Descoberta de fóssil na região Central do RS mostra réptil com características incomuns

Descoberta de fóssil na região Central do RS mostra réptil com características incomuns

Bico raptorial e mãos grandes foram constatadas por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria

Correio do Povo

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A descoberta de um fóssil na região Central do Rio Grande do Sul traz pistas inéditas sobre a origem dos dinossauros e pterossauros. Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) encontraram fragmentos muito bem conservados do esqueleto de um réptil que habitou a Terra cerca de 230 milhões de anos atrás. De acordo com os pesquisadores, a descoberta mostra que dinossauros e pterossauros evoluíram a partir de uma amplitude de formas muito maior do que se pensava até então. O réptil descoberto apresenta uma combinação de características consideradas incomuns pelos pesquisadores, como um bico raptorial e mãos proporcionalmente grandes, munidas de garras longas e afiadas.

O pequeno réptil pesava entre 4 a 8 quilos, media aproximadamente 1 metro de comprimento, locomovia-se adotando uma postura bípede, tendo as mãos livres para manusear presas ou escalar árvores. 

O bico raptorial incomum do animal descoberto antecede àquele dos dinossauros em aproximadamente 80 milhões de anos. Em aves modernas, bicos semelhantes servem para rasgar carne ou consumir frutas duras. Associado às grandes garras em forma de foice, o bico pode ter servido para lidar com potenciais presas, e as garras podem ter ajudado o réptil a escalar árvores e a se livrar de seus predadores.

“Essa grande diversidade de características indica que a linhagem que originou os dinossauros e pterossauros passou por um primeiro grande salto de diversificação antes do estabelecimento dos répteis mais famosos da Era Mesozoica. O sucesso evolutivo dos dinossauros e pterossauros foi resultado da sobrevivência diferenciada em meio às variações da natureza e da estrutura corpórea do animal”, aponta o paleontólogo Rodrigo Temp Müller, que liderou o estudo.

Localização: São João do Polêsine 

O fóssil foi escavado no território do Geoparque Quarta Colônia, no município de São João do Polêsine, em 2022. De acordo com os cientistas, é a primeira vez que se consegue ter uma imagem tão clara de como foram essas criaturas que vieram antes dos famosos répteis voadores, sendo este o animal mais bem preservado de um precursor dos pterossauros. 

O achado foi feito pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e está descrito na edição desta quarta (16) da revista científica “Nature”.

Raptor do Vale Vêneto

A nova espécie recebeu o nome de Venetoraptor gassenae. O nome científico está carregado de significados: “Venetoraptor” é um raptor de Vale Vêneto, em referência a uma localidade turística chamada de “Vale Vêneto” no município de São João do Polêsine. Já o nome “gassenae” faz uma homenagem a Valserina Maria Bulegon Gassen, uma das principais responsáveis pela criação do CAPPA/UFSM.

A criatura viveu por volta de 230 milhões de anos atrás e pertence a um grupo extinto chamado de Lagerpetidae, parentes mais próximos dos pterossauros, répteis voadores que dividiram a Terra com os dinossauros há 165 milhões de anos.

Fragmentos serão exibidos ao público

A descoberta de um novo fóssil no país demonstra uma extraordinária diversidade de organismos desconhecidos que ainda está escondida nas rochas ao redor do mundo. Os fragmentos ósseos do Venetoraptor gassenae estão perfeitamente preservados e ficarão em exibição no Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia/UFSM, no município de São João do Polêsine (RS).


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