Após enchente, pescadores de Porto Alegre se dizem preocupados com possível mudança nos ventos

Após enchente, pescadores de Porto Alegre se dizem preocupados com possível mudança nos ventos

Membros da Colônia Z-5 relatam estar acostumados com alagamentos das vias da ilha da Pintada próximas ao Guaíba

Felipe Faleiro

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A cheia do Guaíba na região do Arquipélago é costumeira para os pescadores de Porto Alegre, que, nesta época, extraem das águas o pintado e o jundiá que representam grande parte de seu sustento e o de suas famílias. Na manhã desta sexta-feira, eles observavam o curso d’água invadir trechos de ruas como a Nossa Senhora da Boa Viagem, na ilha da Pintada, a partir da sede da Colônia Z-5. O nível no Cais Mauá, no Centro Histórico, caiu ao longo das horas, alcançando 2,39 metros no final da manhã, após ter alcançado 2,47 metros por volta do meio-dia de quinta-feira.

A estabilização das águas não significou, porém, sua baixa até ao nível do próprio Guaíba. Os profissionais da pesca estavam mais preocupados com um possível vento sul, que poderia represar a água e fazê-la entrar nas casas, o que, até então, ainda não havia acontecido. Foi o que ocorreu, por exemplo, em julho e principalmente outubro de 2015, quando a água foi tão forte que inclusive a sede da Z-5 foi tomada pela correnteza.

Hoje, o vento soprou de norte, mas já havia sido leste, conforme o presidente da Z-5, Gilmar da Silva Coelho. “Pode ver o movimento dos barcos, como eles circulam quando vão para dentro do Guaíba. Já estamos acostumados e agora até está bastante tranquilo”, observou Coelho. Em razão do feriadão de Independência, o local não abre nesta sexta, o que fez reduzir o movimento na área. Na principal rua da Pintada, e que margeia o rio, contudo, havia inclusive barcos amarrados diretamente nas grades das casas. 

“É que não tem como passar de carro”, justificou o também pescador Erni Silva, 60 anos, morador de outro trecho da Pintada, e que vive ali desde que nasceu. Caminhando com dificuldade, ele mostrou outra cena curiosa. Um vizinho seu, identificado apenas como Carlos, e que tem por volta de 80 anos de idade, pôs as galinhas que cria no telhado da casa simples de madeira onde mora. “Ele precisa garantir os ovos”, observou Silva. Os animais caminhavam por sobre a cobertura, enquanto a água estava na altura do solo. 

O morador em si não foi localizado para justificar a medida. Em ao menos três pontos da Pintada, funcionários da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) colocaram cavaletes para impedir o trânsito nas vias. Embora a situação atual seja relativizada pelos pescadores, há prejuízos com a forte correnteza, mas o presidente da Z-5 afirma que eles são mais de ordem logística. “Eles deixam de pescar aqui e vão mais para locais onde há enseadas, como mais distante no rio Jacuí, onde está mais calmo”, comentou ele.


Correio do Povo
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