.
 
Conforme ele, que vê de perto as condições da Mata Atlântica, um dos biomas mais degradados no Brasil, há um descompasso de legislações que “relativizam” a preservação. “Vivemos um momento muito delicado. O grande problema é esta falta de mobilização social, de maior acompanhamento da sociedade para se fazer um controle social mais efetivo e não deixar os nossos legisladores tão à vontade para dilapidar instrumentos importantes, como foi a Lei da Mata Atlântica e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação”, disse ele. 
 
Para Medeiros, projetos de lei no Congresso Nacional como o 364/2019, do deputado gaúcho Alceu Moreira, que remove campos de altitude do âmbito da lei mencionada, são uma “ameaça”. Já Pascoal ressaltou que o evento objetiva trazer experiências, tanto as boas, que podem ser replicadas, quanto as negativas, a fim de não serem repetidas. “Compartilhar boas práticas e criar algumas convergências são alguns motes importantes, a fim de construirmos consensos que possam nos fazer evoluir como sociedade e região. Estes temas, há poucos anos, passavam à margem da agenda política”, comentou o presidente da Granpal.

Correio do Povo
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