De Norte a Sul, moradores temem grandes volumes de chuva em Porto Alegre

De Norte a Sul, moradores temem grandes volumes de chuva em Porto Alegre

Chuvas intensas em curto período têm feito o sistema pluvial da capital entrar em colapso, causando transtornos para moradores em diversos bairros

Rodrigo Thiel

Sempre que a capital registra chuvas intensas, os problemas históricos de alagamentos dão as caras em diversos bairros

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Todo dia de chuva intensa é a mesma dor de cabeça. Seja para o morador do bairro Praia de Belas, como para o morador do Humaitá, do Passo d’Areia, Rubem Berta, Restinga ou para muitos outros bairros da capital. Assim que o acumulado de precipitação atinge números consideráveis, a água começa a voltar pelo bueiro, a rua começa a ficar alagada, as casas são atingidas e milhares de pessoas ficam ilhadas. De Norte a Sul da capital, o sistema de drenagem pluvial – ou a falta de uma rede de escoamento adequada – tende a colapsar em dias com enxurradas.

O advogado Vinícius Duarte mora no edifício Pioneiro, localizado na rua Ismael Chaves Barcelos, aos fundos do Batalhão do Corpo de Bombeiros Militar do bairro Praia de Belas. Desde julho de 2023, ele também é síndico do condomínio. Ele lembra que só passou a conviver com alagamentos em 2021, mas que desde então, o problema tem se intensificado. Desde setembro, foram três destes problemas vivenciados no prédio. “O relato de outros moradores é de que esse é um problema histórico, que ocorre há pelo menos 10 anos aqui”, destacou.

A escadaria que dá acesso ao prédio fica abaixo do nível da rua. Por isso, Duarte conta que, quando ocorrem alagamentos, há a necessidade de acionar a CEEE Equatorial para desligar a energia geral dos moradores, pois o nível da água corre o risco de atingir a área dos disjuntores. “Quanto aos apartamentos, tem uma proprietária que sofre com problemas por morar no térreo. Ela já perdeu diversos móveis e teve que sair do apartamento. No imóvel dela, a água chega a 40 centímetros. Mas o grande problema é que a água retorno do bueiro da rua pelos ralos e pelo vaso sanitário”.

O grande problema, segundo ele, é a sobrecarga da tubulação pluvial. Quando o Guaíba fica cheio e chove em alta intensidade na região, o sistema da região não consegue dar vazão, voltando muita água para dentro do prédio. Para completar, a região do bairro onde o prédio está localizado possui um sistema antigo, pois a tubulação pluvial está ligada ao arroio Ipiranga. “Em 2015, o então vice-prefeito Sebastião Melo esteve aqui no prédio e abordou a possibilidade de resolução ao deslocar a tubulação para a casa de bombas da região e, de lá, para o Guaíba. Só que isso nunca foi feito”.

Na zona Norte, Adriane Soares de Almeida, proprietária de um “pet sitter” na rua Pernambuco, no Humaitá, também passou a conviver com alagamentos recorrentes nos últimos meses. Ela reside na região desde 2019, mas até o início do ano passado não havia registrado problemas com o excesso de chuva. Ela recordou que na metade de 2023 a Prefeitura realizou uma ação de limpeza dos esgotos na quadra onde mora, fator que considerou que ajudaria a resolver os problemas.

“Mas aqui a gente tem o fator do lixo. Mesmo com o DMLU tirando o lixo todos os dias, os catadores rasgam os sacos e deixam os resíduos soltos nas esquinas, entrando para dentro do esgoto. Neste domingo, por exemplo, não precisou de muita chuva para alagar a rua. Só que não tem alagado só a rua, mas a calçada também. O bueiro principal dentro da área não deu conta e simplesmente começou a jogar água de volta. Isso nunca tinha acontecido”, contou.

Sua principal preocupação é com o negócio que ela possui no local, cuidando de pets enquanto seus tutores trabalham ou viajam. Em dias de alagamentos, ela teme que o movimento diminua em função das dificuldades que as vias oferecem aos motoristas. “Eu acabei tendo um transtorno no meu negócio, tendo que carregar os cães até a esquina para devolver aos tutores. E isso me afeta, pois o cliente fica com receio de trazer o pet no dia de chuva. E também é bem insalubre ter que ficar colocando o pé na água suja”, completou.

Como sua casa fica mais alta se comparada com o nível da rua, apenas a área onde recebe os animais corre o risco de alagar. O espaço também é mais alto do que a calçada, segundo Adriane. “Para mim, o principal é o fator financeiro. Eu ainda não perdi nenhum móvel ou eletrodoméstico, mas se a água chegar na parte do pet, eu tenho máquinas caras que podem ser danificadas”, lamentou a empresária.

Já na zona Sul, o autônomo Tiago Gomes Trindade conta que é justamente a falta de uma canalização adequada de esgoto que preocupa os moradores da rua Professor Ascânio Ilo Frediani, na Restinga. “Aqui não tem um sistema de escoamento. Por isso, nosso esgoto é uma caixa na frente de casa, ligada até o valão. Quando começa a chover muito, o valão não dá conta. Então, com uma chuva torrencial de 10 minutos, já enche de água e começa a vir em direção às nossas casas”, citou.

Ele conta que quem mora mais perto do valão acaba enfrentando transtornos maiores. Além disso, em setembro de 2023, uma ponte que cruzava o valão foi levada pela enxurrada, dificultando a passagem dos moradores de um lado para o outro do valão. “Nosso maior problema aqui é que não tem esgoto. O nosso esgoto é a céu aberto. As caixas são antigas e muitas ficam superlotadas e tudo isso acaba vindo para a rua e para dentro do pátio”, reforçou.


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