Alagamentos continuam nas ilhas e moradores temem repetição de enchente histórica

Alagamentos continuam nas ilhas e moradores temem repetição de enchente histórica

Enchente de 1941 devastou a região em Porto Alegre

Felipe Faleiro

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Salomão Souza Oliveira, 83 anos, conta que tinha um ano e oito meses de idade quando a histórica enchente de 1941 devastou a região das ilhas, em Porto Alegre. Morador da Ilha da Pintada, ele teme nesta segunda-feira o avanço mais recente das águas do Guaíba, que, segundo ele, podem chegar próximas ao nível de 82 anos atrás. “Já tem gente indo para o hospital por contato com essa água”, alerta ele, que diz querer levar o alerta para as comunidades locais. Os pescadores da Pintada e moradores em geral do Arquipélago conhecem bem o “rebojo”, que designa o vento sul que empurra de volta o fluxo da Lagoa dos Patos para o Guaíba e, por consequência, à terra. 

Tal ventania é a principal inimiga deles. A declaração de Oliveira, formado em aquicultura e um dos pescadores mais antigos da Pintada, decorre do fato de que, de acordo com ele, em 1941, a lagoa estava seca, e agora já está cheia, consequência das chuvas intensas dos últimos dias. Mais precipitações vêm por aí, o que agita os habitantes flagelados pelos alagamentos recentes. A Avenida Nossa Senhora da Boa Viagem, a principal da Ilha da Pintada, voltou a alagar em praticamente toda sua extensão, trazendo ainda mais frustração.

O professor Bruno Canal comanda um projeto social de qualificação profissional na Pintada há pouco mais de um ano, mas desde a última quarta-feira, a sede, que fica na Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, não recebe alunos. Ali, são atendidos 25 adolescentes de 14 a 18 anos. “Segunda e terça da semana passada até conseguimos voltar, só que depois não foi mais possível. Isto traz um prejuízo ao futuro deles”, afirmou Canal. 

Perto dali, a aposentada Nilva Maciel da Silva observava o Guaíba aos poucos se aproximar da entrada de seu portão, ainda que, conforme ela, a residência tem aterro. “Aqui é um dos últimos locais a entrar a água. Quem mora aqui já está bastante acostumado”, comentou ela, que tem uma doença autoimune e dificuldades para caminhar.

Na Ilha das Flores, ainda há um extenso alagamento na região das ruas 1, 2 e 3, vias laterais à BR 290. O segurança Juarez Dutra teve o pátio alagado, e para não ficar ilhado, pôs uma tábua extensa sobre a armação de cadeiras, a fim de poder se deslocar de casa ao portão, e fez o mesmo na casinha do cão Átila. “Ontem à noite, a água não estava tão alta quanto agora. Te digo que já enfrentei enchentes maiores, onde ela batia na cintura”, relatou ele, acrescentando que o fluxo do banhado junto à sua residência havia baixado, porém voltou a subir no último sábado. Na área, não havia indicações de bloqueios de trânsito, fazendo com que motoristas se arriscassem em meio à água.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895