Após ciclone, Porto Alegre quer reestruturar plano de contingência e ampliar Defesa Civil

Após ciclone, Porto Alegre quer reestruturar plano de contingência e ampliar Defesa Civil

Comissão municipal que discute emergências se reuniu hoje pela primeira vez após fenômeno

Felipe Faleiro

Rodrigues, Freitas e Lucas atuaram durante o ciclone extratropical na Capital

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Passada a tragédia do ciclone, a Defesa Civil de Porto Alegre afirma que salvou 25 vidas durante a ocorrência. Nesta terça-feira, ocorreu na sede da coordenação do órgão, no bairro Menino Deus, a primeira reunião da Comissão Permanente de Atuação em Emergências (Copae) da Prefeitura após o evento climático. De acordo com o coordenador, Evaldo Rodrigues, houve o resgate de 15 pessoas em situação de rua ao longo do curso do Arroio Dilúvio, cujo leito não transbordou por pouco na região da avenida Ipiranga, e outras dez nos locais de deslizamento de encostas na cidade.

“Vimos na prática como os órgãos municipais e parceiros responderam a esta necessidade. Isto, para nós, foi motivo de muita satisfação, porque aquilo que pensamos e planejamos impactou bastante”, comentou ele. Porto Alegre tem apenas 11 agentes fixos da Defesa Civil. Um projeto encaminhado pelo prefeito Sebastião Melo à Câmara na semana passada pretende contratar de forma emergencial mais 30 agentes. “Desde março isto vem sendo construído”, defendeu Rodrigues, diante da coincidência de o encaminhamento da proposta ter sido feito em meio ao ciclone.

O coordenador adjunto do órgão, Evandro Lucas, afirma que tudo na ocorrência o impressionou. “Nossa equipe é muito pequena. Tivemos que nos desdobrar. Retiramos pessoas de casa e acomodamos em algum local. Trabalhamos bastante na avaliação e eliminação dos riscos.”. Ambos recordam da ocorrência no bairro Cascata, onde uma encosta desmoronou e um rapaz ficou parcialmente soterrado. “De certa forma, o resgate foi emocionante. Foi um trabalho que continuou após este atendimento inicial”, comentou Lucas.

"Olhar Porto Alegre de lupa"

O pesquisador em epidemiologia dos desastres, Abner Willian Quintino de Freitas, CEO de uma empresa parceira da Defesa Civil no Tecnopuc, relatou que a cidade respondeu bem ao ciclone, no âmbito da preparação dos riscos. “A resposta que a cidade deu hoje está dentro do que entendemos como curva de resiliência. Na quinta-feira, a Defesa Civil e a Copae já tinha a informação do risco, e na sexta-feira já começamos a restabelecer os serviços. Fechamos este ciclo literalmente hoje, entrando em uma fase do aprendizado. Ou seja, ver o que foi bom e o que pode ser melhorado para as próximas situações”, afirma Freitas.

Conforme Rodrigues, na reunião de hoje do Copae, Melo defendeu a reestruturação da Defesa Civil Municipal, mas disse que “é preciso melhorar o diagnóstico da previsão climática”. “Ele está priorizando isto. Ainda somos muito deficitários nestes termos. Agora é olhar Porto Alegre de lupa”, afirmou o coordenador. Uma das propostas reforçadas é revisar o Plano de Contingências de Proteção e Defesa Civil da Capital, que teve sua primeira e única edição até agora publicada na metade do ano passado. 

“Queremos dividi-lo em 17 capítulos, coincidindo com as 17 regiões da cidade, para entregarmos um produto mais refinado, fazendo um olhar mais específico para cada região. Hoje ele é único e genérico, e foi elaborado sem a conclusão do relatório das áreas de risco”, comenta Rodrigues. Com isto, será possível, por exemplo, segundo a equipe, encaminhar famílias em dificuldades para locais específicos, dependendo do local do desastre.

Galhos estão caídos há mais de dez dias em rua do bairro Tristeza | Créditos: Maria Eduarda Fortes

Árvore caída bloqueou rua há dez dias na Tristeza

Há 22 anos com um mercado na rua Almirante Índio do Brasil, bairro Tristeza, Ricardo Cunha está indignado com a presença de galhos de uma árvore na via, que caíram de uma planta morta há mais de dez dias, depois do ciclone extratropical que devastou parte de Porto Alegre. A árvore em questão, segundo ele, estava na calçada havia anos e havia protocolo junto ao serviço 156 para sua retirada. 

No último sábado, a energia elétrica na via voltou depois de oito dias sem luz e com angústias, fazendo ele perder alimentos armazenados e a paciência com a distribuidora CEEE Grupo Equatorial. “Do que adianta questionarmos a Prefeitura? Existe um jogo grande de empurra-empurra. A rua está bloqueada há dez dias, e ela se exime de qualquer responsabilidade. Quem passa por aqui precisa voltar e passar pelo outro lado”, critica ele. 

Ainda conforme o comerciante, há um impasse entre quem deve tirar o material, que está cercado por cavaletes do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). “Somente de viandas que não vendi, perdi de R$ 5 mil a R$ 6 mil. Teoricamente, fiquei oito dias com a loja fechada”, afirma Cunha. Ele conta que uma vizinha faz uso de insulina e precisava de energia elétrica no refrigerador, mas ficou o mesmo tempo com o aparelho desligado. O problema só foi plenamente resolvido com a volta da energia elétrica. 

“Ela ligou a geladeira em uma tomada onde havia uma fase. Eu, com meu comércio, não consigo isto, porque preciso das máquinas funcionando”, comenta ele. Procurada, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb), responsável pelo recolhimento, afirmou que as equipes de manejo arbóreo estão mobilizadas para atender as ocorrências após o ciclone extratropical. Quanto a esta ocorrência, “os moradores pedem a supressão de uma árvore e não remoção de troncos caídos”. A SMSUrb afirma que o caso já está na programação para vistoria.


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895