Ambientalistas pedem tombamento nacional do Parque da Redenção

Ambientalistas pedem tombamento nacional do Parque da Redenção

Iniciativa visa garantir a preservação ambiental e impedir novas intervenções no espaço

Felipe Samuel

Ana Maria Dalla Zen entregou material com as justificativas para o tombamento da Redenção

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Ambientalistas e integrantes do Coletivo Preserva Redenção se reuniram nesta segunda-feira, em Porto Alegre, na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Os ativistas entregaram à entidade uma carta pedindo o tombamento do Parque da Redenção como patrimônio nacional. A iniciativa visa garantir a preservação ambiental e impedir novas intervenções no parque, tombado em 1997 como patrimônio histórico, cultural, natural e paisagístico de Porto Alegre.

Representante do Coletivo Preserva Redenção, Ana Maria Dalla Zen explica que o parque é referência nacional e internacional, uma vez que foi sede de edição do Fórum Social Mundial. “Sempre acontecem grandes movimentos políticos. É um espaço de inclusão social significativa, reconhecido inclusive pelo arquiteto que fez todo ajardinamento e cujo modelo de Porto Alegre serviu de referência para outros trabalhos internacionais”, afirma, em referência ao arquiteto urbanista francês Alfred Agache. O documento encaminhado ao Iphan conta com apoio do arquiteto Carlos Fernando de Moura Delphim, que é membro da Comissão de Patrimônio Mundial da Unesco e referência em jardins históricos.

Conforme Ana Maria, a prefeitura pode alterar com leis o tombamento. “Em 2019, a lei foi alterada permitindo novas construções dentro da Redenção. É por isso que tem agora o Refúgio do Lago, aquele espaço gourmet lá dentro no local onde havia o orquidário. O orquidário foi destruído para dar espaço a um ambiental que é um gourmet de luxo, que é uma concessão privada”, critica. Ela destaca que o Coletivo Preserva Redenção foi criado em outubro de 2022 diante da ameaça para que o “parque fosse entregue à iniciativa privada”, por meio de uma concessão de 30 anos.

“A gente quer o tombamento nacional porque é uma garantia a mais de que não vai haver uma dinâmica de uma prefeitura que possa mexer nele”, reforça. “O Parque da Redenção é um território negro. O primeiro ano de vida dele foi em 1807. E todo movimento pela abolição da escravatura foi feito dentro dele. Como era uma várzea abandonada, passou a ser espaço de festas afrodescendentes, sempre se disse que é um território negro. E a redenção significa exatamente essa perspectiva de redenção das pessoas escravizadas”, completa. 

Ela recorda a história do local e a troca do nome para Parquer Farroupillha. “Nos seus cem anos foram feitas uma série de construções que foram importantes, dignificaram o parque, tanto assim que foi possível o tombamento porque ele é um patrimônio da cidade tombado pelo valor histórico, cultural e também ambiental. É um pulmão verde de Porto Alegre, com vários tipos de aves em suas migrações, e a flora bem específica da Redenção. Existem várias espécies que eram exóticas mas que se adpataram. Por isso queremos preservar esse espaço que é nosso”, afirma.

Superintendente do Iphan no RS, Rafael Passos explica que a entidade vai analisar o pedido, mas alerta que são necessários uma série de documentos. “A partir do protocolo, começa uma análise técnica, primeiro aqui, depois tramita na central em Brasília, até chegar à estância final que é o Conselho Consultivo, que tem participação da sociedade civil e de técnicos do próprio Iphan. É o Conselho consultivo que vai dar a palavra final do tombamento”, ressalta, destacando o rigor com que o Iphan trata a questão do tombamento nacional. 

“Muitas vezes é um pouco diferente e bem mais rigoroso que tombamentos municipais ou estaduais. Tem esse processo. O parque já tem tombamento municipal, o que não impede o tombamento nacional. Essas coisas podem se sobrepor, a gente vários bens no brasil que tem esse tombamento em diferentes níveis”, observa. Ele destaca a importância histórica da Redenção, com a presença negra e a exposição dos cem anos da Revolução Farroupilha. 

“Essa história toda demonstra, de início, um bom potencial para o parque ter esse reconhecimento como patrimônio nacional. A própria presença do auditório Araújo Vianna, que é um projeto arquitetônico relevante, do ponto de vista da arquitetura moderna de Porto Alegre, também tem esse destaque”, ressalta. “O pedido tem uma boa perspectiva, mas tem questões técnicas e burocráticas, no bom sentido, porque tem toda uma tramitação administrativa justamente pela importância que tem o tombamento nacional”, completa.


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