"A água sumiu da nossa volta": baixa do Guaíba preocupa região das ilhas de Porto Alegre

"A água sumiu da nossa volta": baixa do Guaíba preocupa região das ilhas de Porto Alegre

Moradores afirmam observar com atenção situação das águas, muitas vezes utilizadas para sua própria subsistência

Felipe Faleiro

Habitantes afirmam observar com atenção situação das águas, muitas vezes utilizadas para sua própria subsistência

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Moradores das ilhas de Porto Alegre, em sua maioria vizinhos ao Guaíba, estão preocupados com a baixa das águas, consequência da persistente falta de chuvas. São famílias em situação de vulnerabilidade social, especialmente da Ilha Grande dos Marinheiros, que, de uma forma ou de outra, dependem dele para sua subsistência, e se dizem afetados pelo recuo. Como consequência, as indesejadas algas, que deixam a água com aspecto esverdeado e cheiro forte nas torneiras, também começaram a reaparecer, segundo eles. 

As vias de terra que margeiam o Guaíba também levantam uma poeira que atrapalha a rotina dos habitantes da área. “O Guaíba está seco. Usamos ele para lavar roupas e louças porque está sempre faltando água. A água sumiu da nossa volta. Agora temos pátio nos fundos. Falta água dois ou três dias direto e quando volta, vem fraquinha. Quando isso acontece eu lavo roupa e até a minha louça na beira do rio”, afirma a diarista Isabel Jandira Braga, 36 anos, que mora na rua Santa Rita de Cássia. 

Já o comerciante Adão Carlos da Silva Oliveira vive com a esposa e três filhos, de 15, 10 e 3 anos, em uma casa na beira do Guaíba, na rua Nossa Senhora Aparecida. Ele, que diz não consumir esta água, tem um barco que utiliza com relativa frequência para recolher pasto na outra margem do Guaíba ou apenas circular por suas águas. Ontem pela manhã, Oliveira observou que o Guaíba estava cheio, e que, na semana passada, a situação estava ainda pior.

“Tem um canal aqui perto e o buraco dentro da água estava aparecendo. Agora até que ainda está bom”, disse ele, acrescentando que o início da proliferação de algas, que começam a ser visíveis na margem, é um fator que requer atenção. Na Ilha da Pintada, onde a pesca é uma das principais atividades, os efeitos da seca ainda não são tão evidentes na economia local, já que ela está proibida ao menos até 1º de fevereiro, em razão do período atual da piracema, segundo Gilmar da Silva Coelho, presidente da Colônia de Pescadores Z5. 

Foto: Guilherme Almeida

O local representa cerca de mil profissionais do setor em Porto Alegre e municípios próximos, como da região carbonífera. Somente na Capital, são em torno de 500. “Por enquanto, está tudo estável. Faremos uma reunião nas próximas semanas com os pescadores para avaliar os possíveis efeitos. Mas, sim, baseado na atual situação, eles acontecerão”, disse ele. Também ontem, às 11h15min, o nível do Guaíba, na estação fluviométrica do Cais Mauá, no Centro Histórico, mantida pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), estava em 46 centímetros, apenas um a menos do que a média histórica de janeiro, de acordo com dados da MetSul Meteorologia.


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