Após 24 protocolos na CEEE Grupo Equatorial, paciente com câncer e marido passam 13 dias sem luz em Porto Alegre

Após 24 protocolos na CEEE Grupo Equatorial, paciente com câncer e marido passam 13 dias sem luz em Porto Alegre

Após publicação da matéria, serviço foi restabelecido ainda nesta segunda-feira

Felipe Faleiro

Jorge Airton Ramires Pereira relata estar sem energia há 13 dias

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*Reportagem atualizada às 15h, após restabelecimento da energia.

O temporal do último dia 16 ainda não terminou para o casal de aposentados Jorge Airton Ramires Pereira e Karla Viviani Carvalho Pereira, moradores da rua Rafael Clark, bairro Partenon, zona Leste de Porto Alegre. O casal passou 13 dias sem energia elétrica, completados nesta segunda-feira, ambos são o retrato que ainda persiste em alguns locais, diante do que definem como um descaso extremo da CEEE Grupo Equatorial. Para agravar a situação, Karla recebeu diagnóstico recente de câncer de colo de útero e se recupera de outro de mama.

Após a publicação desta matéria e do envio do protocolo à CEEE Equatorial pela reportagem, o serviço foi restabelecido. A energia foi religada por volta das 12h30 desta segunda-feira, 29.

Jorge, que trabalhou décadas na Brigada Militar (BM), conta que abriu 24 protocolos para a CEEE resolver o problema, e só não fez mais por impedimento da própria empresa. Todos em vão. “Ligo para lá duas vezes por dia, de manhã e no final da tarde. Já é uma rotina”, afirmou ele. Morando há oito meses na área, o casal contou com a ajuda de um vizinho, que emprestou uma extensão de luz para o funcionamento de uma geladeira.

O banho dele tem sido gelado, e o da esposa ocorre na casa da mãe dela, também no Partenon. Na semana passada, a distribuidora afirmou que a luz em Porto Alegre e região metropolitana estava em um estado de “normalidade”, em razão da baixa quantidade de clientes sem o serviço. Conforme Jorge, o problema também ocorre na casa de sua vizinha, que sofre de esquizofrenia e apenas se alimenta de peixes.

Ambas as residências perderam tudo o que havia na geladeira. “No começo, os fios caídos bloquearam minha garagem, e não conseguia tirar o carro para minha esposa ir fazer uma cirurgia marcada. Relatei a situação para a ouvidoria da CEEE, porém não acreditaram em mim. Continuei esperando. No domingo, um senhor passou aqui de carro e se compadeceu de mim, e ele e mais meu cunhado retiraram os cabos”, contou.

Em seguida, Jorge fez contato com a Defesa Civil Municipal, apenas para se frustrar novamente. “Pegaram alguns fios e amarraram na árvore, e disseram que viria outro carro com uma equipe especializada. Até agora isto não aconteceu”, disse ele, relatando temer que os fios soltos possam estar energizados. Para o morador, “o sistema está falho, e me levando a fazer coisas erradas, algo que não é do meu caráter”, afirma.

Jorge exemplifica, dizendo que foi procurado por moradores próximos para que “pagasse por fora” para que a luz fosse consertada, algo que ele se negou a fazer. “Conta de luz, IPVA, IPTU, todos estão pagos, só que eles não me dão uma atenção mesmo com problema de doença”, desabafou. O casal tem um filho, que mora na zona Sul e está auxiliando como pode. O abastecimento de água voltou no dia seguinte ao temporal, e a rua de sua casa chegou a ficar bloqueada por galhos, que foram retirados pelos moradores e postos na calçada.

Além da distribuidora de energia, o policial aposentado também entrou em contato com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Procon municipal, Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) – onde disse ter recebido um longo prazo de 15 dias para verificação – e até sites de reclamações online. “Todos eles deram as costas para mim. Como vou acreditar no poder público? Do jeito que está, você fica desacreditado”. O caso foi encaminhado para a assessoria de Comunicação da CEEE Grupo Equatorial, que afirmou estar verificando a situação.


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