Com a concorrência dos aplicativos, cai número de condutores de táxi em Porto Alegre

Com a concorrência dos aplicativos, cai número de condutores de táxi em Porto Alegre

Condutores ativos cadastrados no Sistema de Transporte Público de Porto Alegre (STPOA) despencou para 3.833

Felipe Samuel

Com concorrência dos aplicativos, Santos diz que muita gente abandonou o serviço de táxi

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A ascensão do transporte por aplicativo no Brasil impactou diretamente a renda dos taxistas. Por conta da concorrência, o número de condutores ativos cadastrados no Sistema de Transporte Público de Porto Alegre (STPOA) despencou para 3.833, o que representa menos da metade do verificado em 2010, quando totalizava 10,5 mil motoristas. A redução se deve principalmente pela saída de taxistas auxiliares, que representavam a maior parte dos profissionais cadastrados.

A Associação dos Taxistas Auxiliares de Porto Alegre e da Grande Porto Alegre (Asstaxi) ressalta que um dos desafios da categoria é a falta de passageiros à noite. Diante desse cenário, o presidente da Asstaxi, Roger Luiz Vieira dos Santos, afirma que poucos taxistas trabalham após as 22h. “A nossa grande dificuldade que temos hoje é a falta de passageiros no período noturno. O público jovem vai de aplicativo”, frisa, destacando que o público de meia-idade e idosos prefere utilizar o táxi. 

Conforme Santos, há alguns anos, era comum um veículo rodar com três motoristas alternadamente. Agora no máximo dois condutores dividem o uso do carro. “Agora faço 15 horas por dia. Como tem pouca demanda, não adianta entregar (táxi) para outra pessoa. Estendo mesmo meu horário, porque não tem movimento 24 horas”, avalia. Ele avalia que a disputa por público com os aplicativos é desigual. “Fica difícil competir, porque os aplicativos vieram para desmontar o táxi, mas desmontaram o lotação e os ônibus”, ressalta. 

“Os taxistas ganhavam bem, mas da noite para o dia passaram a ganhar nada”, completa. Entre as medidas adotadas pela categoria para enfrentar a concorrência, ele destaca que todo táxi é obrigado a aceitar cartão de crédito. “Os motoristas são obrigados a fazer exames toxicológicos. E Porto Alegre é a única capital que exige o carteirão, mas a população não sabe. Isso representa mais segurança”, observa, numa referência às exigências para tirar a carteira profissional. 

A Associação dos Permissionários Autônomos de Táxi de Porto Alegre (Aspertáxi) destaca que muitos condutores jovens deixaram a profissão para procurar outras ocupações. Para o presidente da entidade, Walter Luiz Rodrigues Barcellos, a categoria enfrenta dificuldade. “Estamos com uma frota de 3,6 mil táxis e acredito que por volta de 30 mil aplicativos. Desde que entraram no sistema de transporte de passageiros em Porto Alegre, começou a diminuir o nosso serviço”, afirma. Embora reconheça que o cenário atual é de recuperação, ele avalia que a categoria sofreu perdas importantes nos últimos anos. 

“Houve uma queda de renda brutal. É uma tristeza, porque estamos pleiteando um reajuste médio de até 30% referente aos últimos sete anos. Nada no mundo aumentou 30% em 7 anos. Os automóveis aumentaram 100% e a manutenção do carro cresceu cerca de 200%. Continuamos com a mesma receita e uma despesa maior. Essa matemática não fecha”, afirma. Com a concorrência dos aplicativos, muita gente acabou abandonou o serviço de táxi na Capital. “Chegamos a contar com 12 mil operadores do sistema de táxi”, recorda. 

Apesar da disputa cada vez maior por usuários do transporte público, o Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi) avalia que a chegada dos aplicativos representou uma possibilidade para os taxistas aperfeiçoarem os serviços oferecidos à população. O presidente do Sintáxi, Luiz Nozari, avalia que o advento dos aplicativos foi uma chance de melhorar e de mudar. Tínhamos alguns problemas. A categoria está mais consciente e fortalecida. Temos uma grande vantagem, porque a solução dos nossos problemas está nas nossas mãos”, afirma.

Conforme Nozari, a categoria pode oferecer uma tarifa com preço acessível e serviço de boa qualidade. Ele reconhece, no entanto, que parte dos taxistas associados à entidade tem resistência a utilizar o aplicativo do Sintáxi. “Nossa saída foi oferecer toda a tecnologia que o cliente atual exige. O aplicativo do Sintáxi existe desde 2016. Com isso a gente queria mostrar que quem não se adaptasse ia perder mercado”, avalia. Alguns taxistas não querem se adaptar a essas situações”, sustenta. Com público fiel, Nozari acredita que os taxistas podem sobreviver com essa parcela da população.

“Parte da população não quer pegar aplicativo. Temos que focar nossos serviço nessa parcela e no corporativo. Prestamos um serviço regulamentado com crivo do poder público”, avalia. Ele reforça que nenhum taxista atua com “tornozeleira eletrônica”. “E também somos obrigados a fazer exame toxicológico, o que resultou numa depuração da categoria”, completa. Conforme a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), o transporte individual de passageiros por táxi possui 3.592 prefixos e 3.833 condutores ativos cadastrados no Sistema de Transporte Público de Porto Alegre (STPOA). 

O maior ponto de táxi da Capital é o da Estação Rodoviária, com 334 prefixos cadastrados, seguido pelo Aeroporto Internacional Salgado Filho com 198 prefixos. Desde janeiro de 2022 houve o ingresso de 490 veículos novos (zero quilômetro) na frota de táxi de Porto Alegre (121 veículos em 2023 e 369 em 2022) que conta com nove carros híbridos.


Correio do Povo
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