Ações solidárias refletem o espírito natalino e beneficiam centenas de pessoas

Ações solidárias refletem o espírito natalino e beneficiam centenas de pessoas

Conheça duas histórias de pessoas que decidiram mudar a realidade de dezenas de crianças e adolescentes de Porto Alegre

Felipe Faleiro

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Papai Noel, relembrado na época do Natal, está sempre no coração daqueles que creem nele. Dadas suas características de bom velhinho, distribui presentes aos pequenos bem-comportados ao longo do ano que se passou. Contudo, não é preciso ir tão longe, ou esperar o ano todo para identificar exemplos de pessoas que, mesmo não vestindo touca e roupa vermelha ou montadas em um trenó com renas, auxiliam suas comunidades ao longo dos 365 dias. Em Porto Alegre, duas destas histórias refletem verdadeiramente este espírito, mostrando que o Natal é feito todos os dias.

Germano Hofler tem 45 anos e atua como técnico judiciário no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). Fora do trabalho regular, é Papai Noel no Natal da Coragem, promovido pelo Instituto do Câncer Infantil (ICI). Ele mesmo foi paciente da instituição, que atualmente atende 400 pessoas, em sua grande maioria, crianças e adolescentes de todo o Rio Grande do Sul. “Fui atendido quando tive um câncer no osso da perna. Acabei perdendo ela por causa disto. Como era tudo novidade, não havia tanta informação como é hoje”, conta.

Isto foi no ano de 1995. Passado o grande susto e cumprido o tratamento, um tempo depois, Hofler retornou a uma vida praticamente normal. Hoje, ele é casado e tem um filho, Pedro Henrique, de 17 anos. “Permaneci no instituto como voluntário, para me apresentar como alguém que enfrentou e venceu o câncer, mas também para dar uma força às crianças que de alguma forma passam por um tratamento assim, às vezes perdendo algum membro”, conta.

O técnico judiciário recebeu, então, nos anos seguintes, um convite do ICI para atuar como Papai Noel, que ele considera como sendo o “auge da carreira voluntária”. “É o momento máximo de se apresentar como o próprio símbolo da esperança. Na época de Natal, a gente fica mais sensibilizado, e busca fé e esperança. Poder me apresentar como alguém que venceu a doença e, principalmente, como símbolo do Natal, é muito gratificante.”

Na festividade mais recente, realizada pelo ICI no último dia 14, na sede do Comando do Corpo de Bombeiros Militar (CBMRS), em Porto Alegre, centenas de crianças se reuniram em volta do Papai Noel para contar sobre seus pedidos. “O instituto chama não apenas pacientes, mas ex-pacientes também para esta festa. É um momento de troca para com as famílias. Quem está enfrentando, procura se espelhar naqueles que já passaram por isso. E quem passou, acaba dando uma força a quem ainda está enfrentando. Isto faz toda a diferença”, pontua ele.

“O Germano passa uma mensagem de muita esperança para nossos pacientes. Muitas crianças e adolescentes, como já o conhecem, o procuram também para conversar, trocar experiências e informações, bem como receber algumas palavras de conforto. Ele tem este papel muito importante de contribuir para que pacientes tenham força pra passar esse momento delicado da sua vida”, afirma a coordenadora do Núcleo de Atenção ao Paciente do ICI, Mônica Gottardi.

Mestre muda a realidade de dezenas de crianças a partir do esporte

Conhecido popularmente como “Jaca”, Alexandre da Rosa, 52 anos, é mestre em jiu-jitsu. Mora e trabalha no bairro Partenon, em Porto Alegre, onde divide o espaço de sua academia com a estofaria também gerenciada por ele. Fundada há 14 anos, a Jaca Team é hoje um celeiro de campeões da modalidade esportiva, oferecendo aulas gratuitas, todos os dias, para 76 crianças e adolescentes de 3 a 17 anos de comunidades carentes da Capital, como Campo da Tuca, Bom Jesus e Partenon.

Recentemente, Jaca comprou dezenas de quilos de alimentos do próprio bolso para montar e distribuir cestas básicas. “Saber que o que eu faço muda a realidade destas crianças é, para mim, o maior presente. Teve uma criança que foi expulsa seis vezes do colégio, e entrou para o jiu-jitsu. Hoje, ele é faixa cinza, e é o melhor aluno do colégio”, conta ele, sem esconder a emoção. Por volta de 400 alunos já passaram pelo tatame do mestre, muitos dos quais se tornaram campeões regionais, brasileiros e mundiais.

Alexandre comprou dezenas de quilos de alimentos do próprio bolso para montar e distribuir cestas básicas | Foto: Guilherme Almeida

Na academia, há cerca de 200 quimonos, a maioria adquirida já usada, e que são cedidos aos alunos que não têm condições de pagar. Jaca conta que nunca recebeu um centavo de incentivo do governo, por exemplo, e obtém os recursos para os alunos por meio de iniciativas próprias. “Consigo dinheiro para eles irem aos campeonatos na sinaleira. Uma vez consegui R$ 7 mil para um aluno juntando durante seis meses em uma caixinha de isopor”, afirma.

O atleta em questão é Felipe Fagundes, 13, morador do Campo da Tuca. O jovem se tornou bicampeão mundial, vencendo duas competições de nível internacional em sua categoria com apenas uma semana de diferença, em Abu Dhabi e São Paulo. A instrutora da Jaca Team, Júlia Nascimento, é outro exemplo de superação. Hoje faixa marrom de jiu-jitsu e atleta destacada no Rio Grande do Sul, a moradora do Partenon divide o tempo das diversas competições que participa com as aulas da faculdade de Direito na UniRitter, a qual está no 4º semestre.

O projeto, que está nas redes sociais, não pede dinheiro, mas simplesmente alimentos. Jaca cobra frequência na escola e costuma comprar materiais escolares aos alunos mais carentes. Perguntado se pode ser considerado um Papai Noel de todos os dias, Jaca responde simples. “Meu vício é ajudar o próximo. Graças a Deus tenho conseguido auxiliar todo mundo. Me considero um homem do bem, e se Papai Noel faz o bem, faz as crianças felizes, então me considero um Papai Noel do bem”.


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895