Chuva mata ao menos 24 pessoas no litoral norte de São Paulo

Chuva mata ao menos 24 pessoas no litoral norte de São Paulo

O Estado decretou calamidade pública em Ubatuba, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Bertioga

AE

Deslizamentos causados pelo chuva interditaram estradas

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Chuvas intensas entre a noite de sábado e a madrugada de domingo inundaram casas, interditaram rodovias, provocaram deslizamentos e deixaram ao menos 24 mortos no litoral de São Paulo - 23 em São Sebastião. O Estado decretou calamidade pública em Ubatuba, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Bertioga. A Defesa Civil recomendou que a população evite deslocar-se para a região, pois o mau tempo continua.

Choveu 683 milímetros no acumulado de 24 horas em Bertioga e 627 mm em São Sebastião, onde se registrou a situação mais crítica. Às 20h30, o prefeito Felipe Augusto (PSDB) confirmou pelo menos 23 óbitos na cidade, 238 desalojados e 338 desabrigados, mas o número pode ser bem maior, pois diversas praias e até equipes de resgate estão isoladas (mais informações na página A11). "Tem muita gente desaparecida, infelizmente. Ainda estamos sem informações de muitos bairros. O maior número de óbitos é na Vila Sahy, próximo à Barra do Sahy, onde pelo menos 50 casas foram varridas."

"Foi uma tragédia nunca vista. Tínhamos feito alertas para as chuvas, mas ninguém esperava um dilúvio dessa magnitude", completou Augusto. "Ainda tivemos um aumento na maré que, de madrugada, subiu 2,3 metros, dificultando o escoamento da água." Ilhabela e Bertioga também tiveram uma série de deslizamentos e enchentes - Caraguatatuba e São Sebastião tiveram corte no fornecimento de água (ainda em regularização).

"Tudo é lama, tudo é barro, destroços, entulhos e escombros. É realmente traumatizante" relatou Pauleteh Araújo, vereadora suplente de São Sebastião e moradora de Juquehy. Como sua casa não chegou a ser inundada, ela abrigou três pessoas em sua residência e auxiliava outras famílias em um dos alojamentos na cidade improvisado em uma igreja local. "A região está completamente destruída, é um outro local, irreconhecível, parece cenário de guerra", diz ela, que cresceu no local.

No abrigo estava Priscila Silva, de 23 anos, que acompanha sua irmã e o cunhado que perderam a casa com tudo dentro. "Eu tinha acabado de chegar do trabalho, era 1 hora. Foi quando fui ver que estava tudo alagado. Eu só fui ter contato com ela (a irmã) às 4 horas." As duas irmãs ainda esperam notícias da mãe, que mora na vila da Baleia e se encontrava incomunicável desde sábado.

A moradora e líder comunitária de Barra do Sahy Nalda Araújo também relatou momentos de terror e dezenas de casas soterradas. "Era por volta das 3 horas quando a gente ouviu uma gritaria. Saímos na rua e o pessoal disse ‘Corre que o morro está desabando’. Eu moro a mais de 100 metros, mas, quando olhei para trás, o morro estava descendo com casa, carro, pessoas."

Criança

A outra morte registrada no litoral foi a de uma criança em Ubatuba. Segundo o Corpo de Bombeiros, uma pedra deslizou sobre uma residência na Rua Benedito Alves da Silva, no bairro de Perequê-Açu, matando-a na hora.

Os prejuízos ainda alcançaram outras áreas, como Santos. A Ponte Edgar Perdigão, saída das balsas para o Guarujá, foi invadida pela ressaca e a travessia chegou a ser suspensa. O carnaval no Centro Histórico foi interrompido, como em outras cidades do litoral norte. Houve cheias ainda em São Vicente e Praia Grande.

O governador Tarcísio de Freitas viajou para São Sebastião pela manhã e disse ter pedido apoio às Forças Armadas para ajudar no socorro às vítimas. O Batalhão Aéreo de Taubaté usará helicópteros para socorrer as vítimas. Segundo o governo paulista, a Coordenadoria da Defesa Civil montou um comitê específico de crise.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva interrompeu a folga na Bahia e informou pelas redes sociais que viajará nesta segunda-feira para a região, para "acompanhar os esforços de enfrentamento dessa tragédia", assim como o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e o secretário nacional de Defesa Civil, Wolney Woff. "Tudo o que for necessário em recursos, teremos", disse o ministro.

Alerta

O Instituto Nacional de Meteorologia decretou alerta vermelho para o litoral paulista, com chance de chuva superior a 60 mm por hora - 1 milímetro equivale a 1 litro de água distribuído em uma área de 1 m². A Defesa Civil alerta que as chuvas serão acompanhadas por descargas elétricas, fortes rajadas de vento e granizo. Os temporais foram ocasionados pela passagem de uma frente fria que trouxe umidade do oceano. (Colaboraram Stéphaine Araujo, Fabiana Cambricoli e Gabriela Forte)


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895