"Dá vontade de abandonar tudo e sair correndo", diz produtor de Porto Alegre afetado pela estiagem

"Dá vontade de abandonar tudo e sair correndo", diz produtor de Porto Alegre afetado pela estiagem

Oscar da Silva Goulart Neto perdeu 100% dos orgânicos cultivados no Lami e 50% das hortaliças plantadas na Extrema

Felipe Faleiro

Oscar da Silva Goulart Neto perdeu 100% dos orgânicos cultivados no Lami e 50% das hortaliças plantadas na Extrema

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A Prefeitura de Porto Alegre decretou situação de emergência nas regiões de produção primária por conta da estiagem em 25 de janeiro. A demanda foi homologada pelo Estado no começo de fevereiro e reconhecida pela União há cerca de dez dias. No entanto, na família de produtores de hortaliças de Oscar da Silva Goulart Neto, 51 anos, que mantém duas propriedades no interior do município, tais movimentações parecem não fazer nenhuma diferença.

Em um dos terrenos, na estrada da Boa Vista, bairro Lami, não há sequer rede do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), e 100% da produção de orgânicos está perdida. No local, um caminhão-pipa garante o abastecimento. “Não passa nem máquina aqui”, lamenta ele. Na outra, na Estrada da Extrema, bairro Extrema, há serviços do Dmae, porém a seca já condenou metade da produção. Somente de alfaces, Oscar tem 48 mil pés plantados, além de outras variedades, como rúcula, couve-flor, brócolis e beterraba, entre outros.

A totalidade da produção é comercializada para mercados da zona Sul da Capital. “Não está chovendo direito desde junho. Chuva normal mesmo não existe mais”, desabafa. Nascido “no meio da plantação”, como ele próprio diz, conta que até já recebeu conselhos das duas filhas para deixar o campo, tamanha frustração com a seca. Outra questão que assusta o produtor rural é o registro cada vez mais frequente de altas temperaturas.

“Antigamente, quando dava 30ºC, as pessoas ficavam apavoradas. Agora dá 40ºC ou mais do que isso, tem dias em que a sensação térmica chega a 50ºC. Aí complica para a hortaliça. Deve ser porque estão derrubando todas as florestas”. Oscar e a família também relatam dificuldades inclusive no acesso a financiamentos. “Já tentei fazer vários, mas nunca consegui. É muito complicado na maioria dos bancos”, relata ele, acrescentando que não vê uma estiagem tão severa nos últimos oito anos, pelo menos. 

Enquanto isso, encerrou ontem o prazo para produtores rurais de Porto Alegre realizarem o cadastro para acessar ações emergenciais. A partir do levantamento, a Secretaria Municipal de Governança Local e Coordenação Política (Smgov) informou que vai disponibilizar máquinas para a limpeza e construção de açudes e de tanques de retenção de água, para minimizar os danos da falta de chuvas. Ainda hoje à tarde, a Prefeitura terá uma parcial de quantos agricultores se cadastraram via canais da Smgov.

“Pra que tanque? Um pé de alface consome um litro de água por dia. Isto não é suficiente para nós”, rebate o produtor. O secretário Cássio Trogildo, titular da Smgov, salientou que outras medidas são estudadas e a Prefeitura está em busca de recursos para viabilizá-las. “Às vezes dá vontade de abandonar tudo e sair correndo. Minha família vive disso. Só que me criei fazendo isso. É muito judiado, mas é o que gosto. Precisamos de auxílio do governo”, conta


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