Barcos ainda são único meio de deslocamento em ruas na região das Ilhas

Barcos ainda são único meio de deslocamento em ruas na região das Ilhas

Desde o início do mês, rua Nossa Senhora da Boa Viagem registra pontos com alagamento superior a um metro

Marcel Horowitz

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Mesmo com o nível do Guaíba apresentando redução, com oscilações entre 2,5 e 2,51 metros, no Cais Mauá, a região das Ilhas segue registrando pontos de alagamento. Apesar do tempo ensolarado neste domingo, moradores da localidade seguem em alerta frente à perspectiva de mais chuvas e com o avanço das águas do Jacuí.

Na Ilha da Pintada, o recuo do Guaíba possibilitou que 23 pessoas, sendo 10 adultas e 13 crianças, que permaneciam no abrigo provisório organizado pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) conseguissem retornar, no início da noite de sábado, para casa. O pico do acolhimento aconteceu na última quinta-feira, quando 101 pessoas estavam alojadas na unidade, que foi a última dos pontos de acolhimento da região a ser desativado.

O retorno dos moradores ocorre ao mesmo tempo em que a água permanece invadindo ruas. Desde o início do mês, a rua Nossa Senhora da Boa Viagem registra pontos com alagamento superior a um metro, tornando barcos o único meio de locomoção, conforme relatou a aposentada Vera Terezinha Aires da Silva, de 66 anos." Para andar aqui na rua, só mesmo de barco. E ainda vai vir mais água", declarou. 

Nascida em Charqueadas, mas morando na Ilha da Pintada há 43 anos, a idosa, que mesmo aposentada permanece trabalhando como pescadora, também contou que ainda não conseguiu recuperar os prejuízos causados pela enchente de 2015. "Tenho vizinhos que, com as chuvas deste mês, perderam cama e sofá. Eu não perdi nada, pois não tenho mais nada para perder. Depois da enchente de 2015, não comprei mais coisas. E só não perde quem não tem", constatou Vera. 

"A água não vai baixar. Muito pelo contrário, ela só vai aumentar", afirmou Luís Roberto da Silva. Nascido na Ilha da Pintada, o homem de 41 anos, que trabalha como vendedor de cachorro-quente, conta que, por conta da cheia do Guaíba, teve que colocar os móveis da sala encima da mesa da cozinha. Questionado pela reportagem, ele declarou que tem receio de ir para um abrigo e ter a residência saqueada. "Quando [o Guaíba] enche, não podemos sair de casa. Se sairmos, roubam tudo. Na enchente de 2015, um vizinho foi para um abrigo e, em poucos minutos, levaram tudo que ele tinha", relatou. 

Na Ilha Grande dos Marinheiros, onde ao menos 16 pessoas precisaram ser abrigadas na Escola Estadual Alvarenga Peixoto, os moradores também já se preparam para enfrentar um novo período de cheia. No período mais intenso das chuvas, a Defesa Civil municipal chegou a auxiliar na retirada de oito adultos e 19 crianças, que foram levados para casas de familiares. 
 
"Tem gente que perdeu casa, perdeu tudo", disse a aposentada Ivanilde Marques, de 68 anos. Morando com o filho em um imóvel na rua Nossa Senhora Aparecida, ela conta que precisou deixar o local e ir para a casa da filha, por conta do nível da água. 

"Quando a água sobe assim, vou para a casa da minha filha. Depois eu fico preocupada com o meu outro filho, que mora aqui, e acabo voltando. Então eu fico nesse vai e vem", contou a idosa. "Quando eu bebia, não ficava tão incomodada [com a inundação]. Mas eu tive que parar de beber e agora eu fico bem 'atacada dos nervos' quando chove tanto", constatou ela, em tom bem-humorado. 

 O Centro Integrado de Coordenação de Serviços (Ceic-POA) permanece mobilizado no acompanhamento das demandas geradas pelas chuvas. O órgão não recebeu novos chamados neste final de semana. As atualizações são publicadas, em tempo real, no Twitter do Ceic-POA.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895