Como funciona o "botão do pânico" existente nas escolas de Estância Velha e nos ônibus de Pelotas

Como funciona o "botão do pânico" existente nas escolas de Estância Velha e nos ônibus de Pelotas

Estância Velha é o primeiro município gaúcho a implementar dispositivo de segurança na área da educação

Fernanda Bassôa e Angélica Silveira

O transporte coletivo rural também já conta com três novos horários

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Há pelo menos três semanas as 26 escolas municipais da cidade de Estância Velha, no Vale do Sinos, já contam com o sistema do botão do pânico como mais uma ferramenta de segurança na rede de educação. É a primeira cidade no Estado a implantar este sistema na área da educação. Atualmente também está em fase de expansão no Município o sistema de reconhecimento facial nas escolas, sistema mais complexo, mas que gera um efeito parecido, segundo informou o prefeito Diego Francisco. Em quatro delas o cadastramento de profissionais, alunos, funcionários e responsáveis já foi concluído. Em Pelotas, o botão do pânico é realidade entre os usuários do transporte coletivo, iniciativa inicialmente criada para evitar os assaltos. Depois, se tornou importante ferramenta das mulheres vítimas de assédio sexual. 

Em Estância Velha, o dispositivo do botão do pânico, que começou a ser implementado nas instituições de ensino no início do ano letivo, trata-se, literalmente, de um botão. O projeto, com investimento de R$ 300 mil, prevê uma mensalidade de R$ 900 por escola para manutenção. O botão do pânico foi instalado em algum ambiente da escola - que por uma questão de segurança não é revelado, pois é classificado como o código fonte do sistema – onde apenas um número limitado de pessoas sabe onde ele está. A partir do momento que é constatada uma situação de perigo, essas pessoas (integrantes da direção, da coordenação pedagógica ou da secretaria de escola) tem a autonomia de ativar. É um toque simples. Ao clicar no botão, imediatamente vai disparar dentro da escola um sinal sonoro e luminoso e vai ser acionada uma câmera de segurança. No mesmo momento abre na base de monitoramento da Guarda Municipal, numa tela grande, a imagem dessa câmera de segurança que foi acionada na escola.  

“Também dispara na base da GM um aviso sonoro para que os operadores do monitoramento da cidade vejam que ali tem uma situação de perigo. Então, de imediato, o operador desloca uma viatura da GM para esta escola para fazer o atendimento da situação de perigo. Enquanto isso, na base, ele monitora em tempo real o que está acontecendo nesta escola”, explica o prefeito. A intenção do aviso sonoro na escola é gerar o alerta para que crianças e professores adotem o protocolo de segurança, que é de preservar as crianças em um ambiente fechado, tentando se isolar da possível ameaça que veio do ambiente externo. Esse protocolo está em fase final. E dentro do tempo mínimo, a Guarda Municipal deve chegar para fazer a estabilização do alvo. “Neste meio tempo, outros órgãos de segurança também são acionados, como Brigada Militar, Polícia Civil, Bombeiros e Defesa Civil,” comenta o prefeito.  

O Município de Estância Velha conta com 850 profissionais de ensino, entre professores, servidores e estagiários, e 6,8 mil estudantes, entre educação infantil e fundamental. “Tanto o botão do pânico como o de reconhecimento facial são ferramentas que vem agregar o sistema de segurança que já existe. É preciso não descuidar. Manter o portão fechado, o olho aberto, a vigilância, estar atento ao que o filho posta nas redes, ao que se compartilha nos grupos de whatsapp. É preciso procurar saber o que é verdade e mentira e não disseminar notícias falsas, fake News”, conclui Diego Francisco.  

Mãe de uma aluna da escola Érico Verissimo, Ivi Michele Schneider, diz que se sente mais tranquila com a escola ter adotado o sistema do botão do pânico como uma ferramenta de segurança para com as crianças. “É um sistema de proteção, assim como o sistema de reconhecimento facial, que vai ajudar a afastar aquelas pessoas que não tem vínculo com a escola. Eu não penso na segurança apenas da minha filha, mas no amigo dela, nos vizinhos, nossos parentes. São muitas crianças aqui na nossa rua. Eu realmente fico muito feliz que o prefeito tenha tido essa visão e implementado estas medidas com bastante antecedência, visando a proteção dos estudantes da nossa cidade”, disse mãe da estudante de 7 anos da rede municipal.

Ferramenta para evitar assaltos e assédios no transporte coletivo  

Em Pelotas, passados quatro anos de sua instalação, o chamado “botão do pânico” ainda é pouco conhecido pelos usuários do transporte coletivo. Conforme o secretário municipal de Transportes e Trânsito, Flávio Al Alam, quando foi criado a iniciativa se tornou muito importante para evitar os assaltos. “Qualquer situação o motorista aciona vai para uma central que aciona a autoridades de segurança pública. Durante a pandemia foi utilizado o mecanismo para avisar da lotação dos coletivos que não paravam até descarregar pessoas. Ele também pode ser usado em casos de assédio”, afirma. Ele conta que foi feito um treinamento que quando uma pessoa se sentir ameaçada pode procurá-los que eles vão orientar como proceder.  

“Fizemos uma campanha que eles sabem que devem encaminhar a vítima até a delegacia da mulher para denúncia, nós buscamos as imagens das câmeras de monitoramento. Já os motoristas identificam a situação, mandam o cara descer e chamam a polícia”, relata. O Secretário Executivo do Consórcio do Transporte Coletivo de Pelotas explica que quando o motorista aperta o código, em casos de emergência, o sinal vai para o Gabinete de Gestão Integrada da Prefeitura que tem conexões com as forças de segurança da cidade. “Como todos os ônibus tem GPS é possível saber onde está ocorrendo a situação. A passageira pode relatar o assédio, ou em casos de assalto, briga, ocorrência entre passageiros, entre outros”, exemplifica.  

Foto: Angélica Silveira / Especial / CP

Há dois meses, houve uma conversa com os funcionários do consórcio para alertar o comportamento em caso de assédio. Ele conta que neste período a média é de três a quatro situações do tipo todos os anos. “Não é um número expressivo, mas não deveria existir”, lamenta. Todos os 150 veículos, que fazem mais de duas mil viagens por dia transportando mais de 80 mil pessoas, possuem o dispositivo de segurança que fica no painel do motorista. O botão aliado às câmeras de monitoramento dos veículos e ações das forças de segurança também ajudaram a diminuir drasticamente os assaltos. Antes destas medidas, a média era de seis a sete assaltos por dia, agora é menos de um por mês.  

O motorista Fábio Bonow, de 36 anos, trabalha há 12 dirigindo ônibus e disse que apesar de nunca ter necessitado utilizar o botão se sente mais seguro com a disponibilidade do dispositivo. “Ele ajuda pois traz mais segurança e tranquilidade para trabalhar. É o nosso contato direto como a central. Cada código é uma ocorrência assalto, assédio e eles conseguem responder rápido”, destaca.

Mesmo não conhecendo o botão do pânico, muitas pessoas aprovam a iniciativa, como no caso da estudante universitária Andressa Silva, de 26 anos.  “É mais uma forma que traz segurança para quem usa o transporte coletivo todos os dias como eu”, destaca. A auxiliar de limpeza, Renata Ferreira, de 48 anos utiliza ônibus diariamente para ir ao trabalho. “Eu não tinha conhecimento. O bom é que é mais uma opção de ajuda em situações de perigo. Tomara que sempre esteja funcionando”, observa. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895