Chama Crioula é extinta em solenidade no Acampamento Farroupilha

Chama Crioula é extinta em solenidade no Acampamento Farroupilha

Edição do evento tradicionalista foi decretada pela Prefeitura de Porto Alegre como "Acampamento Farroupilha Solidário"

Vitória Fagundes

A extinção da chama crioula marca o encerramento das festividades farroupilhas desse ano.

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A chama crioula, que brilhou o Acampamento Farroupilha, durante dez dias, foi extinta por volta das 18h30 desta quarta-feira, 20, no Parque Harmonia, em Porto Alegre. O ato simbólico ocorreu no palco central encerramento oficialmente às festividades da Semana Farroupilha.

A cerimônia contou com a participação de representantes da prefeitura de Porto Alegre, secretarias municipais, representantes do movimento tradicionalistas, representantes da Brigada Militar e também da Polícia Civil. Ao apagar a chama, o chefe do Executivo municipal discursou afirmando que as festividades da Semana Farroupilha de 2024 serão encerradas no domingo, 22.

O prefeito de Porto Alegre ressaltou que o evento foi marcado pelo “acampamento da solidariedade”, já que milhares de pessoas que passavam na casa dos gaúchos, ou nos piquetes, doavam produtos de limpeza e alimentos não perecíveis aos atingidos pelas chuvas em Porto Alegre e também no Vale do Taquari.

“O acampamento solidário termina hoje, mas a solidariedade não pode acabar. Fica a gratidão a todos que ajudaram nessa construção. A festa farroupilha tem um sentido. A cultura e a educação são pilares que elevam a alma de um povo. Não há nada mais sagrado que a cultura do seu povo, que está espelhada aqui nos 250 piquetes instalados no Parque Harmonia”, disse.

A chama crioula foi extinta pelo Sebastião Melo, a patrona dos Festejos Farroupilhas de Porto Alegre, Telma Rejane dos Santos, a presidente da Comissão dos Festejos Farroupilhas de Porto Alegre, Liliana Cardoso, além de representantes das secretarias municipais.

Desconforto durante o Hino

Na cerimônia de encerramento do Acampamento Farroupilha, no Parque Harmonia, uma cena chamou atenção. Durante a execução do Hino Riograndense, a presidente da Comissão dos Festejos Farroupilhas de Porto Alegre, Liliana Cardoso, interrompeu sua cantoria no trecho considerado racista da letra do hino do Rio Grande do Sul. Ao lado de outras autoridades no palco, Liliana silenciou e mostrou nítido desconforto.

O tema vem sendo debatido desde o começo do ano. A PEC do Hino aguarda sua votação em segundo turno. Após polêmicas, na Assembleia Legislativa, o governo sancionou uma lei que estipula que símbolos oficiais do Rio Grande do Sul, entre eles o hino rio-grandense e a bandeira, possam ser alterados, desde que mediante consulta popular, por meio da realização de um referendo.

À reportagem por telefone, a presidente da Comissão dos Festejos Farroupilhas de Porto Alegre, confirma que não cantou o trecho polêmico do hino gaúcho. “Eu tenho a ciência como mulher negra que se o hino foi mudado três vezes, qual é o problema de mudar mais uma vez e mudar o trecho ‘povo que não tem virtude acaba por escravizar?’”, disse. “O amor pelo hino em um estado tão genuíno como é o nosso acaba invisibilizando o que dói em uma parcela dessa sociedade, que é a parcela negra. Não é mexer no hino, o hino já foi mexido, então não tem nenhum debate exaustivo. A minha construção vai do que as pessoas me perguntam, o porquê o hino tem uma conotação racista”.


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