Audiência pública discute demissão compulsória de colaboradores do GHC em Porto Alegre

Audiência pública discute demissão compulsória de colaboradores do GHC em Porto Alegre

Realizado pela Assembleia Legislativa, encontro teve críticas à gestão do Grupo Hospitalar Conceição, que avalia tema como "superado"

Felipe Faleiro

Hospital Conceição é uma das unidades mantidas pelo GHC em Porto Alegre

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A Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa promoveu nesta quarta-feira uma audiência pública, proposta pelo deputado Dr. Thiago Duarte, para discutir a demissão compulsória de 110 funcionários do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), em Porto Alegre, dentre os quais 40 médicos, e o restante de enfermeiros e outros colaboradores. Todos têm mais de 75 anos de idade, e alegam que não houve comunicação prévia aos desligamentos, tampouco o recebimento de indenizações trabalhistas.

Embora virtual, a reunião teve, na sede da ALRS, a presença de parte dos demitidos, representantes da Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição (Aserghc), Sindisaúde/RS e Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), que se opuseram à medida do GHC. Entre as falas, houve fortes críticas ao que foi salientado pelos presentes como “incompetência de gestão” e falta de transparência por parte do grupo. “Isto foi um processo discriminatório, algo baixo que foi feito com as pessoas de mais idade, e uma falta de respeito”, disse Rogério Amoretti, um dos médicos demitidos.

O diretor do Simers, Jeferson Oliveira, disse que o sindicato “se solidariza” com a causa dos médicos e demais profissionais. “Sabemos que, depois de uma certa idade, é muito difícil a recolocação, mesmo de um profissional deste quilate. Acho que todas as frentes perdem. Da maneira como o desligamento foi realizado, não contribui para a assistência à população e o acesso pleno ao Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirmou ele. 

Vinculado ao Ministério da Saúde e com atendimento 100% pelo SUS, o GHC comporta os hospitais Conceição, da Criança Conceição, Cristo Redentor e Fêmina, além da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Moacyr Scliar, 12 postos de saúde do Serviço de Saúde Comunitária, três Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e a Escola GHC. Conforme a assessoria jurídica do Simers, há duas ações em tramitação junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), relacionadas às demissões. 

Uma delas busca reverter a aposentadoria compulsória destes funcionários, ou, ao menos, que os desligados recebam os valores a que teriam direito, como verbas rescisórias. O sindicato obteve em 2021 uma liminar no TRT4, fazendo com que os funcionários permanecessem empregados por até um ano, até o último mês de fevereiro, quando a decisão caiu e estes foram efetivamente aposentados. Ainda não há prazo para novo resultado.

A outra ação do Simers em tramitação, e cuja decisão pode sair a qualquer momento, é relacionada ao Plano de Demissão Voluntária (PDV). Ele foi protocolado pelo GHC em 2019 e possibilitava o acordo indenizatório, com teto de R$ 300 mil, a 1,2 mil funcionários com idades entre 60 e 74 anos de idade, além de, no mínimo, dez anos de casa. Na época da apresentação do PDV, eles representavam cerca de 13% dos 9,2 mil funcionários concursados. Do total, 606 aderiram, segundo o grupo hospitalar, dentro da margem de 50% a 60% dos elegíveis que “queriam o desligamento”.

Também na ocasião, o grupo colocava entre as justificativas do plano a “renovação do quadro funcional, além de amenizar as despesas com a folha de pagamento”. Só que, de acordo com o Simers, por “motivos desconhecidos”, mas provavelmente por “interpretação da norma constitucional” por parte do GHC, os funcionários acima de 75 anos, e portanto fora da margem do PDV, ficaram de fora da “chance de receber as verbas, mesmo compulsoriamente”. 

Procurado para comentar a audiência, o diretor-presidente do GHC, Cláudio Oliveira, afirma que “ela é sobre um tema já superado”, e que “somente o Judiciário poderá se manifestar”. “Com a Reforma da Previdência votada em novembro de 2019, como gestores públicos temos deveres, e um deles é cumprir a legislação. Os empregados aposentados sabem que não há outra forma de lidar com o tema. Essa audiência não traz nenhuma novidade, nem fatos novos que auxiliem os empregados aposentados”, disse Oliveira.


Correio do Povo
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