Corredores expressam preocupações com a pista de caminhada e de corrida do Parque Ramiro Souto

Corredores expressam preocupações com a pista de caminhada e de corrida do Parque Ramiro Souto

A pista de 400 metros foi entregue nesta quarta-feira, mas a poeira liberada pelo carvão não agradou alguns corredores. Especialistas defendem utilização do material na pista

Correio do Povo

A secretaria municipal de Esporte diz que a tendência é de o carvão compactar com o uso e com a chuva

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A Redenção é um dos locais mais queridos por quem busca atividades ao ar livre em Porto Alegre, mas a pista de caminhada e de corrida do Parque Ramiro Souto – espaço esportivo dentro do Parque Farroupilha – que foi revitalizada e entregue hoje para a população, tornou-se alvo de dúvidas e preocupações para os frequentadores, especialmente os corredores locais.

A principal queixa está relacionada à poeira levantada durante a atividade física, afetando negativamente a primeira experiência dos corredores na pista nova, como observado por João Carlos, 79 anos, um corredor assíduo na área. No primeiro dia de corrida na pista, ele observou que a poeira levantada durante a corrida atrapalhou o exercício, além de sujar a roupa, corpo e o tênis. Ele também expressou dúvidas sobre a composição do material utilizado na revitalização e seus potenciais efeitos adversos.

“O material que é usado aqui não tenho nem ideia. Porque levanta poeira das pessoas que estão correndo na frente, quem corre menos como eu fica prejudicado. Surpreendeu negativamente, e aqui não tem, não sei se já concluíram o serviço, mas não colocaram ainda bebedouros suficientes”, disse.

Luiz Henrique Reis, tem 61 anos e um carinho enorme pela pista de corrida. Ele contou que na década de 80 ele e alguns amigos chegaram a se unir para fazer melhorias no local, tirando os entulhos para a realização da atividade física. Reis também compartilhou sua decepção com as condições atuais, descrevendo a pista como inadequada para quem treina regularmente. Sua preocupação com a possibilidade de alagamento em dias de chuva também foi destacada, sugerindo a necessidade de medidas adicionais para melhorar a qualidade e durabilidade da pista.

“Agora, se eu fosse definir agora, sem saber o que vai acontecer ainda, eu diria que tá horrível. Para quem treina mesmo, tá horrível. Isso aqui não é uma coisa que se deixa. Eu achei que eles iam achatar isso aqui, passar aquelas máquinas pesadas mesmo. Eu penso assim, o dia que cair um temporal que alaga todas as ruas, vai ficar igual a beira da praia”, considerou. E ainda observou que não vai mais poder ir direto para a academia depois da corrida por causa da poeira nas pernas e tênis.

A pista do Parque Ramiro Souto foi revitalizada pela empresa Vulcabras Calçados, através da marca Olympikus, que irá adotar a pista por um ano, sendo prorrogável a parceria. O ato de liberação do espaço contou com a presença do prefeito Sebastião Melo, da secretária municipal de Esporte, Lazer e Juventude (Smelj), Débora Garcia, do CEO da Vulcabras, Pedro Bartelle, e do diretor de marketing da Olympikus, Márcio Callage.

A secretária de Esporte, Débora Garcia, esclareceu que o material utilizado na revitalização da pista, que ocupa uma área de 14.000m² e possui 400m, é uma combinação de saibro e carvão vegetal. “Antes tinha saibro e uma pequena camada de carvão vegetal, que foi colocado nos anos 2.000, e agora ele foi reposto”, explicou.

Sobre a poeira, Débora disse que o material precisa ser molhado para dar uma amenizada e que “depois da primeira chuva ficará melhor”. A secretária ainda enfatizou os benefícios da revitalização, incluindo a instalação de bases de concreto, ganchos para mochilas, além da melhoria na drenagem, novas sinalizações de indicação das distâncias no percurso e a revitalização da pista de salto em distância.

A secretária também ressaltou que a pista do Parque Ramiro Souto é a única em Porto Alegre com carvão vegetal, enquanto outras pistas – no Parque Alim Pedro, no IAPI, e no Parque Marinha do Brasil, no Menino Deus – contém saibro.

O CEO da Vulcabras, Pedro Bartelle, considera a pista do Ramiro Souto uma das melhores do país. "Esperamos que, com a sua revitalização, tanto as antigas quanto as novas gerações se sintam seguras e motivadas a praticar esporte”, declarou.

De acordo com a assessoria da Olympikus, grupos de interesse e assessorias de corridas foram ouvidas para a construção do projeto. O arquiteto responsável pelo projeto, da 0E1 Arquitetos, Mário Guidoux revelou ser um maratonista e que corre há 10 anos no local. Ele lembrou que a pista existe há quase 100 anos e é uma das primeiras do Rio Grande do Sul. Ele observou que o projeto procurou manter as características originais do espaço. Sobre a escolha do carvão vegetal, Guidoux garantiu que o material é um dos melhores para ser usado em pistas de atletismo e que uma das vantagens é a alta absorção de impacto.

"A pista de carvão era muito utilizada no início do século XX, mesmo período de inauguração da Pista Ramiro Souto, na década de 1930.Ela possui um efeito de alta absorção de impacto com retorno de energia. A vantagem em comparação com pistas de outros materiais como asfalto e areia é grande, pois essas não absorvem tanto o impacto durante a corrida. Nós usamos o carvão na revitalização do espaço, pois esse era o material original e um dos melhores materiais para usar em pista de atletismo”, garantiu o arquiteto.

O treinador Paulino Stone, um dos organizadores da Maratona Internacional de Porto Alegre, também saiu em defesa das características do material utilizado na pista. "O piso de carvão da redenção é um dos melhores pisos para se treinar, por ser um piso macio, que absorve o impacto do atleta durante a prática esportiva, protegendo as articulações, e que diferencia das pistas sintéticas que são mais duras e com maior retorno de energia. Dessa forma o atleta que treina nesse tipo de piso (carvão), tem maior performance na hora de competição. O Vanderlei Cordeiro de Lima, medalhista olímpico nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, por exemplo, treinou boa parte da sua trajetória como atleta em pistas com piso de carvão, exatamente por ser uma pista que preserva as articulações e musculatura durante os treinos. Além disso, com o passar dos dias e as chuvas, o carvão da pista vai se hidratar mais, deixando a experiência da comunidade corredora de Porto Alegre ainda melhor. A revitalização da Pista Ramiro Souto ficou maravilhosa e com certeza, nós temos um dos melhores lugares do Brasil para correr".


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895