Carnavalescos iniciam preparativos para o desfile no Porto Seco, em Porto Alegre

Menos de um ano após os desfiles das escolas de samba em Porto Alegre, os barracões do Complexo Cultural do Porto Seco já registram a movimentação de carnavalescos. Desde agosto, a presença de integrantes de comissões organizadoras se intensificou no local. Em 2023, as apresentações voltam a ser realizadas no verão. Conforme a União das Entidades Carnavalescas de Todos os Grupos e Abrangentes de Porto Alegre (UECGAPA), as datas programadas são 3 e 4 março. Este ano, por conta da pandemia, os desfiles foram realizados em meio às baixas temperaturas do mês de maio.

Mesmo com calor superior a 30°C, o bombeiro civil aposentado Sadi Oliveira Pires, 70, fazia ajustes nos carros alegóricos da Copacabana, que disputa a Série Prata. Integrante da comissão do carnaval da escola, Pires explica que os trabalhos no barracão começaram em agosto. “A parte de ferragens está 99% pronta, com praticamente tudo encaminhado. Temos quatro carros e três tripés”, afirma. O início da montagem das alegorias com sete meses de antecedência tem justificativa. "Nosso espetáculo vai causar boa impressão", garante.

Boa parte das alegorias da Copacabana que vão percorrer o sambódromo têm 10m de altura. "Estamos no grupo Prata, mas estamos fazendo o projeto para o grupo Ouro. Até porque a nossa ideia é passar e, se passar, estarmos estruturados", avalia. Mesmo com a capina alta no entorno do Porto Seco e necessidade de melhorias na infraestrutura, Pires avalia que o local está em melhores condições do que em anos anteriores. "Agora temos cobertura. Trabalho em barracões há mais de 40 anos. Quando fiz o primeiro ano aqui só tinha um barracão, o resto era tudo sol", lembra. "Agora é vip, só falta ar-condicionado, porque aqui dentro faz de 45°C a 50°C no verão", completa.  

No que depender do esforço de Pires, a escola pode acreditar no retorno para a Série Ouro. Isso porque o Carnaval está presente em sua vida há 42 anos. A Praiana foi a sua primeira escola de samba. Em 2023, a folia carrega um simbolismo especial. Marca o segundo ano em que vai participar da folia após sobreviver à Covid-19. Em junho de 2020, o carnavalesco contraiu a doença e ficou 40 dias entubado e em coma. Sem esperanças de que o paciente fosse superar o novo coronavírus, o médico que o tratava no Hospital da Restinga reuniu a família de Pires e informou que retiraria o aparelho para que não sofresse mais. Como um milagre, ele sobreviveu. E agora vacinado contra a Covid-19.

Diretor de Harmonia Geral da Copacabana, Igor Carvalho Vidal destaca a seriedade, o empenho e o comprometimento dos integrantes da escola para garantir o sucesso no dia do desfile. "A gente está buscando fazer um trabalho como poucas vezes fizemos na história da Copacabana. Estamos trabalhando muito para isso", observa. A expectativa é de que tudo esteja pronto até a primeira semana de fevereiro. "Depois é só retoque, os últimos ajustes. Não dá para ser muito antes porque o barracão tem que continuar tendo vida", explica.

Ao avaliar as condições do Porto Seco, Vidal diz que o intervalo curto desde o fim dos desfiles, em maio, impediu que o local ficasse em estado de abandono permanente. "Com certeza está muito melhor do que em anos anteriores, mas a gente tem que cuidar, fazer toda manutenção. Tem que começar pelas escolas, que são as detentoras dos espaços aqui. Acredito que está muito melhor, mas ainda tem bastante coisa para fazer. Enquanto não tiver a estrutura definitiva, um espaço que seja ocupado o ano todo e que a gente consiga usufruir, vão continuar todas essas questões", frisa.

Para outras escolas, dezembro marca o início dos trabalhos. O diretor de barracão da Imperatriz Dona Leopoldina, Vitor Hugo Gomes da Silva, iniciou na quinta-feira a limpeza do local que abriga a escola. O objetivo é deixar tudo pronto uma semana antes dos desfiles. "Estamos começando o trabalho e abrindo as portas do barracão. Temos bastante coisa para fazer pela frente", afirma. Conforme Silva, serão dois meses de trabalho árduo para deixar o local pronto para as apresentações. Ele avalia que houve melhorias na infraestrutura em relação a anos anteriores. "Evoluiu bastante coisa. Não tinha muro, não tinha portão, estava tudo abandonado", destaca.

"Expectativa é muito grande", diz presidente da UECGAPA

Se o carnaval de Porto Alegre de 2022 foi considerado o da resistência, a edição de 2023 gera expectativa entre os foliões pela retomada a pleno da festa no Porto Seco. A União das Entidades Carnavalescas de Todos os Grupos e Abrangentes de Porto Alegre (UECGAPA) projeta aumentar a capacidade de público no sambódromo, que no ano passado recebeu 10 mil pessoas. A presidente da entidade, Kelly Ramos, destaca que outro desafio é juntar recursos para construir uma pista.

"A expectativa é muito grande de fazer um Carnaval no mínimo com o dobro de público do ano passado, com uma estrutura que seja no mínimo o dobro do ano passado. No ano passado foi mais uma questão de persistência e esse ano não, a gente vai mais organizado, mais preparado para essa função. Estamos saindo de uma pandemia que dificultou muita coisa", destaca. Mesmo com necessidade de capina e limpeza no entorno do Porto Seco, a estrutura está em melhores condições do que em anos anteriores.
 
"A gente está cuidando mais do complexo. Em breve, já começa todo o trabalho de roçada, limpeza, capinha para a gente fazer o grande espetáculo", afirma. "Diversos barracões estão funcionando e o recurso a gente ainda está atrás. Já temos uma parte dos recursos que a gente conseguiu com emendas parlamentares, que são recursos para terminar a infraestrutura", completa. Entre os desafios da nova gestão está a construção de uma pista. "Hoje seriam necessários R$ 3 milhões para construir uma bela pista", observa.

Por conta de furtos frequentes de cabos de energia, a iluminação no local normalmente é motivo de dor de cabeça para os organizadores. Em 2022, a prefeitura de Porto Alegre mandou instalar toda a fiação no período do carnaval. Passou o carnaval e foi retirada essa fiação para evitar a questão do furto. Então temos toda a fiação que vai ser recolocada novamente agora, de 30 a 60 dias antes do carnaval. A gente coloca os fios e também a segurança para que não seja tudo furtado”, garante.

Dia 3

Grupo Ouro
0h10 - Bambas da Orgia
01h20 - Fidalgos e Aristocratas
2h30 - Acadêmicos de Gravataí
3h40 - Imperatriz Dona Leopoldina
04h50 - Vila Isabel

Grupo Prata
20h - Acadêmicos da Orgia
20h50 - Mocidade Lomba do Pinheiro
21h40 - Praiana
22h30 - Império da Zona Norte
23h20 - Copacabana

Dia 4

Grupo Ouro
0h10 - Império do Sol
01h20 - Imperadores do Samba
2h30 - União da Vila do IAPI
3h40 - Estado Maior da Restinga
04h50 - Realeza

Grupo Prata
20h - Protegidos de Princesa Isabel
20h50 - Filhos de Maria
21h40 - Samba Puro
22h30 - União da Tinga
23h20 - Unidos de Vila Mapa