Centenas de famílias ocupam abrigos em Lajeado após saírem de casa para escapar das inundações

Centenas de famílias ocupam abrigos em Lajeado após saírem de casa para escapar das inundações

No Parque dos Imigrantes, centenas de pessoas formavam filas para receber atendimento médico e recolher doações

Camila Pessôa

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Foi por uma questão de minutos. A técnica de enfermagem de 34 anos Josiane Diemer conseguiu fugir de carro de sua própria casa com seus três filhos, um deles de um mês e meio, antes que a água invadisse. Quando chegou ao abrigo no Parque dos Imigrantes, em Lajeado, o marido já estava preso no telhado com o único bem que conseguiu salvar, a televisão da família.

Enquanto o marido passava três dias ilhado, sem comida ou bebida, Josiane tentava recolher doações para construir uma moradia para ela e a família, todos moradores do mesmo bairro, Praia, no ginásio do Parque. 

Centenas de pessoas formavam filas para receber atendimento médico e recolher doações no Parque dos Imigrantes enquanto helicópteros de resgates iam e vinham levando equipes para outras localidades. 

Um dos resgatados pelas equipes foi Caio Eduardo Locatelli, sobrinho de Josiane, de 7 anos. Ele, seu pai, sua mãe e suas duas irmãs precisaram quebrar o forro do telhado para subir e escapar da água. “O meu pai não queria sair da casa para ir para a chacara, aí a água começou a subir muito alto às 2h da manhã e começou a dar choque elétrico no meu pai e na minha mãe, mesmo assim eles conseguiram sair da água” relata o menino. Para o resgate, o Corpo de Bombeiros chegou de barco e utilizou um martelo para quebrar o telhado e chegar até a família. “A gente perdeu tudo, a gente não tem nem roupa”, conta Caio.

A avó de Caio, Luciane Diemer, já estava no abrigo do Parque e fala sobre o desespero da situação. “A gente mandava os bombeiros lá e eles não achavam”, relata, em prantos. Ela diz que por enquanto a equipe pede para que eles não voltem às suas casas para limpá-las e avaliar os estragos, a área ainda é de risco.

A água subiu até o último degrau da escada do prédio onde mora a técnica de enfermagem Dieine Munhós, com apartamento no térreo. Ela, o marido, a sogra e o cunhado precisaram subir pra se salvarem, mas perderam tudo o que tinham e estavam na fila para receber doações. Além de receber doações de móveis e comida ela também pretende se cadastrar para possíveis auxílios, como o recebimento de um aluguel social.

Atualmente, 730 famílias estão nos três abrigos disponibilizados em Lajeado. No Parque dos Imigrantes há 350 pessoas. Lá eles recolhem todo o tipo de doações de itens básicos. “Muita gente que precisa não só de coisas, mas de carinho e acolhimento, para que seja um pouco mais leve”, diz Laura Sudbrack, funcionária da prefeitura de Lajeado que estava auxiliando na organização do espaço.

Como o município já sofre com enchentes periodicamente, a cidade estava mais preparada que outras do entorno e chegou a ceder uma ambulância para o município de Roca Sales, também em situação crítica, de acordo com o secretário da Saúde de Lajeado, Claudio Klein.


Correio do Povo
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