Chuvas provocam deslizamento de terra e transtornos na zona Sul de Porto Alegre

Chuvas provocam deslizamento de terra e transtornos na zona Sul de Porto Alegre

Rajadas de vento medidas por estações meteorológicas atingiram até 80km/h

Felipe Samuel

Casa do servente de obras José Luis Rodrigues Inácio desabou por conta do temporal

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O ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul desde quinta-feira provocou estragos em várias regiões, como Serra, Região Metropolitana e Litoral Norte, provocando alagamentos, quedas de árvores e postes e deixando semáforos inoperantes. Mais de 460 mil clientes chegaram a ficar sem luz nas áreas de atuação da CEEE Grupo Equatorial (350 mil) e da RGE (68 mil). Em Porto Alegre, as rajadas de vento medidas por estações meteorológicas atingiram até 80km/h, causando alagamentos e transtornos. A prefeitura informa que a zona Sul foi a mais atingida pelo temporal, com 89 ocorrências relacionadas a quedas de árvores, postes ou acúmulo de água.

Conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a Capital tinha acumulado 120 mm em 15 horas nesta sexta-feira, da meia noite às 15h. A média para junho é de 140 mm. Para o servente de obras José Luis Rodrigues Inácio, 31 anos, a madrugada do dia 16 simboliza o renascimento da família. A casa localizada no Beco Guajuviras, no bairro Aparício Borges, ficou soterrada após deslizamento de terra ocorrido na madrugada de sexta-feira. “Tinha entrado água em casa. Minha esposa e eu viemos limpar a casa. Em seguida fomos deitar e ouvimos um estrondo por volta das 2h30. Quando a gente percebeu a casa estava em cima da gente”, lembra.

“Deu tempo de tirar apenas as crianças para rua. Voltei para quebrar a parede porque a minha esposa ficou com a perna prensada contra o guarda-roupas em cima dela”, completa. A esposa Tássía Antonia de Moura da Silva e o restante da família foram acolhidos por uma tia de Inácio, que reside próximo dali, na rua Agulhas Negras. “Tivemos medo de perder as crianças, porque a casa a gente vai e corre atrás, mas os filhos e a vida da gente têm que estar em primeiro lugar”, afirma. Ele lembra que o momento de maior temor foi quando percebeu que a esposa estava com a perna presa.

“Mandei uma mensagem de áudio para a minha tia pedindo socorro, foi tenso. Fui até a metade e deixei as crianças em segurança. Voltei para poder socorrer e ela gritava desesperada com a perna presa. Foi questão de segundos”, avalia. Só não houve uma tragédia porque a casa onde mora Raquel da Silva Rodrigues, localizada abaixo da residência de Inácio, serviu de anteparo para evitar a queda de toda a estrutura. Conforme Raquel, dentro de casa já havia acúmulo de água desde 20h.

“Se não fosse o alicerce da minha casa estar bem estruturado, a família tinha morrido. Liguei para a Defesa Civil pelas 2h e eles ficaram de vir sexta-feira. A gente precisa de um laudo porque a gente não tem onde ficar. Precisamos disso para resolver nosso problema. Não posso entrar dentro de casa para tirar nada. Perdemos quase tudo ali”, observa.  No bairro Cavalhada, o empresário Rodrigo Gonzaga estava preso dentro de casa com a família após uma árvore e um poste caírem sobre a residência, localizada na rua Egydio Michaelsen. Fios de energia elétrica e pedaços de galhos permaneciam dentro do pátio da casa, oferecendo riscos à família.

“Estamos desde 23h de quinta-feira sem luz. Ligamos para a CEEE, para os bombeiros, para todo mundo, mas ninguém deu a mínima bola. Tem fios caídos dentro do pátio. Um pedaço da árvore caiu em cima da camionete, ano 2023, zero quilômetro, adquirida há menos de uma semana”, destaca. Em Ipanema, na rua Pio Ângelo, por conta de um alagamento na via, um carro ficou submerso. Na avenida Tramandaí, outro motorista tentou vencer a força das águas, mas acabou ficando preso. Em outro trecho da avenida Tramandaí, na altura do número 600, uma árvore de grande porte caiu sobre cabos de energia, tombou na via e bloqueou o acesso nos dois sentidos.

“O aposentado Flávio Santos de Oliveira, 70 anos, afirma que os contratempos por conta de temporais são frequentes. Sempre que chove acontece isso, só que não tinha chegado ao ponto de cair árvores do tamanho dessa aí, mas é normal. Tem um arroio ali atrás que toda vez que chove ele bota água para fora e alaga toda vizinha. Todo mundo fica empenhado”, afirma. Por conta do temporal, ondas se formaram no Guaíba e as águas invadiram o calçadão da avenida Guaíba. No Lami, policiais militares do 21º BPM apoiaram o Corpo de Bombeiros Militar em resgate de uma aldeia indígena com muitas crianças.

Na zona Norte, na Voluntários da Pátria, a água tomou conta de casas e comércios que funcionam na região. Um idoso carregava uma sacola e lutava contra o alagamento para tentar chegar em casa. Mesmo agarrado nas grades das residências, ele desistiu de completar o trajeto. O problema se agravou por conta de problemas de funcionamento das estações de bombeamento de águas pluviais (da chuva) da região Humaitá/Vila Farrapos (Ebaps 5 e 8) do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). Equipes da CEEE Grupo Equatorial foram acionadas e trabalhavam no local no início da tarde de ontem para solucionar os problemas. Conforme o Dmae, 49 estações de tratamento e bombeamento de água tratada apresentaram problemas de funcionamento.

A prefeitura de Porto Alegre informa que mobilizou equipes desde a madrugada de sexta-feira para atendimento aos danos causados pela chuva e o vento nas últimas horas na cidade. A maior parte das ocorrências diz respeito a árvores tombadas, fios ou postes de energia caídos, acúmulo de água em diversas vias, quedas de muros e residências comprometidas. E reforçou a orientação para que as pessoas que tiverem possibilidade evitem transitar pelas ruas. Para a população que precisa de abrigo, a prefeitura disponibilizou o ginásio do Demhab, na rua Conde D'Eu, 66, bairro Santana. Inicialmente o local está preparado para receber 50 pessoas.

O espaço conta com equipe de acolhimento da Fasc, cama, banheiros e alimentação à disposição. A Defesa Civil está liderando o atendimento de ocorrências para apoiar famílias e equipamentos públicos, como unidades de saúde e escolas.

 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895