Após protesto contra venda de parte de praça, Melo pede retirada de projeto da pauta da Câmara

Após protesto contra venda de parte de praça, Melo pede retirada de projeto da pauta da Câmara

Desafetação de 60 metros quadrados da Praça da Família Imigrante, em Porto Alegre, causou indignação da comunidade

Felipe Faleiro

Comunidade levou placas com dizeres contra a desafetação

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Moradores do Centro Histórico de Porto Alegre protestaram nesta segunda-feira contra um projeto de lei complementar da Prefeitura que desafeta, ou seja, vende parte da propriedade pública para outro ente, a Praça da Família Imigrante, na rua Riachuelo, quase esquina com a Caldas Júnior. A proposta foi protocolada pelo prefeito Sebastião Melo no último dia 30 de junho, mas estava na ordem do dia da segunda-feira para votação na Câmara Municipal, o que espantou comerciantes e frequentadores próximos, que alegam falta de diálogo sobre o assunto. Após o protesto, o prefeito Sebastião Melo pediu a retirada da proposição da pauta de votações.

O projeto aliena a praça à empresa Machado Paiva Participações Ltda., proprietária do Edifício Tuyuty, localizado na esquina das duas vias, e que é utilizado pelo Registro de Imóveis da 1ª Circunscrição Imobiliária de Porto Alegre. Os moradores e a prefeita da praça, a comerciante Marcia Quatrin Peripolli, alegam que o cartório prevê cortar árvores e descaracterizar a paisagem da mesma. Hoje, a praça em questão é cercada e conta com um portão, aberto de segunda a sábado, das 8h às 19h, sendo que o cercamento foi feito, segundo eles, pelo edifício Marília, que fica no outro lado da praça.

“Este processo afeta principalmente na biodiversidade. Nosso espaço já é pequeno, e a ideia é que haja uma construção de mais de 100 metros quadrados, fazendo da praça um canteiro de obras. Queremos um diálogo com esta nova empresa e o cartório que está vindo para cá”, comenta Marcia. Ela conta que, no início da proposta, em 2021, foi favorável ao projeto, porque a Machado Paiva teria dito que faria melhorias na praça, e manteria o diálogo com os moradores, o que não aconteceu.

“Mandei e-mail no ano seguinte a um funcionário do cartório falando das nossas ideias de parceria, mas nunca tivemos um retorno. Pensamos, então, que o prédio não tinha sido comprado. Na sexta-feira, para nossa surpresa, vimos que a venda deste pedaço da praça estava para a votação hoje. Nos assustamos, porque, depois que tiverem a posse, vão poder fazer o que quiserem. Não digo que agiram de má-fé, só estamos esperando o diálogo”, acrescentou Marcia. A Prefeitura, no projeto de lei, busca desafetar uma área de 60,9 metros quadrados, avaliada em R$ 154 mil.

Representante do cartório, Régis Borges esteve presente no protesto e disse ser a favor da conservação. Ele comentou uma versão diferente dos fatos. “Fomos surpreendidos, porque era um trabalho que vínhamos fazendo com os moradores. Chamamos o síndico do Marília e foi repassada uma carta para todos eles, além de termos conversado com os habitantes do entorno. Porém, o processo foi demorando, porque se trata de um edifício histórico. Nossa ideia não é e nunca foi retirar a praça daqui”, afirmou ele.

Conforme Borges, o cartório necessita de um “pequeno espaço, equivalente a 10% da praça, para exigências do plano de incêndio”, para a construção de uma escada de emergência, além da ampliação de uma área no canto norte do edifício, no lado contrário do portão, para a ampliação da área de atendimento do local. Segundo Marcia, o movimento viralizou de forma espontânea, atraindo a atenção de vereadores como Jonas Reis e Abigail Pereira, além de deputados estaduais. 

Ela própria contou que somente soube do interesse do cartório por meio de outra prefeita de praça da área central. “Comecei a cuidar, irrigar, colocamos uma banda para tocar aqui, fizemos meditações guiadas, aulão de ioga, então queremos ganhar tempo agora e somente dialogar com o pessoal do cartório. Somos a favor de colocar este prédio em funcionamento. Porém, queremos entender o que está acontecendo”, disse.

O que diz a Prefeitura

Em nota, a Prefeitura disse que Melo irá conversar com Marcia e “ouvir a comunidade para avaliar o projeto”. Acrescentou ainda que a proposta em si busca “qualificar” a praça, e que o projeto recebeu parecer favorável da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus). O Executivo também confirmou que a praça será adotada pelo Registro de Imóveis, “que ficará responsável pela preservação, revitalização e manutenção permanente do espaço, proporcionando melhor utilização pelos cidadãos”. 

A receita com a venda de parte do terreno será revertida para o Fundo Municipal para Restauração, Reforma e Manutenção do Patrimônio Imobiliário do Município de Porto Alegre.

"O projeto recebeu parecer favorável da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo (Smamus) e Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC). Ainda, em 27 de janeiro de 2022, os proprietários realizaram reunião com moradores do entorno e do condomínio Marília para apresentar a proposta, que teve a presença da hoje prefeita da praça, senhora Marcia Peripolli, e a concordância da maioria dos presentes, com exceção de uma moradora, conforme a ata do encontro", destacou o governo municipal em nota publicada ao final do dia. 

Confira a nota na íntegra

"O processo de alienação de parte da área pública (menos de 1/3 do espaço total) anexa ao histórico e tombado Edifício Tuyuty (na rua Caldas Jùnior esquina com Riachuelo) foi uma construção que envolveu diálogo com os órgaos municipais e a comunidade do entorno, no âmbito do Programa de Reabilitação do Centro Histórico. A sede do Registro de Imóveis da 1ª Zona de Porto Alegre contará com um Espaço Cultural e, ainda, com nova saída de emergência. 

Como parte da negociação, o Registro de Imóveis irá adotar a Praça Família Imigrante, ficando responsável por investimentos em preservação, revitalização e manutenção permanente do espaço verde, proporcionando melhor utilização pelos cidadãos. E a receita com a venda de parte do terreno será revertida para o Fundo Municipal para Restauração, Reforma e Manutenção do Patrimônio Imobiliário do Município de Porto Alegre.

O projeto recebeu parecer favorável da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo (Smamus) e Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC). Ainda, em 27 de janeiro de 2022, os proprietários realizaram reunião com moradores do entorno e do condomínio Marília para apresentar a proposta, que teve a presença da hoje prefeita da praça, senhora Marcia Peripolli, e a concordância da maioria dos presentes, com exceção de uma moradora, conforme a ata do encontro. 

O prefeito Sebastião Melo solicitou a retirada do projeto de lei (PLC 14/2023) da pauta de votação do Legislativo desta segunda-feira, 28, para aprofundar o debate com a comunidade e esclarecer eventuais dúvidas."


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895