Ambientalistas dizem que obras no Parque Harmonia vão descaracterizar Acampamento Farroupilha

Ambientalistas dizem que obras no Parque Harmonia vão descaracterizar Acampamento Farroupilha

Entidades dizem não ser contrários ao evento em Porto Alegre, mas criticam falta de transparência no projeto

Felipe Faleiro

Brack, do InGá, aponta locais da nova entrada do parque onde quero-queros fizeram marcas no concreto

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Representantes de movimentos ambientais de Porto Alegre se reuniram na manhã deste domingo junto à sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), ao lado do Parque Harmonia, na Capital, para divulgar um novo manifesto público em defesa da manutenção do Acampamento Farroupilha. A divulgação ocorreu ao mesmo tempo em que ocorria no outro lado do parque, junto à Rótula das Cuias, uma manifestação do movimento de tradicionalistas, de opiniões contrárias.

Os representantes das entidades ambientais pedem o aprofundamento das discussões sobre destes aspectos da obra, gestão adequada de resíduos, entre outros, e criaram, para isto, o movimento Salve o Harmonia, com mais de 30 participantes. “Consideramos ser um contrassenso por parte do MTG que permita que, nesta área onde há a cancha reta, haja uma roda-gigante”, aponta o professor do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e coordenador do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), Paulo Brack.

Ainda de acordo com ele, outra contradição é que as obras vão gerar “ilhas térmicas”, ou seja, áreas da cidade em que a temperatura média é maior em razão da ausência de árvores. Os movimentos estão ainda sustentados em uma representação encaminhada na semana passada pelo Ministério Público de Contas (MPC) junto ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), baseada em um pedido aberto pelo InGá e outras entidades, solicitando a suspensão ou limitação das obras por supostas irregularidades. O argumento dos ambientalistas cita uma entrevista recente de Alan Cristian Furlan, ex-diretor da GAM3 Parks, administradora do Parque Harmonia, em que ele aponta ter havido descaracterização do projeto original de reforma do espaço.

Outro documento citado por Brack que corroboraria as opiniões das entidades ambientais é uma manifestação da Estância da Poesia Crioula (EPC), órgão que reúne poetas e prosadores regionalistas. Em 1995, o EPC encaminhou ofício ao MTG opondo-se à construção no parque do chamado “Centro Cultural de Eventos”. Mesmo que o local tenha saído do papel, o  documento provaria, segundo eles, haver a manifestação de ao menos uma entidade representativa do tradicionalismo contra a “descaracterização” do Harmonia.

As árvores ditas pela GAM3 Parks e pela Prefeitura como compensação não convencem os movimentos, que respondem que as mesmas “poderão demorar até 40 anos para ficar da altura atual”, portanto, não removeriam a mesma quantidade de gases causadores do efeito estufa da atmosfera do que as atuais. Brack prevê que o Acampamento Farroupilha, da forma como projetado para os próximos anos, considerando as obras no parque, será deslocado para outro lugar de Porto Alegre.

“Provavelmente os organizadores não vão conseguir mais se estabelecer aqui nos próximos anos, e a Prefeitura já está pensando em deslocá-lo para outra área, porque não existirá mais a paisagem típica campeira. No processo, estão dizendo que queremos fechar o Harmonia. Não é verdade. Queremos a suspensão das atividades externas ao Acampamento, onde há a destruição da vegetação e da fauna”, disse ele, destacando que, entre os parques da Capital, o Harmonia é o que tem o maior número de aves, que perderam seu hábitat com as obras em andamento.


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