Defasagem do IPE Saúde vai resultar em "precarização do atendimento", diz presidente do Simers

Defasagem do IPE Saúde vai resultar em "precarização do atendimento", diz presidente do Simers

Órgão estadual, com dívidas de R$ 250 milhões, não reajusta honorários desde 2011, mas prometeu resolução até amanhã

Felipe Faleiro

Para Marcos Rovinski, governo precisa solucionar de forma definitiva o assunto

publicidade

O presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcos Rovinski, vê com preocupação a falta de uma solução para a defasagem da tabela de honorários adotada pelo IPE Saúde, e que está sem reajustes desde 2011. Embora Rovinski reconheça que esteja havendo diálogo entre as entidades médicas e o atual presidente do órgão, Bruno Jatene, bem como os anteriores, o prazo prometido pelo governo estadual à entidade para uma decisão definitiva encerra amanhã, porém, por ora, sem qualquer sinal de que será cumprido. 

“Este assunto tem me tirado o sono. Não é o que gostaríamos. Estamos trabalhando com a possibilidade de precarização do atendimento que vai impactar toda a população”, afirma ele. Para Rovinski, é preciso resolver este impasse. “Muitos descredenciamentos ou pedidos de licença de médicos estão acontecendo. A ação dos médicos será definida em Assembleia a partir da resposta do governo. Sabemos que isto não vem de agora, mas é esta gestão estadual que precisa de fato resolver”, afirma.

Além dos valores congelados pelo órgão estadual, a dívida do IPE Saúde, que atende cerca de 1 milhão de gaúchos e tem por volta de 7 mil profissionais credenciados, ou 20% do total de médicos no RS, é de R$ 250 milhões, especialmente no pagamento de internações e procedimentos ambulatoriais. Rovinski utiliza exemplos cotidianos para abranger a questão: segundo ele, um médico recebe R$ 18 líquidos por dia para atender a um paciente internado em hospital, o que “muitas vezes, não dá conta do ticket do estacionamento do hospital”. 

“Neste valor, estão incluídas a avaliação clínica, conversa com a família, prescrição de medicamentos”, entre outros. “Já um cirurgião auxiliar recebe em torno de R$ 48 líquidos em caso de uma cirurgia de hérnia, o que não paga nem uma entrada de cinema com saco de pipocas”. Havendo ou não solução governamental até esta data, Rovinski argumenta que o Simers dará continuidade na próxima segunda-feira à Assembleia Geral Extraordinária aberta no começo de março para “deliberar quais condutas serão tomadas”.

Esta reunião é, na realidade, a continuidade de encontros descentralizados, em que o sindicato está indo a diversos municípios do interior gaúcho onde há um número significativo de profissionais médicos. Algumas destas cidades incluem Lagoa Vermelha, onde houve o primeiro, além de Santa Maria, Erechim, Vacaria e Guaporé. “Em todos eles, foi apontado um possível descredenciamento em massa ou licenciamento”, afirma o presidente do Simers. 

Entre os profissionais que já haviam desembarcado do IPE Saúde, relata Rovinski, estão médicos anestesistas e cirurgiões cardíacos, estes últimos por meio da criação de uma cooperativa. Mais recentemente, entraram em processo de descredenciamento os médicos hemodinâmicistas, que atuam em procedimentos minimamente invasivos, porém a lista só cresce. “Cirurgiões vasculares também estão fazendo reuniões, e avaliando a possibilidade de se cooperar e se descredenciar em massa do IPE. Ortopedistas entraram em contato comigo procurando saber da possibilidade”. 

Apesar do aumento no número de profissionais deixando os serviços do IPE, o presidente do Simers não estima um percentual de descredenciamentos até o momento. “É importante ressaltar que as três entidades, nós, Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs) e Conselho Regional de Medicina do Estado do RS (Cremers), estamos na mesma luta. Fizemos esta primeira assembleia com a presença das três entidades”, pontuou ele. 

“Na primeira assembleia, definimos, por exemplo, o pleito de que possamos [entidades] participar do Conselho de Administração do IPE Saúde, com sugestões para que tenhamos, enfim, ter voz ativa. Mas isto ainda não aconteceu”. Outra demanda é a adoção integral da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), cuja tabela de remunerações é adotada em algumas especialidades dentro do órgão estadual, “porém com valores absolutamente defasados”.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895